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Baeta tem baterista de sertanejo

Cláudio Aparecido Moro iniciou a trajetória em uma banda da escola no tradicional bairro de São Bernardo e hoje atua com o cantor Leonardo

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
22/08/2015 | 07:00
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Foi no bairro Baeta Neves, em São Bernardo, que o baterista Cláudio Aparecido Moro, mais conhecido como Cláudio Baeta, 52 anos, iniciou os primeiros passos na área musical, ainda na infância. A caminhada que trilhou desde então o levou a integrar a banda de um dos grandes ícones da música sertaneja: o cantor Leonardo. Baeta atua com o artista desde 1991, auge da dupla Leandro e Leonardo.

Aos 5 anos de idade, o músico cursava a pré-escola ao lado da EE Dr. Baeta Neves. De lá, ouvia os ensaios da banda da instituição de ensino, que eram feitos em uma sala de lata. “Eu sempre levava bronca da professora, porque tinha as atividades e eu ficava grudado na sala de lata ouvindo a banda ensaiar”, lembra.

Aos 7 anos, no primeiro dia de aula, o maestro da banda fez um convite aos alunos: que aqueles que quisessem participar da bandinha da escola, que se inscrevessem na secretaria. “Fui o primeiro a deixar o meu nome. Foi aí que comecei minha vida na música.”

Aos 10 anos, surgiu o interesse pela bateria. Dois anos depois, já tinha um grupo de música instrumental. “Esse grupo se destacou por ter uma molecada de 12 anos tocando música bem elaborada”, conta. O som feito pelos garotos era de nível tão elevado que em em 1978 eles participaram do Festival Internacional de Jazz, em São Paulo.

O baterista integrou diversos grupos. “Fiz bailes com uma banda de Santo André, chamada Fruto da Terra, na qual fiquei 12 anos. Foi a grande escola, pois no baile tem que tocar todos os estilos. Logo que entrei nela, já estava na Banda Metalurgia, que era só música instrumental, e conciliava os dois”, recorda.

Em 1991, Baeta iniciou shows com uma banda chamada 440 e foi visto por um empresário que atuava com artistas famosos. “Ele ligou dizendo que tinha gostado muito do meu trabalho e me convidou para ir trabalhar com o Fábio Jr. Me deram garantia (de estabilidade) e fui”, comenta. “Mas, na época, o Fábio teve alguns problemas pessoais e parou de fazer show. Aí, o empresário disse que tinha uma dupla sertaneja que estava estourando e que ia me levar para lá. Era Leandro e Leonardo e lá se vão 25 anos”, completa.

Baeta passa a maior parte do tempo na estrada, mas continua conciliando o trabalho com projetos paralelos. Em março, lançou um CD instrumental chamado Origem Now e, no dia 27 de setembro, tocará bateria no Rock in Rio, na apresentação da banda Capela, do filho mais velho, Caio, 27. Os outros dois também se enveredaram para a música: Júlia, 23, é produtora e Túlio, 22, tem um grupo de samba.

Baeta ainda tem um estúdio renomado, no qual foi mixado o primeiro CD ao vivo da cantora Paula Fernandes e onde a dupla Victor & Leo gravou grandes sucessos, como a música Amigo Apaixonado e Fada. No próximo mês, quem estará por lá será o cantor Agnaldo Rayol.

Iniciando a carreira nas tradicionais bandas de escola, Baeta lamenta que agora elas façam parte do passado. “Vim de uma família humilde, que não tinha condição de pagar uma escola de música e tive a chance de poder ser músico. Tem muito talento por aí, mas hoje, muitas pessoas não estão tendo essa oportunidade.”

Jovem constrói guitarras em ateliê, no fundo de sua casa

Ao caminhar pelas ruas, é comum ouvir em alguma residência o acorde potente de uma guitarra, sendo tocada por morador que esteja ensaiando. Mas no bairro Baeta Neves, ouve-se também o som da produção do instrumento. O designer industrial e luthier Ricardo Kenji Vargas Kuwabara, 28 anos, transformou uma sacada no fundo do quintal de sua casa em ateliê, onde constrói o equipamento símbolo do rock'n'roll.

