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Prédios de antigos cinemas são descaracterizados
Isis Mastromano Correia
Do Diário do Grande ABC
28/12/2008 | 07:11
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Marina Brandão/DGABC


Os últimos cinemas de rua começaram a abandonar o cenário urbano das sete cidades há cerca de 20 anos e o que restou das primeiras salas de exibição comerciais do Grande ABC hoje passa despercebido. Camuflados por bingos, bancos, igrejas e lojas de departamento é difícil reconhecer quais são os edifícios que abrigaram os primeiros cinemas da região.

O mais antigo do Grande ABC, e também o pioneiro em Santo André, é o Cine Teatro Carlos Gomes que abriu as portas em 1912 na Rua Coronel Oliveira Lima. Depois o cinema migrou para a Rua Senador Flaquer onde permanece desativado desde 1993, mesmo após ser tombado.

Infestado de cupins e com problemas na estrutura, o espaço, abandonado há 15 anos, pode ter um final feliz. Consta nos planos do prefeito eleito de Santo André, Aidan Ravin (PTB), revitalizar e pôr o Carlos Gomes para funcionar novamente. A aparelhagem de exibição é dos anos 1990, mas especialistas garantem que o maquinário está apto a operar. A volta seria um caso único na região de reativação de um cinema de rua.

E foi graças a um dos donos do mais antigo cinema de Santo André que a sala de exibição precursora em São Caetano nasceu. Loris Balbo Santarelli, um italiano que gostava de freqüentar os cinemas do Brás, em São Paulo, teve de ceder à tamanha insistência do amigo Arthur Gianotti, dono do Carlos Gomes, para que ele também se embrenhasse na sétima arte.

O Cine Central foi inaugurado no bairro Fundação, em São Caetano, em 1921, na Rua Perrela. O Central encerrou as atividades em 1944 e 50 anos depois, foi demolido. Somente a fachada foi preservada. Depois de desativado, o cinema, abrigou os Correios e o Ministério Público.

Hoje, São Caetano, que chegou a ter 11 cinemas de rua, é a única cidade da região a não ter uma sala sequer. As duas últimas ficavam no shopping e foram fechadas em 2007.

Também pertenceu aos Santarelli a primeira sala comercial de cinema de Mauá. Pioneiros do ramo na região, eles locaram o espaço da família Milanesi que não tinha intimidade com os rolos de filme.

As intermináveis fitas do baiano Glauber Rocha e o caipira Mazzaropi, que fazia esgotar a bilheteria, foram exibidas no número 449 da Avenida Barão de Mauá. Era ali o Cine Santa Cecília, aberto em 1949 e que hoje abriga uma agência do Banco do Brasil. "Foi o primeiro grande cinema de Mauá, nos moldes dos de São Paulo", observa o funcionário do Museu Barão de Mauá, Renato Dotta.

Outro sucesso eram as fitas religiosas como Paixão, Vida e Morte de Jesus Cristo, nos anos 1950. "As pessoas iam de preto e choravam. Geralmente eram fitas mexicanas, em preto-e-branco", conta Atílio Santarelli, cinéfilo e neto de Loris Santarelli. Até mesmo Hebe Camargo deu o ar da graça no cinema mauaense junto com outros 60 artistas da Rádio Nacional, em 1954. Em 1972, o Santa Cecília falido e novamente nas mãos dos Milanesi foi vendido ao Banco do Brasil, que demoliu o prédio.




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