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Preço alto do café incomoda
consumidor e impacta comércio

Produto teve alta de até 65% no período de 12 meses; quem vende não consegue repassar aumento aos clientes

Por Beatriz Mirelle
Especial para o Diário
27/02/2022 | 01:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Os adeptos do consumo diário do cafezinho e donos de cafeterias sentiram no bolso as altas no preço do produto. O café puro, aquele servido em padarias, bares e restaurantes, teve acréscimo de 6,67% em janeiro. Os empreendedores observam alta de até 65% nos grãos torrados e comentam que, mesmo neste cenário, não podem repassar boa parte do valor aos clientes, sob risco de vê-los fugir. Apesar dos índices, existem os que não abrem mão da bebida. 

Para a barista e jornalista Beatriz Vaccari, 23 anos, de São Bernardo, ficar sem café não é uma opção. “Acabou virando um vício. Bebo de manhã e depois do almoço todos os dias. Algumas vezes também no fim da tarde. Senão, eu fico com enxaqueca. Já fiz até alimentação detox, sem consumo de café, e sofri muito no início.”

No Brasil, o café moído, aquele das prateleiras de supermercados, teve acréscimo de 56,87% no acumulado de 12 meses, até janeiro de 2022. Em fevereiro, a alta foi de 2,71%, de acordo com o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), indicador de inflação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Beatriz ressalta que o café tradicional, vendido nos supermercados, possui uma nota mais baixa na classificação de qualidade da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café). “Existem variáveis que podem afetar a avaliação. Eles podem estar queimados, talvez o grão tenha caído cedo demais ou passado do tempo ideal de colheita. Ou seja, perdem em comparação a outras opções.” Com isso, as cafeterias já encontram preços mais altos ao comprarem grãos especiais, mas os aumentos expressivos nos últimos meses dificultam ainda mais a manutenção do empreendimento.

Os irmãos Cauan e Mariana Jolt inauguraram uma cafeteria em São Bernardo, em 2019. Em menos de um ano, eles enfrentaram a pandemia e o disparo nos valores do principal insumo. Desde o começo, eles compram o café arábica, de Minas Gerais, com fornecedores no Grande ABC. Esse tipo é conhecido por produzir bebidas mais requintadas. “Um quilo custava R$ 35 antes da crise. Hoje, pagamos R$ 58 na mesma quantidade. Foi um aumento de 65%. Nesse cenário, optamos por fazer os pedidos ao fornecedor apenas conforme a demanda dos clientes”, explica Cauan Jolt.

Em julho de 2021, as safras de café foram impactadas pela seca em algumas regiões do Brasil e geadas em Minas Gerais. Agora,o intenso regime de chuvas em todo o País não foi determinante para essas altas em específico. “Normalmente, os valores no mercado varejista chamam atenção no inverno, porque as pessoas tendem a consumir mais a bebida. A surpresa é essa alta no verão. Um dos motivos são os acúmulos dos últimos meses”, explica o engenheiro agrônomo Fábio Vezzá De Benedetto.

Além disso, o café é uma commodity, ou seja, é produzido em larga escala e com demanda global. Por isso, Vezzá afirma que os valores desse produto sofrem impactos diretos da variação cambial, ainda mais com a alta do dólar. Dessa forma, o enfraquecimento do real e preços cotados internacionalmente fazem com que os produtores nacionais gastem mais em todo o processo produtivo.

Roger Beilstrein, proprietário de uma cafeteria em Mauá, também utiliza a espécie arábica de Minas Gerais. Ele procura não repassar os aumentos ao consumidor, como ocorre na Capital, onde um cafezinho custa cerca de R$ 7. A justificativa é que a população do Grande ABC ainda tem o costume de optar pelas padarias. “É uma questão cultural da região. Os moradores não estão habituados a comprarem em cafeterias com a mesma frequência que em outros lugares de São Paulo apesar das diferenças no sabor da bebida”, afirma.

Em 2018, ano de abertura do estabelecimento, um quilo do produto custava R$ 29 e ele vendia o expresso por R$ 4,50. Agora, paga R$ 58 e cobra R$ 5,50. 

As opções para os empreendedores economizarem vão desde criar bebidas mais suaves até investir em tecnologia. “Compramos uma máquina automática que calcula com precisão os gramas de café. Com outros métodos de preparo, conseguimos diminuir a quantidade de grãos sem perder a qualidade”, diz Beilstrein.

Já Cauan e Mariana apostaram na criatividade. “Quando fechamos as portas, fizemos uma vitrine on-line para que as pessoas pudessem nos conhecer pelas redes sociais”, relembra Cauan. Tendo a internet como aliada, eles abusam da estética dos produtos para chamar atenção. “Postamos cafés visualmente diferenciados. Pensamos na apresentação como complemento do sabor. Fazemos vídeos e promoções. São maneiras que encontramos para atrair mais clientes”, conclui.




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