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'O último samurai' foi um capitão francês
Por da AFP
23/02/2004 | 11:11
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Soldado americano interpretado por Tom Cruise no cinema, "O último samurai" existiu de verdade: era um instrutor francês de artilharia, o capitão Jules Brunet, cuja história nada fica a dever à ficção de Hollywood.

Como Nathan Algren, o herói do filme de Edward Zwick, Brunet era um militar contratado para modernizar o exército japonês no século XIX, na época da Restauração Meiji.

Assim como Algren, Brunet combateu as novas tropas do imperador em um Japão marcado pela guerra civil e pelas mudanças de alianças. E, como ele, saiu da aventura são e salvo, depois de um sangrento combate por honra de seus irmãos de armas samurais, cuja causa estava condenada pela modernização.

E o que é ainda mais incrível, Brunet fundou uma efêmera "república autônoma" em Hakodate, último reduto dos partidários do xogum Yoshinobu Tokugawa, esmagados pelas forças imperiais.

Praticamente desconhecido, Brunet foi contudo um personagem fora do comum, brilhante egresso da escola politécnica de Paris, magnífico soldado e também talentoso aquarelista. As fotos de época o mostram alto e magro, com bigode e um olhar orgulhoso.

Antes de ser enviado ao Japão, havia participado, junto com os soldados de Maximiliano, na expedição no México que resultou desastrosa para as tropas francesas.

Promovido a capitão em 1867, com menos de 30 anos de idade, fez parte da primeira missão militar francesa no Japão. A pedido do xogum, essa missão formou sete regimentos de infantaria, um batalhão de cavalaria e quatro batalhões de artilharia. No total, 10 mil homens.

Por sua parte, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos respaldavam na época o "partido hostil aos interesses franceses", instruindo tropas do imperador Meiji, assinala o próprio Brunet. Quando, vencido, o xogum Tokugawa cedeu o poder ao imperador, no final de 1867, a missão francesa já não tinha razão de existir. Oficialmente, a França era neutra.

Entretanto, alguns membros da missão decidiram ficar com seus "alunos" para organizar a resistência do exército dos "Bakugun", os últimos samurais fiéis ao xogum. Desertor de fato, Brunet escreveu a Napoleão II que estava "decidido a morrer" e a "servir a causa francesa neste país".

Mas depois que sua frota foi dizimada por uma tempestade no final de 68, as forças do ex-xogum sofreram revés após revés.

Brunet se deslocou para Hakodate, na ilha de Ezo, com o almirante da frota, Takeaki Enomoto, e um punhado de homens. Ali, Enomoto foi eleito presidente da "República independente de Ezo", que durou seis meses e foi reconhecida, de fato, por pouquíssimo tempo, pelas potências estrangeiras.

A resistência dos samurais acabou no segundo trimestre de 1869. A infantaria imperial desembarcou em Hakodate, bombardeada por mar e terra, e venceu o último reduto rebelde. Entrincheirados na fortaleza de Vauban, os últimos 800 rebeldes vivos se renderam em 30 de junho.

Mas antes da rendição, Brunet fugiu e se refugiou em um navio francês ancorado nas costas de Hakodat. Depois de muitas peripécias, retornou à França, onde foi julgado por uma corte marcial e excluído brevemente do exército no final de 1969. Reintegrado um ano depois, continuou sua carreira militar e chegou a ser general de divisão.

"Os japoneses o conhecem, sabem que houve franceses em Hakodate e que a França apoiou o último xogum", conta Christian Polak, francês residente no Japão há trinta anos e que realizou uma longa pesquisa sobre Brunet.




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