Política Titulo Entrevista
‘Considero não estar na cadeira no dia 1º de janeiro’, diz Auricchio

Em entrevista exclusiva, Auricchio também fala sobre a Covid-19 e a preocupação com aumento no número de casos

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
15/12/2020 | 00:01
Compartilhar notícia
DGABC


José Auricchio Júnior (PSDB) retornou ontem, oficialmente, à condição de prefeito de São Caetano após semanas de luta contra a Covid-19, sendo parte desse período entubado em uma UTI. Em meio à batalha para vencer o novo coronavírus, viu o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) rejeitar pedido para reverter o indeferimento de sua candidatura à reeleição. O cenário faz com que o tucano, que no voto foi reeleito para o quarto mandato, admita que, no dia 1º de janeiro, há possibilidade real de ele não estar na cadeira de chefe do Executivo. Em entrevista exclusiva ao Diário, Auricchio fala sobre a instabilidade política na cidade, o processo de eleição para presidência da Câmara – que, indiretamente, será a de prefeito interino – e a tese de seus advogados em busca de mudar a situação jurídica. “A oposição precisa lembrar todo o dia, e não é jurídico, é matemático: eles perderam a eleição na urna”, disparou. O tucano também fala sobre a Covid, a respeito de como desdenhou, no início, a força do vírus e de sua preocupação com o aumento do número de casos. “Importante que se diga que não estamos em segunda onda, estamos em reaceleração. Vamos ampliar a base de vacinados na comparação com o plano nacional de imunização. São Caetano vai ao mercado comprar vacinas.”

Qual lição a Covid-19 lhe trouxe?
Essa é doença extremamente traiçoeira e grave. Passei o ano de 2020 tentando prevenir, ter melhores atitudes e ações perante a população de São Caetano, acho que fizemos a contento. Quando fui acometido, achei que teria evolução satisfatória, até por não ter nenhuma comorbidade. O vírus foi de agressividade e de velocidade que me levaram para essa forma complicada da doença. De uma forma até fria, digo que beirei à morte. Traz apreensão grande e uma reflexão maior ainda.

Fisicamente, o que o senhor ainda sente?
Graças a Deus não tenho sequelas graves. Mas tenho fadiga. Tive complicação cutânea pós-viral que só nesta semana começou a melhorar. Importuna muito, coça. Tive distúrbio do equilíbrio, que já estou retomando, perdi oito quilos, tive dificuldade de concentração de leitura que começou a melhorar. Você fica cansado. O David Uip (infectologista e que chefiou a equipe médica que cuidou do prefeito) usou termo interessante, que o vírus torna a pessoa preguiçosa. Você quer ficar sentado ou deitado. Não vê a hora de ir para casa e deitar no sofá, ficar quieto, é fadiga mesmo. Ontem escutei um amigo dizendo que na hora que tiver, vai contrair, passar e seguir em frente. Inconscientemente todos nós, sem quadros graves de comorbidade, pensamos isso. É pegar, ficar em casa uma semaninha, tomar tylenol, azitromicina e resolver. Não é assim. É uma loteria, como bem diz o David Uip. Em 48 horas do diagnóstico eu estava internado e em mais 48 horas eu estava entubado. A agressividade e velocidade são grandes. As pessoas que se cuidem. A faixa etária de óbitos está diminuindo. Não mata apenas o idoso. Continua coisa perversa de não despedir. É muito triste.

O senhor voltou à Prefeitura depois do período de internação e recuperação. Quais medidas vai determinar para equipe a partir do recrudescimento de casos?
Importante que se diga que não estamos em segunda onda, estamos em reaceleração. Fruto das campanhas eleitorais, que naturalmente expuseram mais as pessoas. Houve sequência de feriados prolongados. Também teve a flexibilização econômica, que trouxe falsa interpretação ao cidadão que a epidemia tivesse acabado. Ninguém está satisfeito de estar recluso em casa por quase um ano. O sentimento das pessoas é de intolerância, elas querem ir para rua, encontrar amigos e parentes. Traz enorme preocupação neste momento de festas de fim de ano. Sabemos que o sentimento das famílias é de reunir, matar saudade, de rever. É uma falsa sensação de amor porque vai expor as pessoas que você gosta. Amanhã (hoje) teremos reunião. Mas há diretrizes que vou dar. Vamos ampliar a base de vacinados na comparação com o plano nacional de imunização. São Caetano vai ao mercado. Vamos primeiramente tentar estabelecer um convênio com o Instituto Butantan, para ter a Coronavac, mas sabemos que não será fácil porque há série de entes federativos procurando. Tem carimbo da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)? Vamos tentar ir ao mercado adquirir. Assim fizemos na época da vacina da gripe, em 1998, e eu era diretor da Saúde do (ex-prefeito Luiz Olinto) Tortorello, fomos o primeiro município a fazer vacinação em massa.

