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Grupo Época de Ouro lança segundo CD
Por João Marcos Coelho
Especial para o Diário
23/11/2002 | 16:18
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Encontros inusitados entre artistas, discos cheio de convidados díspares entre si – esse tipo de iniciativa acaba rendendo coisa inesperadamente boa, mas também uns fiascos que dão pena. O segundo CD do grupo Época de Ouro que leva o título de Café Brasil 2 – Conjunto Época de Ouro e convidados (WEA, edição simples, R$ 23; edição de luxo, R$ 29) recém-lançado aqui e no exterior, em função do enorme sucesso do primeiro no exterior, sofre este tipo de desequilíbrio.

Ainda bem que, entre 12 faixas, haja só um vexame escancarado. Lobão está ridículo cantando Chorando no Campo, fazendo um “oooooo” completamente chocho, desafinando quase o tempo todo. Incrível que ele seja um dos autores deste samba-choro. Até que letra e música não são ruins: o que dá dó mesmo é a cantoria de Lobão.

Uma ruim para 11 ótimas, em todo caso, é uma goleada do lado bom. Por isso, esqueça e pule a faixa do Lobão, e curta as demais. É maravilhoso saborear alguns dos mais talentosos chorões brasileiros em ação – e com a mesma verve e criatividade que demonstravam quando Jacob do Bandolim os liderava, décadas atrás.

Nomes como Dino 7 Cordas, Jorginho do Pandeiro, César Faria e os mais jovens Ronaldo do Bandolim e Jorge Filho, não só impõem respeito pelo modo como divulgam o choro em todas as suas nuances, mas são capazes também de admiráveis performances, como as que abrem e fecham este CD. Na primeira ponta, o célebre Canta Brasil, de Alcir Pires Vermelho e David Nasser, em leitura impecável do Época de Ouro, coadjuvado por outro grupo instrumental de responsa: Nó em Pingo D’água. No fechamento, um arranjo primoroso da música porta-bandeira da bossa nova, Desafinado, com direito a deliciosos baixos de violões.

Entre uma e outra, músicas e interpretações contagiantes. Até Elba Ramalho consegue cantar com certo jeito o samba-canção Nova Ilusão, de Claudionor Cruz e Pedro Caetano (o vibrato na voz, claro, é de doer). Zeca Pagodinho, soberano, encara o samba O Bom Jesus, assinado por duas feras do Época, Dino 7 Cordas e Jorge Rocha, em bom arranjo de Dininho, o Dino filho. E o Moska, que eu não conhecia, mas é artista contratado da EMI, canta direitinho outro samba-canção no qual Dino 7 Cordas e Augusto Mesquita puseram atrevidamente o título Insensatez (não tem nada a ver com a música de Tom Jobim, mas é igualmente excelente).

Ainda na ala do pessoal de qualidade, Ney Matogrosso rememora os anos 20 com a valsa Ana Carolina, de Jorginho do Pandeiro e Paulo César Pinheiro. Letra bonita, interpretação irretocável de Ney, acompanhado apenas de violões e o violino de Nicolas Krassik. Boa também a interpretação de Ivan Lins para o samba-canção que compôs com letra de Aldir Blanc, Cegos de Luz, em ótimo arranjo de Cristóvão Bastos.

Duas das mais belas faixas do CD ficam por conta de Beth Carvalho e Moraes Moreira. Velha amiga dos chorões do Época de Ouro, Beth comove no samba médio Aperto de Mão, de Horondino Silva (o Dino 7 Cordas), Jaime Florence e Augusto Mesquita. E Moraes ajusta-se como uma luva ao Época de Ouro, com seu violão e voz, no choro de sua autoria O Bandolim de Jacob, um tributo ao fundador do conjunto.

Entre os instrumentistas convidados, shows à parte, a começar de Bastos, notavelmente simples e eficiente ao piano elétrico em Uma Farra na Ilha, uma parceria do pianista com Jorginho do Pandeiro do Época de Ouro. Simplicidade e eficiência também marcam a participação de Sivuca ao acordeom: é incrível, mas ele parece melhor quanto mais velho fica. Confira no choro Dino Pintando o Sete, de sua autoria.




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