A economia brasileira encolheu 0,6% no segundo trimestre em relação ao primeiro, resultado que, somado à retração de 0,2% nos primeiros três meses do ano ante o último de 2013, configura recessão técnica. Em outras palavras, o País está em sinal de alerta. Com a diminuição do PIB (Produto Interno Bruto), a geração de riquezas totalizou R$ 1,27 trilhão ao fim de junho. Os dados foram divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o recuo da economia no período se deu pelo desapontamento dos resultados da economia internacional e problemas pontuais internos, como os efeitos da estiagem. Para ele, isso levou à redução das exportações dos produtos brasileiros. “Falta mercado e isso gera tendência de desaceleração das economias emergentes. A economia internacional não causou os impactos esperados.”

Um dos principais responsáveis pelo tombo, no entanto, é a produção industrial, que vem amargando sucessivos resultados negativos. De abril a junho, registrou queda de 2,4%, a quarta consecutiva, acumulando perdas de 5,5% nesses quatro trimestres. “Infelizmente, acreditamos que não há perspectiva de reversão desse quadro recessivo do setor num horizonte de curto prazo”, afirma Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). “Que o ano em curso será um desastre para a nossa economia, já sabemos. Queremos ter visão sobre urgência de medidas capazes de, a partir do próximo ano, alterar este cenário de queda.”

RANKING - Segundo levantamento da Austin Rating, agência de classificação de risco brasileira, quando comparado o desempenho do segundo trimestre com o mesmo período do ano passado, o Brasil (com queda de 0,9%), ocupa a 36ª posição no ranking entre todas as nações que já divulgaram o resultado do PIB para o período, ficando na frente apenas da Ucrânia (-4,7%), que está em guerra com a Rússia – este país, mesmo na atual conjuntura, cresceu 0,8% (é o 27º da lista). Estão à frente da economia brasileira nações latinas como Chile (17º lugar, com 1,9%), Peru (19º, com 1,7%) e México (20º, com 1,6%).

Isso demonstra a piora do cenário, já que nos primeiros três meses, o País tinha a 24ª posição. À época, o México estava em 25º lugar. “Neste caso, além de a recuperação econômica norte-americana ter contribuído, a estratégia de reorientar sua política econômica para reduzir a dependência dos Estados Unidos já apresenta resultados”, diz o informe econômico da Austin Rating.

De acordo com a agência, o principal motivo que tem feito o Brasil derrapar nos rankings é a gestão equivocada da política econômica. “Há profundos problemas nessa gestão, com destaque para a atabalhoada política monetária de juros relativamentente altos com inflação elevada e atividade econômica em retração. É quase um caso de miopia grave que pode resultar em cegueira econômica.” Segundo o Doing Business 2014, do Banco Mundial, o País ocupa a 116ª posição entre 189 nações.

EXPECTATIVA - Para Mantega, “de qualquer forma, estes impactos não vão se repetir no terceiro trimestre. Estados Unidos e União Europeia já estão se recuperando e a seca já foi absorvida”. O ministro admitiu que a projeção de crescimento de 1,8% do PIB para este ano será revisada. Para os analistas de mercado, conforme o boletim Focus, do Banco Central, a estimativa de expansão até segunda-feira, ou seja, antes da divulgação do resultado do segundo trimestre, era de 0,70%. (com Estadão Conteúdo)