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Fraga traça cenário otimista da economia
Por Do Diário do Grande ABC
11/02/2000 | 09:19
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O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, traçou um cenário positivo da economia brasileira na manha desta sexta-feira, em entrevista ao programa "Bom Dia Brasil", da TV Globo. Ele disse que a aprovaçao, no Congresso, da Lei de Responsabilidade Fiscal, representou uma mudança qualitativa.

Fraga evitou comentar a tendência do Copom na definiçao dos juros básicos na próxima semana. Ele disse que o representante do FMI no Brasil, Lourenço Peres, deu uma "pequena derrapada" ao comentar sobre o Fundo de Combate e Erradicaçao da Pobreza que está sendo discutido no Congresso Nacional e condenou o tom emocional dado ao debate sobre a privatizaçao do Banespa.

Estes sao os principais trechos da entrevista:

Participaçao estrangeira no Banespa - "O assunto vem sendo conduzido de forma um pouco emocional. Nós temos a preocupaçao de ter um sistema financeiro saudável, bem capitalizado, justamente para poder reduzir o custo de dinheiro no Brasil, para o Brasil poder crescer. A presença estrangeira nao é uma ameaça à política monetária, nao é uma ameaça ao balanço de pagamentos. Na verdade ela traz concorrência e concorrência é saudável. O que vai beneficiar o brasileiro é a concorrência. O leilao precisa ser aberto, nem a favor nem contra ninguém. Quem ganhar tem que ter capital, tem que ter reputaçao, tem que ter competência. Isso é o que importa. O presidente já declarou ontem muito claramente que as regras já foram definidas. Pouquíssimos países tem regras restritivas. O mercado se equilibra naturalmente. Aqui no Brasil nós temos o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, temos três bancos brasileiros de varejo grandes e a participaçao estrangeira é essa que está aí. O mercado vai determinar, e eu creio que vai determinar bem. A posiçao brasileira nao está ameaçada, embora isso, a meu ver, nao seja também algo que nos faça perder o sono".

FMI x Pobreza - "Esse acontecimento de ontem foi, eu diria, um acidente. Evidentemente o Fundo nao tem que dar palpite no nosso gasto. Nós temos um compromisso, aliás o imposto veio antes do acordo com o Fundo, de transformar a vida fiscal do Brasil numa vida mais previsível, mais estável, mais transparente. Agora, para onde vai o dinheiro, isso é assunto nosso. Isso sempre foi assim e eu creio que o representante do Fundo deu uma pequena derrapada, mas podem ficar tranquilos. Esse assunto quem toca somos nós".

Cenário - "O cenário é bom, para mim um fator que dá maior tranqüilidade é a mudança da trajetória fiscal. Realmente nós tínhamos um problema grave que foi contornado, já de um ano e meio prá cá. A Lei de Responsabilidade Fiscal foi uma grande vitória, representa realmente uma mudança qualitativa nessa área que é muito bem vinda. O lado de balanço de pagamentos vem bem, a nossa economia é enxuta, tem pouca dívida. O quadro é bom. Eu vejo esses 4% de crescimento como sendo razoáveis para este ano e vejo mais adiante com os ganhos de produtividade, um crescimento inclusive superior aos 4% que acreditamos que teremos este ano".

Juros - "Essa é a pergunta que sempre assusta o presidente de Banco Central. O que nós fazemos sempre é olhar a trajetória da inflaçao, nao só no mês, mas olhando num horizonte de seis, 12 meses. O cenário melhora e começa a apontar na direçao que nós queremos. Eu vou ser um pouco escorregadio nessa pergunta, mas pode ter certeza que na semana que vem vamos olhar a situaçao com o maior carinho. Nós estamos, aliás, trabalhando em mais de uma frente nessa área de juros. Está claro, para quem acompanha o Brasil, que realmente para desenvolver o país nós temos que ter um custo de capital mais barato. Nao dá prá pensar que o país vai se desenvolver com um mercado financeiro atrofiado, com uma taxa de poupança baixa e com um investimento pouco bem distribuído. Prá isso precisamos ter um mercado funcionando melhor. Entao, nessa área nós começamos no ano passado um projeto, uma verdadeira campanha prá reduzir nao só o juro básico, que depende primordialmente da parte fiscal, do balanço de pagamentos que vêm bem, e que influenciam a trajetória da inflaçao, mas também do chamado custo bancário, que a gente chama aí no jargao dos economistas de spread. E esse trabalho começou em outubro e aponta prá um resultado muito promissor. Os juros na ponta já começam a cair e o crédito começa a ressurgir, que é algo que nós nao tínhamos há alguns anos. Nós estamos trabalhando nao só no juro básico, mas também no juro que afeta o consumidor, o empresário, enfim aqueles que produzem".

Salário - "Salário mínimo é uma questao sempre delicada um debate político muito até compreensível, porque todos nós queremos melhorar o padrao de vida da nossa populaçao. Eu tenho uma visao menos voluntarista, nao quero opinar sobre números, o presidente vai decidir mais adiante. O que nós temos que fazer é continuar investindo na educaçao, continuar construindo as bases para a nossa economia crescer. Isso é que vai gerar o bem-estar, vai aumentar o salário da nossa populaçao. As outras implicaçoes do salário mínimo sao importantes. Tem implicaçoes fiscais e nao deixa de ter impacto também no emprego, etc. A questao é complexa. Eu creio que o presidente tomará a decisao correta na hora certa. O que é mais importante, na minha leitura, é que é uma ilusao achar que nós vamos conseguir melhorar o padrao de vida do brasileiro por decreto. O que nós temos que fazer é continuar com a economia nos trilhos, ela está começando a apontar a direçao que nós queremos. As grandes restriçoes ao crescimento, todos os problemas que nós tivemos nas décadas de 80, 90, ligados às várias transiçoes políticas e econômicas que nós vivemos estao sendo superados. Hoje eu vejo o Brasil realmente em condiçoes de crescer. O que nós precisamos é de competiçao, poupança, investimento e inovaçao. Isso é que vai aumentar o salário.




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