Cultura & Lazer Titulo Educação
Lula e a cultura
25/07/2009 | 07:00
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Frequentemente criticado por não demonstrar publicamente pendores para a área cultural, o presidente Lula abriu o flanco na quinta-feira à noite, em São Paulo, dissertando de forma inédita sobre o tema. Foi durante o lançamento do projeto de lei do Vale Cultura. Revelou uma visão de fora para dentro, da periferia para o centro, e com perspicácia incomum.

O presidente começou admitindo uma grande frustração de sua gestão, a de não ter conseguido construir centenas de casas de cultura na periferia das grandes cidades, projeto que começou a ser engendrado no início do primeiro governo, com projeto do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé.

Para ilustrar a frustração, Lula contou uma longa história de um homem que levou uma mola de caminhão ao ferreiro para que usasse aquele aço para lhe fazer uma espada. O ferreiro levou o aço à bigorna, mas esquentou demais o material e o aço encolheu. Disse que só daria então para fazer um facão. Mas o problema se repetiu, o aço encolheu. "Dá para fazer um punhal, ele disse ao sujeito." Novo superaquecimento, e o ferreiro chamou o homem. "Agora só dá para fazer um tchó", disse. O homem deu de ombros, disse que tudo bem. "O ferreiro meteu o restinho de aço na água e a água fez ‘Tchóóóóóóó!' Possivelmente, o tchó seria a minha casa de cultura."

As Casas de Cultura evoluíram para os chamados Pontos de Cultura, hoje milhares pelo País todo. Mas Lula parecia preferir o primeiro projeto, e revelou que o seu sonho era que tivessem salas de cinema no interior e até bares. "No bar da periferia, não tem mesa, o sujeito fica no balcão bebendo, e vocês sabem que é ali que começam muitos dos problemas da violência", afirmou.

MÁ DISTRIBUIÇÃO - Embora salientasse que não era uma cobrança, chamou às falas o ministro da Cultura, Juca Ferreira, para que consiga achar uma solução para o problema da "distribuição de tão má qualidade" do cinema brasileiro. "Imaginar que um cidadão vai pegar ônibus lá na periferia, ficar duas horas no transporte, é porque não conhece o conforto que é ver filme na TV."

O presidente abordou longamente o problema do cinema nacional. "Eu confesso a vocês que não sei o que fazer." Falou da saudade das grandes salas de cinema de sua adolescência, como o "cinemascope" do Cine Comodoro, na Avenida São João, e o Cine Anchieta, em São Bernardo. "Nas 10 salas do shopping juntas não cabe o que cabia naqueles cinemas."

Pela primeira vez, propôs que o novo programa habitacional do governo, Minha Casa, Minha Vida, quando integrarem conjuntos habitacionais de cerca de 10 mil casas, obriguem as empreiteiras a construírem pequenas salas de cinema nos condomínios.

Lula falou sem papas na língua. Segundo o presidente, empresas que produzem "aqueles livros pesados pra disgrama", livros cheios de fotografias, como o Banco Itaú, se gabam de serem altruístas. "Aquilo não tem um centavo do lucro do Itaú", afirmou. "Nós estamos tranquilos, porque do dinheiro que usamos em 2008, a maior parte era contrapartida do banco. Usamos R$ 29 milhões com a Lei Rouanet e R$ 8 milhões sem a lei. E ainda assim, daqueles R$ 29 milhões, um terço é contrapartida do banco", disse Eduardo Saron, superintendente do Instituto Itaú Cultural.

JUCA FICA - Lula alfinetou também o mercado editorial nacional - deu isenção fiscal às editoras, mas o preço do livro não caiu. Prometeu que o ministro Juca Ferreira não será candidato a deputado, vai ficar até o fim da gestão. Ferreira chorou ao iniciar o seu discurso, dizendo que o Vale Cultura é parte de um esforço para fazer com que os brasileiros tenham instrumentos "que satisfaçam suas demandas afetivas e suas fantasias humanas".

O prefeito Gilberto Kassab participou do ato, assim como o secretário de Cultura de São Paulo, João Sayad. Kassab elogiou a iniciativa e disse que vai lutar pelo mecanismo. "Todos nós, brasileiros, devemos procurar o Congresso Nacional e pressionar pela aprovação", convocou Kassab.




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