Política Titulo 50 anos
FUABC chega aos 50 anos com receita recorde e atuação criticada

Entidade regional terá R$ 2,2 bi em arrecadação,
mas convive com questionamentos de prefeitos

Por Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
11/12/2016 | 07:00
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Montagem/DGABC


A FUABC (Fundação do ABC) adentra 2017, ano em que completará cinco décadas de atuação, em contraste. A instituição regional prevê maior orçamento de sua história, porém, registra crescente reclamação com relação ao serviço prestado em cidades do Grande ABC, da Região Metropolitana, do Litoral e ao governo do Estado.

A entidade estima arrecadar R$ 2,2 bilhões no ano que vem. O valor é 70,54% maior do que a receita de 2013 (R$ 1,29 bilhão), início da atual legislatura de prefeitos e vereadores. Foi justamente neste período que houve expansão do atendimento da FUABC. Com exceção a Diadema, a Fundação possui contratos com todas as cidades da região. Também tem acordos em Osasco, Franco da Rocha, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Praia Grande e Guarujá. Com cerca de 23 mil servidores, segundo dados do órgão, a FUABC assumiu a gerência da Saúde em cidades que optaram por terceirizar o setor. Hoje o órgão controla diversos grandes equipamentos públicos, como os hospitais Mário Covas, em Santo André, de Clínicas, em São Bernardo, e Nardini, em Mauá.

Na contramão do crescimento financeiro, serviços prestados pela Fundação – administra equipamentos, contrata servidores e controla compras de medicamentos – têm sido mal avaliados por gestores da região e viraram dor de cabeça para os prefeitos eleitos, que temem precisar destinar recursos milionários à entidade e ver a precariedade da Saúde de seus municípios (leia mais ao lado). Pesa ainda sobre a FUABC denúncias de aparelhamento político do órgão, já que o comando da instituição é indicação livre dos prefeitos de Santo André, São Bernardo e São Caetano, cidades mantenedoras da entidade, em esquema de rodízio.

A atual chefe da Fundação é Cida Damaia, ex-secretária adjunta de Saúde do governo andreense de Carlos Grana (PT). Atual vice-presidente do órgão, Mauricio Mindrisz (PT) comandou a entidade entre 2012 e 2014, por indicação do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT). Seu sucessor foi Marco Antonio Santos Silva (PMDB, 2014-2016), nome apresentado pelo prefeito de São Caetano, Paulo Pinheiro (PMDB).

Com a chegada da crise econômica que afetou diretamente a arrecadação de Estados e municípios, novo problema surgiu: atraso no pagamento dos servidores e a consequente paralisação dos serviços prestados.

Por meio de nota, a FUABC informou que “todas as contratações e despesas da FUABC são auditadas” pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) e pelo MP (Ministério Público). A entidade também avisou que terá reunião na quarta-feira com os eleitos para debate de futuro.

Eleitos criticam órgão e dizem que vão rever convênios com a instituição

Pelo menos dois prefeitos eleitos na região criticaram publicamente os serviços prestados pela FUABC (Fundação do ABC) e já prometeram rever os contratos em vigência. Em conversas reservadas, porém, o descontentamento com os serviços prestados pelo órgão é unânime.

Desde a campanha eleitoral, o hoje prefeito eleito de Mauá, Atila Jacomussi (PSB), tem questionado os valores dos convênios com o Paço. A parceria com o município expira neste mês e, nos bastidores, cresce a pressão pelo encerramento dos contratos. Atila, contudo, nega essa possibilidade.

Na sexta-feira, durante entrevista para divulgação de parte do seu secretariado, o prefeito eleito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), aproveitou o anúncio da titular da Pasta da Saúde – a ex-prefeiturável Regina Maura (PSDB) voltará ao comando do setor – para disparar críticas à Fundação. “Hoje a rede inteira de Saúde (da cidade) não colhe um exame. Já passou do caos. Existe um desabastecimento completo. A gestão compartilhada com a fundação é assustadora. Há salários de R$ 40 mil. Qualquer um ganha R$ 10 mil na FUABC. É gente que você nem sabe onde trabalha”, disparou o tucano.

Questionada sobre as acusações e sobre a má-fase diante dos prefeitos eleitos, a Fundação do ABC se limitou a dizer que “desconhece esse tipo de situação”. “Para garantir os melhores preços de medicamentos e materiais, a Fundação do ABC adotou o Portal de Compras, que proporciona plena transparência dos processos”, diz a nota enviada pela entidade.

Aparelhamento político marca histórico recente da Fundação

Em quase 50 anos de atuação, o aparelhamento político da FUABC (Fundação do ABC) marcou o histórico recente da entidade, que nos últimos quatro anos foi gerida por figuras diretamente ligadas a prefeitos do PT no Grande ABC.

Em 2012, o Diário revelou que Adriana Helena de Almeida, filha do ex-prefeito de São Bernardo e então presidente da Fundação Criança, Mauricio Soares (ex-PT, hoje PHS), gerenciava um dos principais setores da FUABC, a Central de Convênios. Área essa que controla todos os contratos assinados pela Fundação. Na época, Mauricio integrava o governo do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT) e o então presidente da FUABC era Mauricio Mindrisz (PT), escolhido justamente por Marinho para comandar o órgão. Na ocasião, o então mandatário da entidade negou ingerência política na atuação de Adriana e alegou que era funcionária de carreira antiga da FUABC.

Outro caso envolvendo políticos do petismo e a estreita relação com o comando da FUABC foi a contratação da empresa de Klinger Luiz de Oliveira Sousa (PT), a partir de 2012, a KLL Consultoria e Avaliação Educacional Ltda, por R$ 25 mil por mês – contrato global de R$ 600 mil por dois anos – para desenvolver projeto de transição de instituto de Ensino Superior para centro universitário da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), que é mantida pela FUABC. Na época, o presidente da Fundação também era Mauricio Mindrisz, que na gestão do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT, morto em 2002) foi companheiro de secretariado de Klinger. 




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