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Guilherme Leme é o estrangeiro
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
15/09/2010 | 07:02
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Divulgação


O absurdo da vida é tema de O Estrangeiro, que estreia sexta, no Teatro Eva Herz, na Capital. A montagem adaptada do romance de Albert Camus, chega aos palcos paulistanos - depois de bem-sucedida turnê pelo Brasil e temporada carioca - com Guilherme Leme de protagonista. A direção é conjunta entre Leme e Vera Holtz.

O projeto começou há dois anos, durante visita dos dois pela Dinamarca, onde um amigo em comum, Morten Kirkskov apresentou sua adaptação da obra.

"Li esse livro ainda na faculdade, e não senti nada de diferente, não estava preparado para lê-lo. Depois, peguei a adaptação e em seguida li o livro novamente. Daí é que fez ‘paft'. Senti a emoção do ser estrangeiro no mundo. Não tem quem algum dia não tenha se sentido distanciado de sua própria espécie, de em algum momento não fazer parte da turma, da cidade, do mundo em que vive", conta Leme.

A trama relata a vida de Meursault, homem que vive como se não fizesse parte do mundo, que não vê sentido em fé ou ideologia e é mais aberto aos impulsos naturais, ao contato com as sensações.

Um dia, a mãe do personagem morre e ele comete um crime, assassina um árabe. Sem nenhuma mudança em seu aspecto melancólico e alheio, Meursault é julgado e condenado. Aos poucos começa a perceber a cisão entre seu sentimento de liberdade e o absurdo da vida humana.

"Depois que conheci o absurdismo camusiano, comecei a ver como o mundo é absurdo, uma vida que é feita de acaso, que ocorre independente de você. Ela acontece com todos, mas você só se depara com ela a partir do momento em que existe, em que não age na hipocrisia", conta Leme sobre a ideia de Camus de que não há sentido esforçar-se para encontrar significado no universo pela simples razão de não existir significação na existência humana, porque a vida justifica-se por si só, naturalmente.

"Não existe maneira de você ser um homem normal sem uma dose de hipocrisia. Você não consegue viver e sentir e falar só a verdade. Ou você escamoteia seus sentimentos e tem uma relação harmoniosa com o mundo todo ou você sente mais e fala menos", opina o ator.

No palco, além de Meursault - e de todos os outros personagens que partem do imaginário do protagonista e ganham o corpo de Leme - o sol, através da iluminação, ganha vida. "Ele acaba sendo a propriedade do mundo de sensações que o Meursault vive. Como ele não consegue elaborar o emocional, ele é afetado pelos sentidos."

O texto, de um franco-argelino, que chegou às mãos de Leme e Vera adaptado por um dinamarquês - ganhando acréscimo de visão brasileira - agora chega à cidade mais estrangeira do País e para o seu protagonista, representa mais especialmente este aspecto de forasteiro que todos têm: "Tudo fecha no estrangeirismo agora. São Paulo é uma metrópole e toda grande cidade é estrangeira ao seu próprio país."

O Estrangeiro - Teatro. No Teatro Eva Herz da Livraria Cultura do Conjunto Nacional - Avenida Paulista, 2.073, São Paulo. Tel.: 3170-4059. 6ª e sáb., às 21h; dom., às 19h. Ingr.: R$ 40 (6ª) e R$ 50 (sáb. e dom.). Até 21 de novembro.




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