Desde que o PT ganhou projeção nacional na década de 1980, calcando sua atuação no movimento sindical, o setor se tornou alvo de outras legendas, como o PDT e, agora, o PSDB, que está criando a sua Secretaria Nacional de Assuntos Trabalhistas e Sindicais.

O grupo vai agregar integrantes da Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e até da CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Em São Paulo, a secretaria será comandada pelo primeiro suplente do PSDB na Assembleia Legislativa e vice-presidente nacional da Força Sindical, Antonio de Souza Ramalho. "Será desenvolvido um grande trabalho em que o Grande ABC, por ser o berço do sindicalismo, estará incluído", projeta.

Na região, os presidentes dos diretórios tucanos municipais se mostram entusiasmados com o novo núcleo. O coordenador regional do PSDB, deputado federal William Dib, se coloca à disposição. "Não faz parte do PSDB instrumentalizar as entidades sociais e sindicais, que não devem ser correia de transmissão dos partidos políticos", disse.

O presidente do diretório tucano em São Bernardo, Admir Ferro, se mostra interessado em criar um núcleo sindical, mas reconhece que a tarefa não é fácil. "Ainda não há pessoas desse meio no diretório. Isso dificulta um pouco."

O mandatário do partido em Diadema, vereador José Ramos Dourado, o Zé Dourado, é um dos entusiastas da secretaria. "Estamos criando nosso núcleo sindical. Com isso abriremos o debate e com certeza o outro lado ficará preocupado", declarou, referindo-se ao PT.

Os tucanos ainda não têm núcleo sindical consolidado em Santo André. Apesar disso, o presidente local, Ricardo Torres, enaltece a iniciativa de interlocução com as centrais sindicais. "Esse é um debate positivo que estamos abrindo com a sociedade", avalia.

O comandante tucano em São Caetano, Silvio Minciotti, também é favorável à proposta, assim como o presidente do PSDB de Ribeirão Pires, Marcos Tibério.

Para especialistas, partido projeta ampliar suas bases

No Grande ABC, o sindicalismo conduziu a papéis de destaque na política o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, e o deputado estadual e pré-candidato à Prefeitura de Santo André, Carlos Grana, todos do PT.

Ao criar núcleo voltado ao setor sindical, além de tentar combater a predominância petista, a direção estadual do PSDB busca ampliar suas bases eleitorais, avaliam especialistas ouvidos pelo Diário.

Para o cientista político e professor da UniRio (Universidade Federal do Rio de Janeiro) José Martins Júnior, o partido, porém, procura os sindicalistas tardiamente. Para ele, a busca por um segmento da sociedade com ligação com o principal adversário dos tucanos representa tentativa de sobrevivência. "A oposição está encolhendo no Brasil, por isso essa busca por ampliar o eleitorado."

Segundo a professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Jacqueline Quaresemin, os partidos atuam com bases pluripartidárias e por isso a inserção do PSDB amplia o debate. "É uma iniciativa válida. Forçará o PT a sair da zona de conforto".