Kuwabara sempre gostou de tocar guitarra. Um dos irmãos, Fernando, 33, fez um curso de lutheria (arte de construir instrumentos) e começou ali a surgir um interesse pela atividade. “Meu irmão me ensinou a fazer coisas básicas, como regulagem. Às vezes, a gente pegava serviço do pessoal do bairro, mas nada próximo de fazer construção”, conta.

Em 2009, recém-formado na faculdade de Design Industrial, o rapaz ganhou uma bolsa de estudos por um ano no Japão, para estudar na província de Niigata, onde o pai nasceu. “Chegando lá, não tinha nada próximo do que eu queria estudar na área de Design. Meu professor mexia muito com marcenaria. Tinham madeiras e uma oficina legais, então, pensei: vou fazer uma guitarra, que era o que sempre quis.”

Após pesquisas na internet sobre as medidas e padrões, elaborou o projeto e quatro meses depois fez uma réplica de uma guitarra de marca americana, “que hoje deve custar entre R$ 15 mil e R$ 20 mil”, fala.

De volta ao Brasil, ficou por um ano sem emprego, trabalhou com o sogro em agência de design de embalagem e conseguiu vaga em uma empresa na Capital. “Mas a carga de trabalho estava pesada, enfrentava muito trânsito todo dia e não era bem o que eu queria fazer. Então, pedi as contas.”

A partir daí, em 2013, dedicou-se como luthier. Todo o trabalho artesanal da produção de guitarras é feito com ajuda dos formões que pertenceram ao avô paterno, já falecido. Os modelos custam a partir de R$ 5.000.

O guitarrista Léo, da banda Tihuana, é uma das pessoas que já adquiriram o instrumento feito por Kuwabara, assim como o integrante de um grupo da Noruega. “Não consigo nem chamar de trabalho, pois, para mim, é terapêutico”, frisa. A arte do morador pode ser mais bem conhecida no site www.rkuwabaraguitars.com.


Bairro tem associação orquidófila


A beleza das orquídeas encantou o aposentado José de Carvalho Lanes, 74 anos, a ponto de, mais do que cultivá-las, o fazer criar a Associação Orquidófila de São Bernardo, fundada em 8 de setembro de 1977.

Lanes nasceu na cidade de Jerônimo Monteiro, no Espírito Santo, Estado conhecido como o maior celeiro de orquídeas. “Lá tem mais variedade por causa das montanhas”, fala ele, dizendo que sempre teve simpatia pelas flores. “Minha mãe adorava rosas, dálias e outras espécies mais. Vi em uma revista a foto de uma orquídea e, a partir daí, me interessei por ela.”

O aposentado chegou ao bairro Baeta Neves em 1946, onde anos depois conheceu um vizinho que cultivava esse tipo de flor. Com ele, aprendeu técnicas de plantio e resolveu reunir um grupo de amigos para fundar a associação. “Em muitas cidades há organizações nesse sentido e quis implantar aqui também.”

Hoje, a associação tem 40 sócios, que pagam R$ 20 por mês para aprender como cultivar belas orquídeas. Em todo o mundo, existem mais de 30 mil espécies catalogadas. Somente na América Latina é possível selecionar cerca de 350 tipos diferentes. “Tenho de 300 a 350 espécies, são 1.650 vasos”, orgulha-se ele, mostrando as preciosidades no orquidário montado aos fundos de sua casa.

Com a crise hídrica, regar as plantas tem sido um desafio. “Estamos guardando a água utilizada no banho e da máquina de lavar para dar água a elas. Se ficarem 15 dias sem rega, não aguentam”, ressalta.

Ele destaca ainda que um bom cultivo começa já na escolha do vaso. “Os de barro são melhores, pois tiram com mais eficiência a água em excesso”, explica.

Antes de se dedicar exclusivamente às orquídeas, Lanes atuou como sapateiro por 58 anos. “Durante todo esse tempo, ficava sentado em uma banqueta trabalhando sem férias. Hoje, se eu não tivesse essas plantas, ficaria doido. Isso é uma calmaria, não tem nada melhor”, conclui.

Hoje (das 9h às 20h) e amanhã (das 9h às 17h), algumas orquídeas de Lanes poderão ser vistas e compradas em exposição que acontece no Espaço Cajuv, na Avenida Redenção, 271, no Centro de São Bernardo. A entrada é gratuita e haverá curso de cultivo, também grátis, às 14h. 




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