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Consumo excessivo deixa jovens como inadimplentes
Paula Cabrera
Do Diário do Grande ABC
17/05/2010 | 07:00
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A falta de planejamento financeiro fez com que 8% dos brasileiros com idade entre 15 e 21 anos entrassem no vermelho no ano passado, aponta pesquisa do Instituto de Economia Gastão Vidigal, feita para a Associação Comercial de São Paulo. O levantamento demonstra que o volume de devedores juvenis dobrou em um ano, com base em cálculos estatísticos.

Segundo a última estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), de 1996, com recorte entre 15 e 24 anos, 8% dos jovens representa, aproximadamente, 2,4 milhões de brasileiros.

O educador financeiro Antonio de Julio afirma que falta para a geração de adolescentes e jovens controle sobre os impulsos de consumo. "A pessoa fica hipnotizada pelo anúncio, compra e não tem ideia do que aquele parcelamento fará com ela no futuro. Falta também reunião financeira da família, porque os filhos não sabem como é a situação enfrentada pelos pais."

Julio diz que, com a correria do dia a dia, muitos pais sentem-se culpados pela ausência e acabam compensando isso com o que chama de "carinho de plástico", ou seja, cartão de crédito adicional. "O cartão esta no nome do pai e ele paga para não ter o nome sujo."

O presidente da ABC (Associação Brasileira do Consumidor), Marcelo Segredo, alerta que a decisão de custear os ataques consumistas dos filhos não ajuda a formação da saúde financeira do jovem, que não aprende a ter responsabilidades com seus gastos. "Eles estão totalmente no vermelho sem precisar pagar aluguel ou contas de água e luz. Com isso, temos pesquisas apontando que 46% das famílias do Estado estão totalmente endividadas", conta.

A estudante Fernanda Reinoso Correa, 17 anos, aprendeu cedo o preço do consumo. Depois de ganhar um celular pós-pago e gastar R$ 150 nas contas, perdeu o direito ao item. "Hoje tenho celular pré-pago com R$ 18 por mês e quando passo a meta, só faço ligações para a mesma operadora, porque tem promoção."

A mãe de Fernanda, a comerciante Marcia Reinoso Correa, diz que a filha também não ganha mesada. "Tem de aprender desde cedo a controlar as contas. Mas se ela sai, dou dinheiro e se quiser algo compro, se não for caro."

Para colocar fim aos problemas, o educador financeiro recomenda que todos os recibos de compras sejam guardados para que o jovem possa comparar gastos e ver onde está deixando o dinheiro do mês. "Não digo para parar de gastar, mas pequenas saídas, como comer fora, pesam. Você só saberá se analisar tudo."

Cheque especial e cartão de crédito são os vilões
Sedentos pelo consumo imediatista, os jovens encontram nos cartões de crédito e no limite do cheque especial o melhor jeito de comprar, sem peso na consciência. "Já aconteceu de precisar usar o limite do cheque especial e pagar juros. Não faço com frequência, mas três ou quatro vezes em dois anos, isso acontece. Quando ocorre algum atraso, sempre passo apertado", diz o estagiário Arthur Quezada, 21 anos.

O educador financeiro Antonio de Julio diz que o problema começa exatamente aí. "O que acontece com o banco não é correto. Eles mostram o saldo e o limite, e, embaixo, colocam ‘total disponível'. Assim, parece que o valor do limite bancário está agregado aos seus ganhos, mas não está. São 7% de juros mensais, em média, se usá-lo", orienta.

Com o limite de três cartões de crédito estourados, a vendedora Suellen Mota, 21 anos, sofre para fechar o mês com as contas em dia. "Pago o mínimo do cartão, mas sei que não ajuda, pois no outro mês o valor volta quase o mesmo." Isso ocorre porque Suellen paga na fatura apenas 15% do valor, índice equivalente aos juros cobrados pela utilização da tarjeta magnética. No seu caso, em um ano ela paga valor superior ao gasto e ainda teria mais alguns meses pela frente antes de quitar totalmente as dívidas. (veja arte acima)

"Para o banco, esse é o melhor cliente. Eles querem mais que você se endivide. Estudos norte-americanos mostram que 46% dos lucros deles vêm dos juros cobrados nesses casos", afirma o educador.

Marcelo Segredo, presidente da ABC (Associação Brasileira de Consumo), atesta que o problema maior é que os adolescentes cresceram vendo os pais consumirem tudo em prestações. "Eles acham que é normal fazer dívida em 50 vezes. Acham que os dez dias do cheque especial são bacanas. Não percebem que os juros embutidos aí são mais altos do que o normal, que é para compensar por aqueles que usam o método e pagam no prazo."

O estudante de jornalismo Renato Fernandes Eusébio, 21 anos, é um exemplo típico da geração consumo. Com salário de R$ 1.700, ele emprega R$ 460 na prestação do carro. Apesar de ter pesquisado em cerca de 30 concessionárias antes de escolher o modelo, ele não contabilizou valor para pagar o seguro do veículo. "Meu pai me ajuda em algumas contas, mas não tenho nem saído que é para economizar."




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