Grupo de deputados federais, liderados por Ivan Valente (Psol-SP) e William Dib (PSDB), iniciou coletas de assinaturas para emplacar uma emenda constitucional para extinguir a votação secreta em processos de cassação. A movimentação ganhou força depois que o Congresso absolveu a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada em vídeo recebendo dinheiro do Mensalão do DEM.

O objetivo da frente parlamentar suprapartidária é conquistar pelo menos 342 deputados para colocarem a proposta em votação com chances reais de ser aprovada. O bloco garante que arrecadou mais de 160 adesões até quarta-feira.

O projeto, porém, deverá encontrar forte resistência na Casa. Dos 513 deputados, 451 compareceram à votação que julgou a cassação de Jaqueline Roriz. Foram 265 votos contrários à quebra de mandato da parlamentar, 166 favoráveis e 20 abstenções.

"Se você for falar com todos os deputados, eles vão garantir que votaram pela cassação da Jaqueline. Só que o voto secreto encoberta o verdadeiro posicionamento do deputado", avalia Dib, que está em seu primeiro ano na Câmara Federal.

Ciente da dificuldade de uma proposta desse porte avançar na Casa, Dib afirma que uma das intenções da frente parlamentar é mostrar quem são os deputados favoráveis ao voto secreto. Segundo o tucano, o grupo pretende que a avaliação da mudança do sistema de votação interno seja feita abertamente. "O povo vai poder saber quem quis o voto secreto e parar de julgar injustamente todos os deputados."

O ex-prefeito de São Bernardo revela que o estopim para o início do movimento foi o fato de muitos parlamentares desrespeitarem orientações partidárias. "Todos os partidos disseram para seus representantes votarem a favor da cassação da Jaqueline. E a votação nem foi apertada, foi um massacre a favor dela", comentou.

A votação que livrou Jaqueline Roriz da perda do mandato aconteceu no dia 30 de agosto. Filha do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, Jaqueline aparece em vídeo da Operação Caixa de Pandora, que desmantelou esquema de desvio de recursos públicos para financiar campanha de deputados distritais aliados do governo, denominado Mensalão do DEM. A investigação derrubou o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda.

Em sua defesa, Jaqueline admitiu que o dinheiro era de propina, mas alegou que o caso foi datado de 2006, época em que não era deputada federal, e, por isso, não poderia se julgada pelo Congresso. O Conselho de Ética da Câmara recomendou a cassação da deputada pro 11 votos a três.