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Cartas para Papai Noel emocionam
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
18/12/2004 | 14:12
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Se fosse santo católico, Papai Noel seria uma mistura de São Judas Tadeu, das causas impossíveis, e santo Expedito, das urgentes. Entidade benfeitora e bonachona, às vésperas do Natal é a figura mística mais evocada. E na era digital, quem diria, é o recordista de cartas. No Grande ABC, já recebeu 1,5 mil, e respondeu a todas. Mas talvez não dê conta de atender a todos os desejos, porque não é dono de todo o dinheiro do mundo, como muita gente pensa. Por isso, pede socorro. Os interessados em ajudar Papai Noel podem procurar agências dos Correios na região, até o dia 24, e adotar uma dessas cartinhas. Até agora, ele já conta com 250 auxiliares nas sete cidades.

Lançado em 2001 na região, o Projeto Papai Noel dos Correios recolhe toda a correspondência enviada ao velho da Lapônia e coloca à disposição nas agências centrais, para que sejam lidas. Antes, eram incineradas. Mais do que atrair curiosos, o objetivo é atender o pedido de crianças carentes, que, como todas as outras, crêem na magia natalina. "Quem quiser ajudar basta escolher uma cartinha, anotar o pedido e o endereço dela. Depois, é só levar o presente até a casa do adotado", explica a coordenadora do projeto na Regional Grande ABC, Eunice Aparecida de Jesus.

Os desejos são muitos. Violino, bicicleta, comida, caminhão, computador, tanquinho de lavar roupa, vídeo-game, dentadura. Geralmente, as adotadas são aquelas cujos pedidos são comoventes por trazerem desejos muito simples, mas que o dinheiro das famílias dos remetentes não pode comprar. Difícil optar por uma delas. A funcionária da agência central dos Correios de Santo André, Maria Helena Bernardo, já leu a maioria das cartas que esperam pela adoção. "Às vezes me arrependo de ler. Tem histórias muito tristes ali", conta.

A maioria é enviada por crianças. Que, apesar das dificuldades, sempre têm sacadas ingênuas e tão sinceras que, além de emocionar, também causam risos nos leitores. Lucas, de 10 anos, pede uma bicicleta e um vídeo-game, numa carta colorida. "Meu pai e minha mãe não têm dinheiro para comprar presente. Fico triste, mas nem tanto. Parava de chorar se ganhasse uma montanha de chocolate." A menina Taís, 9, escreve só para dizer "oi". E no final, revela: "Se o senhor puder, Papai Noel, eu só queria conhecer a Giselle Bündchen pessoalmente."

Quanto mais detalhes sobre o presente, mais fácil de o Papai Noel acertar. Carolina, 4 anos, quer uma "boneca que anda". "Mas se não encontrar pode ser uma que não faz nada mesmo", escreve. Henrique, da mesma idade, pede um caminhão com "bastante carrinho dentro". E exige: "dentro do caminhão tem que ter um hominho dirigindo". Adriana, 10, pede por ela e pelos irmãos. Nas despedidas, deixa claro que, se não houver dinheiro para comprar os presentes, que pelo menos Papai Noel mande uma resposta. "Quero ver a letra do senhor".

Gente grande também dá detalhes. A dona de casa Eugênia quer que o Papai Noel pague as contas atrasadas de água, luz e telefone. E também diz que precisa de um galão de tinta clara para pintar a sala, "para a casa estar bonita no dia 24, quando o menino Jesus nascer".

Há casos em que o brinquedo tem de esperar. Rodrigo, 8 anos, pede comida para o irmãozinho que, segundo a carta, sofre de desnutrição. Mas não pode ser comida que estraga, porque a família não tem geladeira. Quer também um inalador porque sofre de bronquite.

Tem ainda quem escreva só para desabafar. Márcia, de 20 anos, mandou carta extensa ao Papai Noel, contando a vida difícil que leva com a três filhas. "Só de o senhor ler meu desabafo, já é grande coisa. Não se esqueça dessa menina-mulher, que precisa do senhor."




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