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Nem sempre a favor
e nem sempre contra

O medo de perder os amigos e de não ser mais querido
pelos demais assusta e o faz seguir a preferência alheia

Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
20/02/2011 | 07:09
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Tem gente que sempre faz o que os colegas querem, principalmente se há um mandão no grupo. Fica com vontade danada de sugerir brincadeiras diferentes, mas não consegue e aceita tudo. O medo de perder os amigos e de não ser mais querido pelos demais assusta e o faz seguir a preferência dos outros.

A maioria já teve pelo menos um dia de ‘Maria vai com as outras'. Já ouviu essa expressão popular? "Confesso que, às vezes, sou mandona, mas em outras aceito e faço o mesmo que as minhas amigas", diz Penélope Barbosa Rampazo, 9 anos, do Colégio Singular de Santo André.

A menina, aliás, aprendeu a lição de que nem sempre é legal acompanhar as travessuras dos colegas. Na realidade, isso pode ser bem perigoso dependendo da ideia. Certo dia, uma garota do seu prédio sugeriu fazer uma visitinha à casa das máquinas (onde ficam os equipamentos de comando do elevador). Penélope e mais uma menina a seguiram, mesmo com o alerta de outras crianças. Resultado? "Sentia que algo daria errado. Ela apertou um botão, e cortou toda energia do prédio. Fiquei de castigo por um mês. Nunca mais fui lá."

EQUILÍBRIO - Otávio Decanini Silva, 9, afirma que sabe a hora certa de aceitar os pedidos dos amigos e também o de insistir para que eles façam o que ele deseja. "Se ninguém me escuta, vou brincar de outra coisa mesmo se for sozinho", conta.

Giovanna Ribeiro Mingues, 10, encontrou ótima solução quando sua turma tem dúvidas na hora da diversão. "A gente faz votação para ver qual brincadeira ganha. Cada um dá sua opinião, mas tem de ser o que a maioria gosta. Assim, não dá muita briga."

Quem atende somente a vontade dos outros - e nunca dá sua opinião ou diz o que deseja - vai ficando triste com o tempo. Alguns percebem a dificuldade do colega em dizer ‘não' e se aproveitam disso. Há até gente que levou a culpa por traquinagem que não fez. Você já deve ter ouvido casos assim.

Os especialistas dizem que a gente não pode concordar com o amigo só porque tem medo de perder sua amizade. Amigo de verdade escuta e deseja o bem do outro. Basta só um pouquinho de coragem para mudar.

Tem de aprender a fazer escolhas

É na infância que a gente aprende a fazer escolhas. Começa de modo simples: ao decidir o brinquedo que quer ganhar, por exemplo, ou a roupa que vai vestir. Nessa fase, também desenvolve-se a habilidade de convencer as outras pessoas e treina-se a dizer ‘não'. É preciso saber usar essa palavrinha de vez em quando.

Tudo isso é importante e ajuda a formar a opinião própria, necessária para avaliar e descobrir se concorda ou não com algo e se uma informação é mentira ou verdade. Funciona também como exercício para a vida adulta. Ao crescer, é preciso tomar decisões a todo momento e saber o que deve ser feito.

Só não vale exagerar. Ninguém pode dizer ‘não' o tempo todo nem ‘sim' sempre. Algumas vezes, a gente ganha, outras, perde. Pode não ser legal, mas é preciso passar pelas duas experiências. Nada de brigar para fazer os amigos concordarem com você. A melhor alternativa para resolver qualquer tipo de problema é sempre a conversa.

Mas, atenção: se depois de algum tempo notar que os colegas nunca atendem seus pedidos não tenha receio de procurar outra forma de diversão ou buscar novas amizades.

É preciso ouvir os amigo

Quem conhece pessoas mandonas sabe como é difícil conviver com elas. Em geral, essa turma briga para que todos façam o que deseja e fica nervosa se não consegue atingir esse objetivo. Por isso, é comum que os amigos se afastem. Depois de um tempo, pode até não ter mais ninguém com quem brincar.

Leonardo Finoti Filho, 10 anos, não curte nem um pouco os mandões. "Quem só quer fazer o que deseja é chato. Prefiro nem ficar perto."

Se você gosta de mandar sempre nas brincadeiras faça uma forcinha para escutar a opinião dos colegas e respeitá-las. E não é nada complicado nem dói aceitar as sugestões dos outros. Quando isso acontece todo mundo fica feliz.

Antes de torcer o nariz para o que é diferente, tente conhecer. Além de importante, pode ser a oportunidade de experimentar coisas novas e legais. A dica vale para todos.

Há quem nunca concorde

Sabe aquele amigo que não concorda com nada e parece sempre fazer o contrário de todo mundo? É o famoso ‘do contra'. Diferentemente do mandão, não obriga ninguém a segui-lo. Muitas vezes, prefere até brincar sozinho.

Como no caso da ‘Maria vai com as outras' e do mandão, não é bacana exagerar. Querer se divertir sem a companhia de ninguém de vez em quando não tem problema. No entanto, a convivência com pessoas da mesma idade é muito importante; todas as relações com os colegas durante a infância o preparam melhor para enfrentar a vida adulta.

O ‘do contra' também costuma ter opinião forte sobre os assuntos e não concordar com os amigos. Só precisa lembrar que mudar de ideia é supernormal. E ainda bem que isso acontece; é sinal de que aprende-se coisas novas.

Maria vai com as outras

Em Maria Vai com as Outras (Sylvia Orthof, Editora Ática, 32 págs., R$ 23), a ovelhinha Maria não tomava decisões e sempre seguia as outras do grupo. Se elas escolhiam ir para um lugar muito frio ou pular de um penhasco, lá também estava ela. Até o dia em que Maria cansou de fazer apenas o que as colegas queriam. De repente, a ovelha escolheu seguir o próprio caminho.

 




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