Cultura & Lazer Titulo
Mais da química Zeta-Jones
e Banderas em A Lenda do Zorro
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
28/10/2005 | 08:52
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Na extensa e irregular carreira de Zorro no cinema, faltava essa: o espadachim mascarado ser nomeado agente anti-terror. Não falta mais. Com o novo A Lenda do Zorro, o aventureiro combate o terrorismo, mesmo que restrito ao século XIX, seu lar contextual. O filme é seqüência de A Máscara do Zorro (1998), com a repetição da tríade principal: Antonio Banderas ata novamente ao rosto a máscara que o levou a habitar a galeria de intérpretes do personagem, como Douglas Fairbanks e Tyrone Power; a atriz Catherine Zeta-Jones, é claro, não poderia faltar; e o diretor Martin Campbell.

Passaram-se dez anos desde a história original. Alejandro de la Vega (Banderas) está casado com a intrépida e desejada Elena (Catherine). Têm um filho, Joaquin (Adrian Alonso, ator mirim bastante carismático), que não exerce um comportamento propriamente angelical. De temperamentos explosivos, marido e mulher protagonizam entreveros domésticos, boa parte causados pela insistência de Alejandro em arriscar a vida para proteger os fracos e oprimidos da Califórnia de toda forma de tirania. Em outras palavras, priorizar a estabilidade coletiva – motivo nem tão nobre neste Zorro 2. A tantas horas, o casal decide pela separação.

Nesse meio tempo, a Califórnia tenta o ingresso democrático como 31º estado dos Estados Unidos – o filme se passa em meio aos eventos da Guerra da Secessão, entre 1861 e 1865, cujo desfecho efetivaria a unificação do país. E é em defesa do desejo popular que Zorro arregaça as mangas na abertura.

Três meses se passam desde a separação de Alejandro e Elena. Ela se engraça por Armand (Rufus Sewell), um francês administra uma vinícola como fachada para organizar atentado terrorista bancado por uma confraria européia de nobres, que pode determinar a extinção dos Estados Unidos antes mesmo de o país ser oficialmente fundado.

Acredite, a histeria pós-11 de Setembro tem efeito retroativo. E quem, além de Zorro, seria mais indicado para vestir a capa de cruzador da verdade nacional? Em pelo menos duas ocasiões, os habitantes da Califórnia celebram a adesão ao território norte-americano de forma enfática. E, quando o herói descobre os planos dos vilões europeus (perceba que o líder é francês, pertencente ao país que mais criticou Bush à época da rinha iraquiana), ele sublinha que a ameaça visa a "América".

Dizer que A Lenda de Zorro autentica a atual postura unilateral dos Estados Unidos frente ao cenário político internacional parece um tanto arriscado. Campbell fez um filme moralmente estranho para o contexto do belicismo alucinógeno. Por um lado, firma-se na soberania da coletividade face às prioridades individuais – a dada hora, supõe-se que a aniquilação de um mal pode e deve justificar o divórcio de um casal. Por outro lado, desanca instâncias oficiais da sociedade, como a segurança pública (os dois agentes federais, com pinta de palermas, que dão início à ação anti-terror) e a Igreja, confrontada fisicamente pelo filho de Zorro, numa cena que anaboliza o Zéro de Conduite (1933) de Jean Vigo. Embora, em outra passagem, Zorro peça proteção divina para obter êxito. A justiça deve ser feita sem intermediários: a humana, sem a polícia; e a divina, sem sacerdotes. Um recado interessante, obtido a custo por Campbell, mas paradoxal numa obra que passa recibo para uma paranóia de dimensões nacionais.

A LENDA DO ZORRO (EUA, 2005). Dir.: Martin Campbell. Com Antonio Banderas, Catherine Zeta-Jones. Estréia nesta sexta-feira no ABC Plaza 4 e 5, Shopping ABC 3, Extra Anchieta 4 e 6, Metrópole 3, Mauá Plaza 2, 4 e 5, Central Plaza 1 e 10 e circuito. Duração: 125 minutos. Censura: 12 anos.




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