O senhor venceu a eleição do dia 15 de novembro no voto, mas há empecilhos jurídicos que devem se arrastar para depois da posse. O que os seus advogados falam a respeito da decisão jurídica?
Primeiramente, quero agradecer à população. É a primeira vez na história da cidade que alguém ganha quatro eleições para prefeito. É motivo de muito orgulho. Houve campanha sórdida na reta final, sem respeito humano pela doença, permeada por fake news que a Justiça Eleitoral vai tratar de forma oportuna. Quero agradecer aos 160 mil moradores da cidade, não só os que votaram na gente. Vamos fazer mandato absolutamente exemplar. Do ponto de vista jurídico, tenho recurso especial eleitoral de um processo, que diziam que eu não acabaria o mandato, o da captação e ou gastos de forma irregular. Tenho recurso especial admitido com efeito suspensivo que só duas autoridades podem nos dar ou podem tirar. O presidente da corte paulista (do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, no caso, Waldir Nuevo Campos) ou o ministro relator do TSE (Tribunal Superior Eleitoral, quando o caso for para Brasília). O Nuevo Campos acolheu o nosso pedido na sua plenitude. O que é plenitude? Pedimos a manutenção da cadeira, a elegibilidade, os meus direitos políticos e a aceitação técnica do recurso para que pudéssemos ser julgados pelo TSE, e ele reconheceu da semelhança ao caso do (Cristófaro) Camilo (vereador da Capital cujo caso é correlato). Pedimos isso tecnicamente, ninguém inventou tese. Presidente deu despacho de livro acadêmico. Não fui requerer ao TSE uma medida cautelar que eu pudesse disputas as eleições porque tinha efeito suspensivo do presidente do TRE.

Surpreendeu a decisão dos seis juízes?
Muito. Ali o presidente da corte foi contrariado. Mas respeito a decisão. Quando não se concorda você recorre. Para ir ao TSE, é preciso embargar, até para esclarecer alguns pontos. Não estamos inventando fórmula nenhuma. O que ficou incompreendido foi o entendimento do TRE-SP naquela segunda-feira. Vamos respeitar e recorrer às instâncias superiores. Eu seria insano de pedir registro sem a cobertura de um recurso suspensivo. Aí eu teria de ir para o TSE, como outros foram.

O fato de horas depois a mesma corte ter acolhido os argumentos de seu vice, Beto Vidoski (PSDB), fez com que a surpresa fosse ainda maior?
O recurso para o Beto foi mais do que justo. Mas mostrou mais uma incongruência do caso. O Camilo Cristófaro resolveu no TSE. O Beto, no TRE-SP. Será que só eu sou o culpado nisso tudo? A ação que produz culpa é a criminal, penal, está em primeira instância, não andou, está citando as pessoas ainda.

Em meio a recursos, o tempo para reverter e assumir o mandato no dia 1º de janeiro se esvai. O senhor considera não estar na cadeira de prefeito neste dia?
Considero sim. Considero porque os embargos não estão pautados (para análise dos juízes do TRE), mas não dará mais tempo de ingressar no TSE (antes do recesso judiciário, a partir do dia 19). Não podemos esquecer que trabalhamos em cronograma com 45 dias de atraso. Porque certamente já teríamos o julgamento do TSE.

