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Drama grego traz uma história bem temperada
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
18/03/2005 | 12:16
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Em grego – e em português também – a palavra astronomia está contida em gastronomia. Isso diz respeito ao filme O Tempero da Vida (estréia só em São Paulo), simpático drama grego dirigido e escrito por Tassos Boulmetis. Pimenta, picante e ardida, vai bem em todas as comidas e representa o Sol; canela, doce e ardente como toda mulher, representa Vênus, ou Afrodite; sal, utilizado para dar mais sabor às receitas, é a Terra, pois a vida requer sempre um pouco de sal. Assim o avô do menino Fanis (Markos Osse) o ensina a respeito do sistema solar e os temperos que vende em uma loja de Istambul, na Turquia. Olhar o céu, para os gregos, é ler histórias; saborear suas receitas é entender suas lendas.

Há muito tempero em Istambul, que já foi chamada Constantinopla, cidade que pertenceu a povos distintos, entre eles os gregos. De origem grega, a família de Fanis vive na cidade sob tensão diante das hostilidades seculares que Grécia e Turquia mantêm entre si. Em 1961 vem o golpe: todos os cidadãos de origem grega são deportados após a invasão do Chipre pela Grécia. Fanis e seus pais voltam para Atenas, menos o avô, que se tornou cidadão turco. O filme começa com Fanis adulto (Georges Corraface), cozinha bem e dá aulas de astronomia, esperando seu avô e mentor para um jantar que nunca acontece.

Narrando em flashback, ele tenta demonstrar como a relação diplomática greco-turca se reflete na culinária, que incorpora histórias e lendas de seu povo nas receitas. Uma delas: a mãe e as tias de Fanis ensinam a noiva de seu tio como esconder alho e cebola na carne do jantar, porque uma esposa precisa saber esconder algumas coisas. "Nossa política e nossa cozinha é contribuição de pessoas que deixaram jantares inacabados em algum lugar", diz Fanis, pois sempre que se assentam, é hora de partir.

Ele narra suas memórias de infância e os jantares em família – como sua tia-avó curou-se do mal de Parkinson ao se assustar com a explosão de uma panela de pressão e como voltou a manifestar a doença ao segurar um liquidificador ligado. Lembra, principalmente, as idiossincrasias e os rituais de seu avô sobre os temperos que dão sabor à vida. Colocar canela em almôndegas para as pessoas se olharem nos olhos é um deles, pois "às vezes é preciso usar errado para provar um ponto de vista". É o que se pode chamar de um filme bem temperado.




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