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Vila Sueli é reduto de paraibanos

Em Ribeirão Pires, área atraiu nordestinos que chegaram à cidade em busca de trabalho

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
13/05/2014 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Um bairro quase todo povoado por paraibanos de uma mesma família. Assim é a Vila Sueli, loteamento do bairro Bocaina, onde residem cerca de 3.000 pessoas, em Ribeirão Pires. Embora nascidos em território onde é verão praticamente o ano inteiro, centenas de pessoas deixaram a Paraíba em busca de uma vida melhor. Fizeram morada na cidade serrana – de temperaturas bem mais amenas – porém, acolhedora, como cantado no hino do município.

Seo José Afonso de Carvalho, 79 anos, foi o precursor da migração. Nascido em Sousa, no interior da Paraíba – cidade conhecida nacionalmente graças às pegadas de dinossauros encontradas em seu território –, ele chegou a São Paulo em 1956, onde logo arrumou emprego em empresa de transporte coletivo, como cobrador. “Foi fácil arrumar trabalho, pois, naquele tempo, não era difícil como é hoje”, conta.

Carvalho atuava em linha que percorria a cidade de Ribeirão Pires e foi assim que conheceu a Vila Sueli. “Estava procurando um lugar para morar e gostei do bairro, achei bem conveniente por ser próximo da estação de trem, pela facilidade de acesso para outras cidades. Em uma véspera da Sexta-feira Santa, me instalei aqui. Fui um dos primeiros moradores, havia cinco casas, não havia luz, só de lamparina, e água a gente tinha de tirar do poço”, recorda.

A oportunidade conquistada por Carvalho serviu de incentivo para que outros familiares deixassem o Estado nordestino rumo ao bairro. “Foram chegando parentes e eles ficavam na minha casa até arrumarem lugar. A grande maioria foi habitando a Vila Sueli. Tem bloco de paraibano espalhado por todo canto aqui”, disse. O número de pessoas que chegaram da Paraíba é tão grande que ele não sabe precisar. “Tem irmãos, primos, é tanta gente que veio depois de mim que nem consigo contar, é quase o bairro todo.”

“Acho que cerca de 80% da vila é habitada pela família Carvalho”, destacou Elisete Carvalho, 51, sobrinha de José Afonso.

Na cidade onde a garoa se faz sempre presente, o paraibano teve de se adaptar à mudança brusca de temperatura com que estava acostumado. “Aqui o pessoal andava de galocha, guarda-chuva e capa. Na minha terra não tinha nada disso. A gente estranha, mas para seguir na batalha tem de enfrentar.”

Mais do que morada, Carvalho encontrou em Ribeirão Pires a mulher, Natalina dos Santos, 69, com quem está há cinco décadas. “Ela morava em Santo André e vinha visitar uns parentes que moravam em Ribeirão, na Vila Aparecida. Conheci quando ela desceu no ponto final do ônibus em que eu trabalhava, no Centro”, relata. Com a união, a família aumentou ainda mais: são cinco filhos, nove netos e uma bisneta.

Tendo construído a vida na Vila Sueli e com os entes queridos por perto, à Paraíba, Carvalho nunca mais voltou, nem a passeio. “A família toda está próxima, não tem nada melhor. Aqui para mim é o mesmo que estar em casa.”

Projeto oferece treino gratuito de futebol

Um campo de futebol sem nenhuma infraestrutura, localizado na Rua Orlando Schurachio, poderia ser apenas um terreno baldio, não fosse Acacio Gois Monteiro, 61 anos. Há sete anos, duas vezes por semana – às terças e quintas-feiras –, ele sai do bairro vizinho, Jardim Santa Inês, para dar treinamento de futebol, gratuitamente, para crianças e adolescentes da Vila Sueli, com idade entre 8 e 14 anos.

“Adoro futebol. Nos anos 1990 participei de vários campeonatos por um time da cidade, o São José. Acho que o esporte ajuda a tirar essa molecada da rua, que pode ser muito agradável, mas tem o lado ruim também. Já tive pessoas da família com envolvimento com drogas e sei bem o quanto é difícil.

