Automobilismo é sinônimo de adrenalina e concentração para os pilotos debaixo do capacete e em frente ao volante, mas mexe muito com o humor das pessoas que ficam do pit wall realizando todo um trabalho de retaguarda para que o resultado esperado seja alcançado. Quando os minutos até a largada diminuem, os sorrisos dão lugar a semblantes mais sérios, expressões de preocupação e poucas palavras. Aliás, só as necessárias. Principalmente quando a corrida começa. A partir daí, apenas o restrito sai da boca das equipes e diretamente para os pilotos. E foi justamente a partir das orientações de Júnior Azeredo, o Bolha, que o são-bernardense Fernando Fortes venceu neste domingo a etapa de Campo Grande da Mercedes-Benz Challenge na categoria CLA AMG.

“O Bolha fica no rádio comigo, faz a leitura externa da prova, tem experiência de pista, macaco velho. Ele me dá posição, parâmetro para montar. É esporte coletivo. Mecânicos, esses caras que gerenciam a corrida e eu. Então, todo esse conjunto faz isso acontecer”, afirmou Fortes, que havia vencido na categoria pela última vez em 2014 e buscava o primeiro triunfo nesta temporada. “Estava demorando (a vitória), fazia tempo. O último que foi para o Grande ABC foi no ano passado”, emendou.

O dono da voz que fica no ouvido do vencedor de ontem, entretanto, tem função que vai muito além disso. Dono de experiência de 25 anos com automobilismo, o gaúcho Bolha explicou a função. “Sou conselheiro e organizador na equipe. Cuido dos sets de pneus, tento ajudar o chefe a interpretar as solicitações dos pilotos para que o carro melhore e quando larga a corrida, minha função é interagir com o piloto. Ao contrário do que possa parecer, o cara que fica no rádio não diz só ‘vai para frente, vamos ganhar, vai para cima’. Tento ser o cara moderado. Hoje (domingo), em conversa com o Fortes durante a prova, decidimos tentar passar o primeiro (colocado) no pit, nas voltas rápidas que daria. A gente tem uma visão ampla, diferenciada da do piloto e fica controlando”, afirmou.

E a tática deu certo. Fortes superou Cristian Mohr ao retardar a parada, administrou a liderança e venceu. “Foi uma vitória construída Quando entraram (para o box), comecei a fazer voltas de classificação e isso me garantiu mais segundos na frente quando fiz o meu pit obrigatório. Quando faltavam cinco minutos e estava seis segundos à frente, passei a administrar e foi trazer para casa”, celebrou.

Se a vitória ficou com Fortes – décimo na classificação, com 37 pontos –, quem teve muito a comemorar foi o xará Fernando Júnior, que largou em nono, chegou em segundo e abriu vantagem para Adriano Rabelo na liderança da CLA – 97 a 82. “Fizemos corrida consciente para não bater e conseguimos chegar nessa posição que foi boa para o campeonato”, afirmou.

Já na C250 quem venceu foi Peter Michel Gottshalk. A dupla Luiz Sena Júnior e Cleiton Campos foi segunda e segue no topo da classificação, com 91 pontos.

Vencedor começou tarde, mas ganhou muitos elogios

É muito comum no automobilismo nos depararmos com pilotos que iniciaram a carreira cedo no kart. O são-bernardense Fernando Fortes, no entanto, vai na contramão disso. Ele começou aos 30 anos, em 2003. “Era sonho de moleque, mas meu pai não tinha condições”, explicou. Porém, depois que iniciou, passou por diversas categorias, como Copa Montana, Brasileiro de Turismo, Copa Petrobras de Marcas e Porsche GT Cup, até chegar à Mercedes-Benz Challenge.

“O Fortes é um cara muito fácil de trabalhar, porque tem uma coisa que admiro: todos os pilotos sempre têm habilidade, mas ele tem lado cerebral, como eu. Digo que ‘algo’ é sempre melhor do que ‘nada’ e a gente se entrosou bem. Ele entende o barato do carro, o set, como cuidar, é piloto de chegada e nos demos muito bem”, elogiou o coach Bolha. DB