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Caratê é usado como instrumento de inclusão em Santo André

Ao menos 100 crianças e jovens de áreas carentes
são ajudados pelo projeto que existe há 20 anos

Por Natália Fernandjes
30/07/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Se o japonês Gichin Funakoshi (1868-1957) estivesse vivo, certamente estaria orgulhoso das conquistas associadas ao caratê fora de Okinawa, no Japão, onde ele começou a disseminar a arte nos anos 1920. Quase um século depois, a essência da luta corporal, que prega elementos como disciplina, respeito e concentração, é usada como instrumento de inclusão para auxiliar crianças, jovens e adultos de comunidades carentes de Santo André. 

O responsável pela manutenção da tradição oriental é o sensei Almir Machado, 57 anos, sendo 44 deles dedicados ao caratê. As aulas, que começaram no quintal da casa dele, no Jardim Bom Pastor, hoje são realizadas em salão erguido nos fundos do imóvel. Apesar de humilde e não muito grande, a academia Leões do Karatê é fundamental para, em média, 100 alunos que pagam preços simbólicos (de R$ 25 a R$ 30) ou recebem os ensinamentos de graça. “Não uso a arte marcial para ganhar dinheiro, faço por amor mesmo. A gente consegue tirar essas crianças e jovens da rua e passar esses conceitos de disciplina e respeito, que são para a vida toda”, diz o funcionário público da Capital.

Aluna há cinco anos, a estudante Giovana Nunes dos Santos, 14, acredita que a luta faz dela uma pessoa melhor. “Hoje penso em progredir, fazer faculdade (sonha se tornar cirurgiã na área de cardiologia). A gente sabe que, se não ocupar a mente, acaba indo para o caminho errado. Tenho alguns amigos que se perderam”, lamenta a moradora do Jardim Stella. 

Detentora de um título mundial de caratê, conquistado no ano passado, Giovana é exemplo de superação. Ela é bolsista, já que a família não tem condições de pagar as mensalidades. Ano passado, para conseguir os R$ 1.600 necessários para arcar com as despesas da viagem a Assunção, no Paraguai (inscrição, passagem, hospedagem e alimentação), foi necessária força-tarefa envolvendo famílias e amigos. “Valeu a pena. A gente se sente mais confiante e estimulada a continuar”, destaca a tímida faixa marrom.

Outra que revela carregar os ensinamentos do sensei Almir por toda a vida é a estudante Letícia Rodrigues dos Santos, 18, moradora do Jardim Bom Pastor. Ela, que fez aulas dos 5 aos 9 anos, retomou a luta há dois anos. “Ajuda muito a ter disciplina. É um desenvolvimento físico e moral, além de fornecer condições para que eu me defenda”, revela.

Durante estes 20 anos de projeto, sensei Almir estima que, pelo menos, 500 menores tenham sido impactados pelos ensinamentos trazidos pelo caratê. “A gente fica orgulhoso em ver que, mesmo sem incentivo ou ajuda do poder público, conseguimos melhorar a vida de muita gente. Alguns até seguiram carreira nas artes marciais e se tornaram professores”, conta ele, que também disseminou a luta entre quatro dos cinco filhos (sendo o mais novo, Cadu, 12, campeão mundial) e também para a mulher. “Acredito que todo mundo precisa de três coisas para viver: família, religião e esporte.”




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