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Bairro São José

Morador de 68 anos relembra época em que sua banda de surf music abriu show do Roberto Carlos

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
17/05/2014 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 No número 290 da Rua Lourdes, uma lojinha vende produtos de limpeza e esconde um dos segredos do bairro São José, em São Caetano, quase na divisa com o Nova Gerti. Em meio a detergentes, água sanitária e sabão líquido, percebe-se logo ao entrar que ali há algo diferente de um comércio convencional. Amplificador e caixa de som ainda em construção dão a pista da paixão do dono do lugar: a música, mais precisamente a surf music. Estamos falando de José Molero, 68 anos, ou Zezinho Jordans, do The Jet Reds, banda que em 1964 abriu o primeiro show de Roberto Carlos, no Estádio Lauro Gomes, na cidade.

Antes de se apresentar ao lado da banda The Snakes na abertura do show que parou o Grande ABC, Zezinho embalava a juventude dos anos 1960 em bailes na região e também na Capital. Tocava o baixo que ele mesmo fez, em 1964, a partir de um modelo inspirado no instrumento de Paul McCartney, dos Beatles. Ele e os companheiros do grupo experimentavam o estilo musical recém-chegado ao País, vindo diretamente de seu local de nascimento, por volta de 1958: as praias de Long Beach, nos Estados Unidos.

“A surf music é a resposta dos surfistas à busca por um estilo musical que os representasse, uma trilha sonora do esporte. Começou com Dick Dale e a música Miserlou, que os atletas diziam se parecer com o barulho da onda.” O estilo é conhecido como rock instrumental e, ao lado do rockabilly, conquistou a moçada dos anos 1960. O rockabilly, inclusive, foi uma das inspirações para o nome artístico de Zezinho, já que ele era fã da banda The Jordans, que despertou nele a paixão pela música e o levou a tocar rock.

Agora, 50 anos depois, Zezinho está em plena produção de um outro contrabaixo para homenagear o primeiro feito por ele. “Vai se chamar Rick Burns. Comecei o projeto em 2013, e vai ser completo, com o instrumento, o amplificador e as caixas de som.”

Apesar de produzir instrumentos, Zezinho não se considera luthier. Nunca teve aulas, mas desde menino se interessou em montar coisas. Brinca com as ideias em sua mente por uns três meses antes de colocar no papel. Depois, pode levar anos até concluir um projeto, sem pressa.

O resultado é sempre testado – e aprovado – nas apresentações da atual banda, The Mouth Bell’s, e nos festivais de surf music realizados no Caricas Bar, na Capital, anualmente. Neste ano, a 12ª edição do evento será ‘incendiada’ pelo baixo Rick Burns (burn, em inglês, quer dizer queimar). “Também vamos nos apresentar no encontro de carros antigos que será realizado no Parque Chico Mendes, em julho.”

Zezinho garante que a música é o seu oxigênio. “Tenho minha casa alugada, meu carro velho, mantenho a loja. Mas o que me dá alegria mesmo é a música.” Diariamente, ele garante ouvir pelo menos 30 minutos de surf music. E uma vez por semana mantém ensaios com a banda atual, que toca em estúdio em São Bernardo. “Todos têm o mesmo amor pelo estilo.”

Portanto, se passar ali pela Rua Porto Calvo, onde fica a residência de Zezinho, não estranhe se ouvir um rock no último volume. Vale até parar para bater um papo com um músico que já fez a cabeça de muito brotinho de São Caetano e da região.

Pesqueiro reúne população da cidade

Em meio à Estrada das Lágrimas e pertinho da Avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira, pontos de intenso movimento de veículos devido ao comércio local, o pesqueiro do Bosque do Povo chama atenção pela tranquilidade. É ali que os frequentadores, a maioria da terceira idade, fazem a ‘terapia’ semanal. A máxima ‘tá estressado, vai pescar’ é levada a sério por lá.

A dona de casa Ana Maria Furlani, 62 anos, é uma das frequentadoras mais recentes. Começou há dois meses e, toda semana, bate cartão no lugar pelo menos uma vez. “Foi a pescaria que me ajudou a deixar os remédios para a depressão de lado. Aprendi a lidar com a doença por meio da pesca e hoje estou livre dela”, diz a moradora do bairro Barcelona.

O aposentado José Scobin Filho, 68, morador do bairro Cerâmica, garante que se não tivesse começado a frequentar o pesqueiro, teria enlouquecido. “Não aguentava mais ficar em casa, estava estressado. Depois que comecei a vir aqui, consegui até emagrecer: perdi 11 quilos e recuperei a saúde.”

Quem apresentou o pesqueiro a Seo José foi o amigo Lúcio Huerta, 81, nascido no município. “É muito bom ter um lugar como esse tão perto de casa.”

O administrador do pesqueiro, Wágner Ricardi Visacre, destaca que há 3.185 cadastrados. Para utilizar o espaço, destinado à pesca esportiva (o peixe deve ser devolvido para a água), é preciso levar duas fotos 3x4, além de xerox do RG, título de eleitor e comprovante de endereço. “A partir de agosto está prevista a realização de melhorias, como a instalação de 120 bancos fixos ao redor do lago, além de quiosques para reunir as famílias.” Em média 80 pessoas passam pelo local por dia, mas no fim de semana o número dobra, garante Visacre.

Costureiras atendem há quase 30 anos

A pequena sala de quatro metros de comprimento por três de largura, na esquina das ruas Eduardo Prado e Senador Flaquer, é cheia de linhas, tecidos e roupas. Ali cabem duas máquinas de costura, onde as irmãs Marilene, 63 anos, e Marta Damaceno, 54, trabalham há quase 30 anos confeccionando peças e fazendo consertos no bairro São José.

Marilene começou atuando em empresas, mas sempre com o sonho de ter a oficina própria. “Com isso na cabeça, fui ao bairro Bom Retiro (na Capital) e comprei alguns retalhos de plush. Com eles, fiz três roupinhas de bebê. Estava frio e logo as vizinhas quiseram ficar com elas. E começaram a encomendar mais.”

Atualmente as irmãs sequer dão conta de tanto serviço que recebem. “Fico concentrada na parte dos consertos, barras, pences. E minha irmã faz as roupas”, explica Marta.

Marilene, inclusive, ingressou em novo ramo: a produção de lençóis. “Compro tecidos de qualidade e faço os jogos aqui. É mais barato para quem compra e gosto do serviço”, garante.

Enchentes ainda preocupam moradores

Neste ano as chuvas não castigaram o bairro São José, conhecido pelos alagamentos do Ribeirão dos Meninos em diversos verões. Mesmo assim, moradores deixam as comportas nos portões e ficam atentos aos sinais de tempestade.

Há 70 anos no bairro, o aposentado Diogo Padilha Perez, 81, chegou a enfrentar água na altura do peito para salvar os móveis. A vizinha Noêmia Machado Fernandes, 61, tem certeza que, quando as chuvas voltarem, o problema virá novamente. “Nada fazem pelos moradores daqui.”

O DAE (Departamento de Água e Esgoto) afirma ter realizado diversos serviços para evitar enchentes, como limpeza do piscinão, manutenção de estações elevatórias e limpeza de bocas de lobo e galerias. Além disso, irá elaborar Plano Municipal de Drenagem e Manejo das Água Pluviais Urbanas, que prevê ações para os próximos 20 anos.




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