Está uma beleza: o novo pacote de vídeos comemorativos dos 75 anos da empresa Columbia traz filmes que podem nao estar necessariamente entre os melhores produzidos e distribuídos pela empresa, mas proporcionam bons e, às vezes, até ótimos programas. As pérolas da seleçao sao Tootsie, com Dustin Hoffman, uma comédia do tempo em que o diretor Sydney Pollack era bom, e Nunca te Vi, sempre te Amei, de David Jones, mas também merecem atençao dois filmes ligados à música: Melodia Imortal, de George Sidney, e American Pop, de Ralph Bakshi.

Sidney é um daqueles pequenos grandes diretores da história de Hollywood. As do musical, realizou também um dos melhores filmes de aventuras de todos os tempos (Os Três Mosqueteiros, a versao com Gene Kelly) e até pelo drama sombrio incursionou com competência, fazendo de Kim Novak a bela Jeanne Eagles de Lágrimas de Triunfo. Kim é um assombro de tanta beleza em "Melodia Imortal", que conta a história do pianista Eddie Duchin, interpretado por Tyrone Power.

Duchin é um personagem até certo ponto típico do sonho americano: um caipira do interior que conquista Nova York com sua arte e o apoio de algumas pessoas, entre elas a socialite criada por Kim. Mas sua trajetória é permeada por tragédias, o que também faz dele um sofredor na linha de Jó. O filme nao está entre os mais expressivos de Sidney, até porque exagera nos sentimentos, mas o que ressalta é o bom-gosto musical, característico de um diretor com experiência no ramo. Nao falta nem mesmo uma versao de "Aquarela do Brasil", executada por Carmen Cavallaro (dublando Power) ao piano com orquestra.

American Pop é uma raridade, um desenho para adultos do criador de Fritz the Cat (a única animaçao X-rated da história, considerada pornográfica). Conta a história da evoluçao da música americana, do rythm and blues ao rock. Na verdade, é uma visao pop da vida americana desde o início do século, vista por meio das histórias de quatro geraçoes de uma família de músicos, misturando animaçao, cinejornais, fotos paradas, desenhos a lápis e ainda trabalhos no estilo de artistas como George Grosz, Reginald Hooper e Andy Warhol, tudo ao som de uma trilha excelente e sem o menor resquício de sentimentalismo.

Tootsie mostra Dustin Hoffman como ator desempregado que faz travesti, vestindo-se de mulher para arranjar emprego numa novela na TV. A idéia é que ele precisa liberar sua porçao feminina para aprimorar-se como ser humano, o que pode ser interessante, mas também se pode interpretar a história de outro jeito e aí fica mais discutível: como em Kramer Versus Kramer, também com Hoffman, em que ele era mais mae do que a personagem de Meryl Streep, o protagonista, aqui, consegue ser uma mulher melhor e mais madura do que qualquer uma de suas colegas de cena. Isso confere ao filme certa misoginia, mesmo que a intençao de Pollack fosse exatamente contrária.

Nunca te Vi, sempre te Amei narra um romance epistolar, sobre um homem e uma mulher, criados por Anthony Hopkins e Anne Bancroft, que nunca se vêem e ficam ligados a vida toda por meio de cartas. É um trabalho delicado do diretor David Jones. Grande sucesso nos cinemas brasileiros, o filme virou cult.