Cultura & Lazer Titulo
Sganzerla em foco
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
08/06/2010 | 07:00
Compartilhar notícia


Sempre são dúbias as maneiras para descrever o cineasta marginal Rogério Sganzerla (1946-2004). É fino e popular, construtor de uma linguagem por meio da desconstrução de todas as outras. O fato, mesmo, é que o criador de filmes como "O Bandido da Luz Vermelha", "Mulher de Todos" e o "Signo do Caos" sempre atraiu multidões e a minoria intelectual ao cinema.

Detalhes desse duplo sucesso podem ser vistos a partir de amanhã, na abertura de "Ocupação Rogério Sganzerla", no Itaú Cultural.

"Rogério realizou a utopia de Oswald de Andrade, de criar o biscoito fino para as massas. Ao mesmo tempo em que citava Godard em seus filmes, eles eram exibidos no Cine Marabá. Ele incorpora na sétima arte a fotonovela, os quadrinhos, a chamada baixa cultura", conta Joel Pizzini, cineasta e curador da mostra.

Exibição de filmes, debates e exposição de objetos que permearam a vida e a carreira do cineasta ocuparão o espaço.

Duas preciosidades - o material bruto do filme "O Anjo Mijou Fora do Baralho" e 40 minutos de sobras das filmagens de "Carnaval na Lama" - serão exibidas. "Carnaval na Lama" foi levado para um festival na França e sumiu. Os negativos que temos aqui no País estão todos estragados e aquela era a única cópia. Ainda hoje estamos numa batalha para recuperá-la", conta.

Três grandes referências de Sganzerla estarão presentes na exposição: Noel Rosa, em curta-metragem; Jimi Hendrix, em guitarras manuseadas pelos visitantes, que evocam cenas da filmografia dele; e Orson Welles, por quem o cineasta tinha grande admiração, em filmes e debates.

A luz, o caos e o abismo. São três definições que o curador encontrou para separar a mostra. "Ele é um cineasta de risco, sempre no abismo, fazendo a luz atravessar", diz Pizzini, que considera o final de "O Bandido da Luz Vermelha" - que acaba com o áudio da frase: "Sozinho a gente não vale nada", sucedida pela réplica: "E daí" - o melhor exemplo para explicá-lo.

"Ele se coloca em dúvida. Seu cinema é feito na identificação dos polos opostos, não há hierarquia de valores. Sua ética é construída através da incorporação de várias linguagens, mas buscando conexões entre elas, amplificando sentidos e não só as reproduzindo", completa.

LUZ NAS TREVAS - A aguardada nova versão da saga de João Acácio Pereira da Costa, o Bandido da Luz Vermelha, que ganhou a pecha de anti-herói nacional após o lançamento de filme homônimo ao seu apelido, chega aos cinemas provalmente em outubro.

"Luz nas Trevas", com roteiro de Sganzerla e direção de Helena Ignez (musa e viúva do cineasta), trará Ney Matogrosso no papel do vilão.

"É um prolongamento do original, uma comédia penitenciária, como ele mesmo a classificava. Tem ironia para falar sobre a violência, mas sem espetacularização. É o oriente e o ocidente em forma, cheios de lirismo."

Sobre a lição deixada por Sganzerla, ainda não assimilada completamente pela nova geração de cineastas, Pizzini lança mão de uma ideia do diretor Júlio Bressani: "Ele diz que o Rogério tem o modelo de cinema industrial para o Brasil, o requinte, mas com canal de comunicabilidade com a plateia, incorporando manifestações populares e personagens do grande público".

Ocupação Rogério Sganzerla - Exposição. No Itaú Cultural - Avenida Paulista, 149, São Paulo. Tel.: 2168-1777. Ter. a 6ª, das 9h às 20h; sáb, dom. e feriado, das 11h às 20h. Grátis. Até 18 de julho.

Destaques

Dia 9, às 18h, exibição de "Documentário" e "A Mulher de Todos" seguida de debate com Helena Ignez, Joel Pizzini, Júlio Bressane e Roberto Turigliatto. Dia 10, às 17h30, exibição de "B2" e "Sem Essa, Aranha" seguida de debate com Antonio Urano, Helena Ignez, Hermani Heffner e Maria Gladys. Dia 13, às 15h, exibição de "Noel por Noel" e "Tudo É Brasil". Às 17h, exibição de "Olho por Olho" e "Belair". Às 20h, exibição de "Irani" e "O Signo do Caos". Dia 16, às 17h, exibição de "Helena Zero", "A Reinvenção da Rua" e "Perigo Negro". Dia 17, às 17h, exibição de "Um Sorriso", "Por Favor: O Mundo Gráfico de Goeldi" e "Horror Palace Hotel - O Gênio Total", "Bom Jesus da Lapa - O Salvador dos Humildes" e "O Pedestre". Dia 18, às 16h, exibição de "Linguagem de Orson Welles" e "Nem Tudo É Verdade". Às 18h, exibição de "It's All True - Based On an Unfinished Film by Orson Welles" seguida de debate com Bill Krohn, Catherine Benamou, Ismail Xavier e Samuel Paiva. Dia 19, às 15h, exibição de "A Vermelha Luz do Bandido" e "O Bandido da Luz Vermelha". Às 17h, exibição de "A Cidade do Salvador" (Petróleo Jorrou na Bahia) e "Sem Essa, Aranha". (confira a programação completa em www.itaucultural.org.br)




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;