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Grande ABC removeu 1.077 toneladas de lixo do esgoto em 2019

Equipes realizaram 36 atendimentos para desobstrução de redes coletoras por dia; companhias cobram conscientização popular

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
03/02/2020 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


As equipes de manutenção das empresas de saneamento básico que operam no Grande ABC enfrentaram, em 2019, 36 desafios diários para desobstrução de redes de esgoto, retirando 1.077 toneladas de lixo – problema causado pelo descarte irregular de resíduos na rede por parte da população. 

Um dos maiores vilões é o óleo de cozinha. Mas também são encontrados papel higiênico, fraldas descartáveis, algodão hidrófilo, cotonete, absorventes, medicamentos, preservativos, materiais de construção e até mesmo cabelo. Estes resíduos orgânicos entupiram encanamento, causaram transtornos em residências e foram os principais responsáveis por nada menos que 13.152 atendimentos ao longo de 2019.

No ano passado, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) – que atua em Santo André, São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – realizou 7.542 desobstruções de esgoto, retirando 150 toneladas de lixo. Já a BRK Ambiental – que responde por Mauá – prestou 3.710 atendimentos, retirando 83,3 toneladas de lixo, além de 306 toneladas de areia – que não entram na contagem de resíduos, mas são recolhidas para não provocar a obstrução das tubulações. O Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental), de São Caetano, prestou 1.900 chamados, recolhendo 843,8 toneladas de materiais sólidos.

A Sabesp destacou ainda que em 2019 foram retiradas, só das grades mecanizadas, 418 toneladas de lixo da ETE ABC (Estação de Tratamento de Esgotos do Grande ABC). Os materiais são responsáveis pela obstrução de redes, causando retorno do esgoto para dentro dos imóveis e rompimento de tubulações dimensionadas para receber apenas o efluente.

Segundo explicam as próprias companhias, a rede de esgoto é um equipamento público responsável por coletar, afastar e transportar apenas o que sai de banheiros, pias e lavanderias. Essa água ‘suja’ deveria chegar até as estações de tratamento com as bactérias e dejetos que já estão previstos, no entanto, as coletoras são tomadas por resíduos orgânicos, o que dificulta os processos de tratamento.

O lixo no sistema de esgotamento pode contaminar, além de animais, rios e mar, a água que retorna à população, sobretudo quando há presença de medicamentos. Além do impacto causado pelo descarte incorreto de materiais sólidos, as dificuldades encontradas na operação das ETEs estão diretamente relacionadas à ligação irregular de águas pluviais com a rede coletora. O sistema de esgotamento de Mauá, por exemplo, foi concebido considerando o separador absoluto, ou seja, a rede deve receber apenas esgoto doméstico, e não está dimensionado para águas provenientes das chuvas.

Entre a Sabesp e a BRK, o custo aproximado para a realização das desobstruções de rede de esgoto em 2019 foi de R$ 4,88 milhões – o Saesa não informou o valor. Já o material gradeado, que é disposto e transportado para aterros sanitários, custa em torno de R$ 100 mil por companhia.

CONSCIENTIZAÇÃO

As empresas, no entanto, destacam que para minimizar os impactos é importante a população colaborar para evitar problemas na rede de esgoto. Para professora e pesquisadora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Marta Marcondes, é preciso que tenha, além da participação popular, plano municipal eficaz de saneamento básico que inclui tanto a questão de resíduos sólidos como também esgoto e abastecimento de água.

“As pessoas de cada município têm de entender as cidades como organismos vivos, que dependem de todos para que sobrevivam. É como um corpo humano, que se mal alimentado e cuidado têm problemas. Nós (população) somos as células do município e temos de agir corretamente”, disse a professora.

Descarte irregular afeta meio ambiente

O descarte indevido do esgoto afeta diretamente a qualidade da água, podendo gerar doenças para a população. Dados retirados do portal sobre saneamento do Instituto Trata Brasil mostram que só no ano de 2017 ocorreram 258.826 internações por doenças relacionadas à falta de saneamento básico no Brasil e 2.340 mortes.

Presidente executivo do Trata Brasil, Édison Carlos explica que para o meio ambiente o descarte irregular de esgoto, principalmente, pode provocar um “grave desequilíbrio”, ameaçando a vida aquática, além de contaminar a água que poderá ser utilizada para o consumo humano.

“Do ponto de vista da qualidade, quando o esgoto não tratado é lançado em ponto de captação para consumo. As tecnologias existentes podem ser suficientes para eliminar toda a impureza, além de encarecer os processos, recaindo sobre o cliente final na forma de aumento de tarifa. Não tratar os esgotos é um grande risco para a água de consumo lá na frente”, explicou Carlos.

O especialista reforça que, além disso, em caso de chuvas intensas, com alagamentos, a água transporta esse esgoto diretamente até os rios, mares e córregos, tendo por consequência a poluição dos mesmos, originando problemas ao saneamento.

Para Carlos, antes de trabalhar com a ideia do despejo do lixo na rede de esgoto, é necessário compreender que o Brasil carece de coleta de esgoto para todos. “Quase 100 milhões de pessoas não possuem este serviço. É necessário que os governos trabalhem nesta pauta urgentemente.”

“Para os casos em que as redes de esgoto estão sendo danificadas com o descarte do lixo, se faz necessário campanha com a população para evitar esta prática, uma vez que as tubulações podem ser obstruídas, causando danos físicos para as redes e trazendo transtornos para a sociedade em épocas de chuvas intensas, com possíveis alagamentos e transbordos destes esgotos”, salientou Carlos.




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