O senhor vai desistir de exercer o próximo mandato?
De forma nenhuma. Vão ter de dar muita trombada na gente para pensar em desistência. Tenho visto falar em forma recorrente de novas eleições. Isso é medida de exceção da exceção da Justiça Eleitoral. E querem me tirar o direito defesa? Querem suprimir meu direito de recorrer a uma instância para onde nem cheguei, o TSE? Tem detalhe que a oposição precisa lembrar todo o dia, e não é jurídico, é matemático: eles perderam a eleição na urna. Aliás, o candidato derrotado (Fabio Palacio, PSD) vem de terceira eleição que perde para a gente, pode pedir música no Fantástico.

Diante do quadro, a eleição para a mesa diretora vira um pleito indireto para prefeito. Como o senhor tem conversado com os parlamentares sobre isso?
Não comecei a conversar com os vereadores sobre esse assunto específico. Sei que estão serenos, coesos, equilibrados. Esses nove, dez dias em que o Pio (Mielo, PSDB, presidente atual da Câmara) ficou porque o Beto não pôde ficar por questões profissionais ele foi bem (Pio foi prefeito interino com licenças de Auricchio e Vidoski). A cidade está bem conduzida. Os decanos da Câmara estão cientes e conscientes. Teremos de ter serenidade, equilíbrio, compreensão, capacidade de interlocução. O que preocupa é o cidadão comum. Ele está preocupado.

O senhor tem um nome predileto na disputa?
Não tenho. Sinceramente não tenho. Até porque há conjunto de nomes capazes. Mais de um. Mais de dois, até. Capazes todos são, aliás. A partir do momento em que se elege, todos são capazes. Mas acho que convergiria esse conjunto de ações, como administrar a cidade, não deixar ter ruptura, buscar equilíbrio, enfrentar o desafio da Covid, temos aí mais até do que três vereadores.

O senhor fez maioria da Câmara. Esse grupo está blindado dos assédios da oposição?
Seria utópico da nossa parte achar que não haverá debate, conflito, que não vai haver discordância. O papel da gente é construir um consenso. É no que vou me empenhar.

‘Politicamente, houve conflito na FUABC’

Como o senhor tem visto toda turbulência recente na Fundação do ABC?
Desde o primeiro dia teve turbulência, com trocas de presidente. A Adriana (Berringer Stephan, atual presidente e indicada por São Caetano) tem respaldo do conselho curador. A Fundação tem grandes desafios. O primeiro é organizacional. Houve passo importante. Sanar Mauá foi importante. Tem ajuste que precisa ser feito ainda. Conflitos internos devem ser debatidos internamente. Por isso tem conselho com uns 30 conselheiros que se reúnem mensalmente. Do ponto de vista de gestão, não vejo falhas na condução que estamos tendo com a Adriana. Como o Luiz Mario (Pereira de Souza Gomes, de São Bernardo) fez condução adequada.

O senhor vê possibilidade de alguma mantenedora deixar a FUABC?
Seria muito ruim se isso acontecesse porque é instituição cinquentenária. A Fundação foi criada pelos três municípios há 50 anos para ter faculdade de medicina. Quinze anos atrás, transformou-se em organização social de saúde. É por essa transição que estamos pagando preço. Não vou fazer julgamento de períodos anteriores, mas talvez em outros períodos houve estabilidade política, mas os resultados econômicos e operacionais foram desastrosos. Nesses quatro anos, com o Paulo Serra (PSDB, Santo André), o Orlando (Morando, PSDB, São Bernardo) e comigo, acho que a gente pode ter tido resultados políticos com algum grau de conflito, o que acho natural. Mas do ponto de vista de gestão, os resultados não têm nenhum comprometimento maior.

A Central de Convênios estava com indicação de Santo André, mas agora segue com diretor de São Caetano. O senhor defende esse cenário?
Acho que há tradição de (indicação de) Santo André, até porque a maior parte das operações de Santo André é via Central de Convênios. Está estabelecido que a diretoria da central é indicação de Santo André. Não vejo problema em manter dessa maneira e acho que o Orlando também não vê dificuldade nisso.

O senhor pensa em trocar a presidência?
A Adriana está expandindo para cidades da Capital via governo do Estado e prefeitura. Resolveu Mauá, que era um gargalo, um pepinaço. Em São Bernardo, a relação com o Geraldo Reple (secretário de Saúde) ela vai superbem. Aqui conosco nem se diga. Não vejo, sinceramente, ponto crítico para se pensar em medida mais drástica.  




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;