Esse trabalho que faço visa evitar esse tipo de situação”, disse ele que, em 2010, formou-se em Educação Física para profissionalizar ainda mais sua atuação. “É uma grande satisfação apoiar esses meninos, pois, na minha época, não tive ajuda nenhuma”, contou. Hoje, 45 garotos são treinados por ele e disputam campeonatos da categoria de base.

O campo fica às margens da obra do Trecho Leste do Rodoanel e as intervenções no local atrapalharam o andamento dos treinos. “No ano passado, não pude treinar por causa das obras, agora estou retomando. Funcionários que trabalham no Rodoanel ficaram de passar uma máquina no campo, pediram para que eu retirasse as traves, tirei, mas já se passou um mês e até agora nada”, reclamou.

A SPMar, empresa que administra o Trecho Leste, informou que executará o serviço e a recolocação das traves ainda nesta semana.

Nos fins de tarde, Monteiro vende churrasquinho em um posto de gasolina próximo ao local, em uma Kombi que comprou justamente para levar seus pupilos para participarem de campeonatos.

Seu grande desejo é que alguém se interesse em investir no espaço para que o trabalho social possa ter maior abrangência. “Não tenho condições financeiras para arrumar o campo, tenho só ideias. Adoro trabalhar com os garotos, mas a falta de apoio para esse projeto desanima, porque você se dedica e não tem ninguém que esse projeto ache útil para alguma coisa”, lamentou.

A Prefeitura de Ribeirão Pires disse que trata-se de terreno particular, sendo, portanto, de responsabilidade de seu proprietário.

Tranquilo, bairro tem serviços básicos de Educação e Saúde

Apesar da proximidade com o Centro de Ribeirão Pires, os moradores da Vila Sueli não precisam se deslocar para ter acesso a serviços básicos, como Saúde e Educação.

A UBS (Unidade Básica de Saúde), localizada na Rua Antonio Zampol, 221, funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h, e atende as áreas de ginecologia, clínica geral, pediatria e odontologia, além de procedimentos como medicação, vacina, serviços de prevenção e orientação à população.

Diariamente, são realizados 120 atendimentos e procedimentos no local.

A Praça Nossa Senhora de Fátima, próxima à capela de mesmo nome, dispõe de aparelhos de ginástica, o que colabora com a qualidade de vida local.

No setor educacional, há uma escola estadual – a EE Dona Anna Lacivitta Amaral – e uma municipal, a Monteiro Lobato. Esta última, de Educação Infantil, possui 160 alunos, sendo 50 com idade entre zero e 3 anos, matriculados na creche em período integral, e 110 crianças de 4 e 5 anos, matriculadas em período parcial.

A Vila Sueli ainda conta com mercado e outros comércios dos mais variados, como o voltado para venda de roupas e material escolar, de propriedade de Dona Luciainês de Oliveira Carvalho, 59, residente na vila há quatro décadas. “O bairro é bom, tranquilo, a estrutura é boa. Por isso, precisa ser sempre bem cuidado pelos moradores e pelos governantes”, comentou.

Para ficar melhor, o aposentado José Reginaldo Santos, 63, acha que falta a instalação de alguns estabelecimentos comerciais. “Sinto a falta de padaria, farmácia e depósito de material de construção.

De resto, o bairro não é muito violento, todo mundo se conhece, é um lugar muito bom de morar”.

Bem próximo ao bairro, há ainda as obras do Trecho Leste do Rodoanel, onde, no momento, são realizados nas proximidades serviços de terraplanagem. Em 44 quilômetros de extensão, a rodovia integrará os municípios de Mauá, Ribeirão Pires, Suzano, Poá, Itaquaquecetuba e Arujá. O anel viário deve ser totalmente concluído até junho. Para a construção, 654 propriedades foram desapropriadas nas seis cidades envolvidas. A SPMar não informou dados específicos de Ribeirão Pires.

O morador José Reginaldo Santos ressalta que a empreendimento é “muito benfeito”, mas preocupa-se com os impactos que causará. “Vai poluir um pouco”, acredita.   




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