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Núcleo Especializado em Aprendizagem da FMABC lança
programa para achar alunos com dificuldade de aprendizado

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
03/03/2013 | 07:00
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Depois de dez anos de trabalho junto a escolas da rede municipal de Santo André, São Bernardo e São Caetano, o NEA (Núcleo Especializado em Aprendizagem) da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) partiu para novos rumos. Na sexta-feira, o centro que identifica e trata crianças com diversos tipos de distúrbios escolares, lançou o programa Colocando o Pingo no 'I' da Inclusão. O serviço pretende debater o tema com alunos a fim de evitar o bullying e a exclusão no ambiente escolar.

A iniciativa começou com 300 estudantes do colégio Piaget, de São Bernardo. Em palestra, o professor de Neurologia Infantil da FMABC e coordenador do NEA, Rubens Wajnsztejn e a psicóloga e psicopedagoga do NEA, Alessandra Caturani, chamaram atenção sobre a necessidade de compreensão dos estudantes quanto às desvantagens acadêmicas vivenciadas por alunos com deficiências como TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade), discalculia (dificuldade com contas) e dislexia (dificuldade na área da leitura, escrita e soletração). "É preciso entender também que a pessoa que usa óculos não tem vantagem sobre as outras porque ela está corrigindo uma deficiência", observa o neurologista.

O estudante com distúrbio de aprendizado pode apresentar desde queda do rendimento escolar até quadros de fobia, ansiedade, depressão e doenças psiquiátricas. O quadro é agravado pelas pressões vindas dos pais e da escola, além da exclusão dos colegas. "Dados indicam que o cérebro de um disléxico, por exemplo, apresenta cansaço 8% maior do que os das demais pessoas, por isso, a necessidade de intercalar períodos de estudo", destaca Wajnsztejn.

ACOMPANHAMENTO
A escola, embora por vezes despreparada, tem tarefa de oferecer condições para que o aluno supere obstáculos do aprendizado e acompanhe os estudantes. Exemplo básico é aplicar prova oral para aqueles que têm dificuldade na leitura e escrita ou dar mais tempo para que quem tem diagnóstico de distúrbio realize provas. As ações, no entanto, não excluem a necessidade de estudo. Pelo contrário, explica Alessandra. "Costumo dizer que o paciente com dificuldade de aprender deve se esforçar em dobro", acrescenta a psicóloga.

Diretora do Colégio Piaget há 35 anos, Valdinéia Cavalaro destaca que o debate sobre o tema é importante para que haja socialização no ambiente escolar. "Muitas vezes o aluno que não tem deficiências se sente em desvantagem por ver que o colega recebe atendimento individualizado ou acaba excluindo os estudantes com distúrbios do grupo", observa.


Familiares também são vítimas de preconceito

Crianças ansiosas e com dificuldade de concentração são, por vezes, encaradas como sem limites. Nesses casos, os pais aparecem como vilões da história e responsáveis por não conseguirem controlar os pequenos. Esse foi o caso da psicóloga Elizabeth Sanches, 45 anos. Para a família, sempre foi dela a culpa pelo considerado mau comportamento do filho Gabriel, hoje com 12 anos.

"Em situações de festa e reunião familiar ele nunca parava quieto e eu era tratada como a mãe que não dava limite", desabafa. Quando o garoto completou seis anos, já tinha o diagnóstico concluído: TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade). A partir daí, começou a tomar medicamento para controlar a ansiedade, o que culminou no preconceito, principalmente por parte do pai, que não aceitou o problema.

Mesmo assim, a medicação produziu efeitos positivos. "Gravei uma frase do meu filho que me comoveu muito. Ele me contou que, antes de começar a tomar o remédio, não tinha controle da bola no jogo de futebol e que, depois, começou até a fazer gol", revela a mãe, emocionada. Passados cinco anos desde o início do tratamento, a realidade de Gabriel e da família mudou. Hoje ele se destaca entre os colegas de classe e não demonstra qualquer sintoma de hiperatividade.

CONSEQUÊNCIAS
A desestruturação familiar acaba sendo consequência do diagnóstico de distúrbio de aprendizado, segundo o coordenador do NEA (Núcleo Especializado em Aprendizagem), Rubens Wajnsztejn. "O índice de conflito e separação dos pais chega a ser alarmante". Isso porque, em muitos casos, pai, mãe e demais parentes divergem em relação ao tratamento, terapia e ensino das crianças.


Faculdade recebe cem crianças e adolescentes a cada mês

Mensalmente, cem novas crianças com idade entre 3 e 20 anos passam por avaliação no NEA (Núcleo Especializado em Aprendizagem) da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC). Além de identificação por parte dos educadores e especialistas da faculdade, é feito acompanhamento e encaminhamento dos pacientes para outros profissionais. Além de terapia, alguns casos exigem aplicação de medicação.

É preciso ainda, segundo a psicóloga Alessandra Caturani, diferenciar dificuldades de aprendizagem dos distúrbios. "A dificuldade é algo que pode ser passageiro e ocorrer após morte de um ente querido, troca de escola ou separação dos pais", exemplifica. Já os distúrbios representam transtornos que requerem atenção e métodos de ensino para que o aluno consiga aprender.

Apesar de serem frequentemente consideradas ‘doenças da moda', os problemas já foram identificados há anos, enfatiza o neurologista Rubens Wajnsztejn. O TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade) foi identificado pela primeira vez em 1884 e a dislexia em 1872. "São doenças que podem ser genéticas e sofrem influência do ambiente", comenta.




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