Ao contrário da última desapropriação feita na represa – que demoliu em julho de 2000 pelo menos cinco barracos construídos nas margens da Billings –, as reintegrações agora serão realizadas em áreas de mata fechada, de difícil acesso. De acordo com o fiscal Orácio Wagner Matheus, um dos responsáveis pela operação, a localização das construções – perto do trecho Capivari da represa – só foi possível de helicóptero.
O próximo passo do departamento será retirar os restos de madeira e de móveis deixados na beira da represa desde a última desapropriação. “Existem dificuldades para se remover de barco o que foi derrubado”, disse Matheus. Na última visita ao local, em dezembro, o Dusm – em parceria com a Polícia Florestal, ONGs e Prefeitura – não conseguiu ter acesso às ilhas porque o nível da represa estava baixo. “Há muitos troncos na região, o que dificulta o trajeto de barco.”
Durante visita aos locais das demolições, a reportagem do Diário encontrou, além de restos de madeira, sofás, vasos sanitários, fogão e geladeira deixados nas ilhas de mata primária – as mais preservadas – Bico da Comporta, Entrada Cemitério, Palmito e Anta. Uma cabana de pescadores abandonada, refúgio eventual de pescadores, na ilha Pau Torto (considerada o melhor local para pesca na represa) tinha ainda garrafas de cachaça, um cobertor e um colchão, e parecia ter sido usada há pouco tempo.
Segundo pescadores que moram em regiões próximas às áreas invadidas, a proporção de ocupações diminuiu sensivelmente nos últimos anos (veja reportagens nessa página). Famílias ou pescadores que moravam no local deixaram a represa Billings para tentar a vida em Barra Bonita. “Na época em que sobrava peixe na represa, era bom morar no mato. Agora, com o problema dos piratas, da fiscalização e com o sumiço dos peixes, ninguém se arrisca mais”, disse Luiz Trajano da Silva, 58 anos, que morou em uma ilha da represa com a família na década de 70. “Lá se vivia bem melhor do que na cidade.”
O pescador Mário Gomes Martins, 78, foi um dos moradores que tiveram de deixar há dois anos sua propriedade às margens da represa depois de viver isolado por mais de 11 anos em uma das ilhas da represa. Hoje, ele mora no Riacho Grande. O ex-ermitão Martins tinha o apoio de outros moradores locais para manter seu modo de vida, que costumavam levar alimentos para abastecer a casa do pescador. “Com a ajuda deles, precisei sair apenas nove vezes de casa.”
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