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Segurança é preso acusado de matar garoto de programa
Do Diário do Grande ABC
19/12/1999 | 16:42
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O segurança do consulado americano no Rio de Janeiro André Luiz Barbosa de Vasconcelos, 35 anos, foi preso na madrugada deste domingo, acusado de matar o garoto de programa Sebastiao da Costa Parente Filho, mais conhecido como "Dentinho", 33 anos. "Dentinho" foi morto com um tiro nas costas, a 500 metros do consulado. Segundo testemunhas, ele foi espancado por dois seguranças da empresa United International Investigative Service (UIIS), que presta serviços para o consulado, e, ao tentar fugir, foi atingido.

"Dentinho" trabalhava na Rua Graça Aranha, no centro, conhecido ponto de prostituiçao masculina, próximo ao consulado, havia cerca de três anos.

Na madrugada deste domingo, um dos clientes dele recusou-se a pagar 50 reais pelo programa e eles discutiram. Esse homem teria contado aos seguranças do consulado que havia sido vítima de assalto.

Um grupo de quatro vigilantes estava no carro da UIIS. Quando encontraram Parente, dois deles desceram do carro: Vasconcelos e Alex da Silva.

"Eles bateram nele, o braço parecia quebrado", contou o michê A.L.F., 20 anos. "Quando 'Dentinho' correu, atiraram." Três detetives da 5ª Delegacia de Polícia (Centro) passavam pelo local e ouviram os chamados de outros garotos de programa. "O rapaz ainda agonizava, quando nós chegamos", contou o detetive Alberto Nunes Araújo.

As testemunhas anotaram a placa do carro, que foi localizado no pátio do consulado americano.

Os seguranças refugiaram-se no prédio, onde a polícia brasileira é proibida de entrar. Depois de negociar com os detetives, os vigilantes aceitaram deixar o edifício e apontaram Vasconcelos como o autor do disparo. Ele foi autuado por homicídio doloso. Silva foi ouvido como testemunha. "Nao houve flagrante de agressao", justificou o delegado da 5ª DP, Wallace Capdeville Breyer.

Segundo os garotos de programa, os seguranças do consulado costumam fazer rondas próximo à sede do órgao, na Avenida Presidente Wilson.

"Eles querem 'limpar' a área, exigem documentos, querem dinheiro", contou A.L.F, que trabalha na Avenida Graça Aranha com outros 30 garotos de programa. "O que aconteceu com 'Dentinho' poderia ter acontecido comigo, de repente, nem volto mais lá."

Além de A.L.F., outros três michês depuseram. O delegado vai abrir inquérito para apurar a atuaçao dos seguranças como policiais. "Todo mundo quer ser polícia; há uma febre institucionalizada", afirmou. Eles podem ser enquadrados no crime de usurpaçao do poder público. Breyer disse que nao é de "competência" dele apurar se o consulado americano é responsável pela atitude dos vigilantes. Até a tarde deste domingo, apenas dois responsáveis pela segurança do consulado estiveram na delegacia. "Parecem pessoas sérias, que querem colaborar", disse o delegado.

A UIIS é uma multinacional com sede em 11 países. A empresa foi criada em 1969 pelo ex-fuzileiro naval da Marinha americana Willian Guidice e, em 1983, ganhou o primeiro contrato com o governo dos Estados Unidos. A UIIS faz a segurança nos consulados americanos no Brasil, segundo um funcionário. Nenhum responsável da empresa ou do consulado foi encontrado para comentar o caso.




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