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Bajular e seduzir: é só começar
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
25/02/2001 | 17:24
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Bajular é como canja de galinha: mal não faz. Esta é a conclusão do livro Você é o Máximo! – A História do Puxa-Saquismo (Campus, 280 págs., R$ 35), do jornalista Richard Stengel, ex-editor senior da revista Time, um levantamento sério e bem-humorado da bajulação.

Stengel usa muito o termo bajular associado à sedução. Bajular e seduzir, segundo o sociólogo Edward E. Jones, são gêmeos intercambiáveis. A diferença está nos objetivos: na sedução é estabelecer uma atração; na bajulação é garantir uma vantagem. Em psicologia social, segundo Stengel, o comportamento humano é ambíguo e não é um indicador dos estados íntimos.

Se sedução e bajulação estão lado a lado, a bajulação romântica é a reprodução do amor cortês dos trovadores medievais e o cinema seu veículo nos dias de hoje. Titanic é um exemplo. O trágico romance entre um pobre (Leonardo Di Caprio) e uma aristocrata (Kate Winslet), no qual ele se sacrifica para salvá-la, é a “suprema bajulação romântica”.

Há bajuladores desde quando o primeiro chefe tribal se sentia adulado, prática comum entre os chimpanzés, que têm 98% dos nossos genes. Havia bajuladores na Grécia clássica e na Roma antiga. As pirâmides e os textos sobre os faraós são exemplos de bajulação monumental. Maquiavel dedicou um capítulo de O Príncipe a como evitar bajuladores. Depois, dedicou o livro a Lorenzo, o Magnífico, que ele gostaria de ver como governante. Dante Alighieri colocou os bajuladores no oitavo círculo do Inferno, na Divina Comédia.

Na história contemporânea, há casos em empresas e entre políticos. Bill Clinton era bajulado quando presidente dos Estados Unidos, mas sabia ouvir como se cada interlocutor fosse a pessoa mais importante do mundo. Arte de sedutor. Ele adotou também uma prática, lançada por Ronald Reagan: acenar para alguém na multidão como se fosse um conhecido.

Tanto ou mais do que Washington, segundo o livro, é Hollywood a meca da arte da bajulação. Nenhuma estrela ou astro cumprimenta com um simples “Como tem passado?”. Louvar a aparência é a regra. Um “Você está muito bem” ou “Você está ótimo” iniciam um bate-papo. Há também os mimos, como os carros de US$ 100 mil, que Steven Spielberg deu a cada ator durante uma filmagem.

Sharon Stone demonstra conhecimento da ciência e da arte da bajulação em uma entrevista para a revista Elle. Exemplo, aliás, de bajulação mútua:

Repórter – Como você se vê daqui a dez anos?

Stone – Ah, mais ou menos como você. 

No fim das contas, Stengel coloca que os benefícios de bajular superam as desvantagens: “é uma melhoria social”. O contrário disso é a falsidade estratégica manipuladora, que confere méritos inaceitáveis às pessoas. O meio-termo é o resgate do elogio, gentil leitor.




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