Setecidades Titulo Referência
Escola de Mauá promove projeto de inclusão social

Na semana do retorno às aulas, os estudantes vivenciaram situações enfrentadas por pessoas com deficiência no dia a dia

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
30/07/2022 | 00:01
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


Falta de rampas para deslocamento de cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. Conteúdos impressos ou digitais que não são adaptados para cegos ou quem tem baixa visão. Exclusão social de indivíduos com algum tipo de deficiência. Essas reflexões, que buscam repensar se as ações do cotidiano são inclusivas, foram abordadas na última semana com os alunos da EE (Escola Estadual) Visconde de Mauá, localizada na Vila Bocaina. Para acolher os estudantes no retorno às aulas, a instituição promoveu o projeto Quebrando Barreiras, que estimulou o pensamento crítico sobre inclusão social e empatia com o próximo. 

Antes das atividades práticas, os alunos dos três turnos (manhã, tarde e noite) e de todas as etapas escolares (dos ensinos fundamental e médio), aprenderam sobre a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), instituída em 2015, que assegura os direitos e liberdades fundamentais deste grupo. Em sala de aula também foi proposto a escrita de uma redação sobre empatia e solidariedade, além de roda de discussão sobre barreiras atitudinais – ações ou comportamentos que impedem ou prejudiquem a participação social de algum indivíduo. 

Toda essa bagagem teórica buscou estimular o pensamento crítico nos estudantes e os preparou para as atividades que foram promovidas na sequência. Entre as principais estão: exercícios em libras, cartas em braille, futebol para cegos, apresentação com grupo de dançarinos surdos da Apasma (Associação de Pais e Amigos dos Surdos de Mauá) e experiência sensorial onde um grupo de alunos utilizou venda nos olhos e protetor de ouvido para simular a realidade de uma pessoa surda e muda, enquanto o outro grupo os guiou pela quadra. 

Uma das atividades mais aguardadas pelos jovens e pelo corpo docente durante a programação especial foi a palestra e apresentação do pintor Daniel Ferreira, 32 anos, que utiliza a boca e os pés para pintar quadros – ele não tem o braço esquerdo e possui má formação no lado direito. 

Sob olhares atentos, o artista buscou envolver a plateia com a sua trajetória de vida e destacou em seu discurso a importância da inclusão social para poder realizar atividades rotineiras. “Não sou exemplo para ninguém, mas posso ser uma lição de vida para vocês. Quando me perguntam se queria nascer com os dois braços respondo com segurança que não, porque já nasci sem os membros superiores, eles não me fazem falta”, afirmou o artista.

Com a caneta na boca, Daniel demonstrou como realiza seus desenhos e pinturas, que já rodaram o mundo em exposições. Logo em seguida convidou os alunos a tentarem desenhar como ele. Tímidos, mas animados, aos poucos surgiram diversos voluntários que queriam experimentar a prática utilizada pelo artista. “A partir do momento em que colocarem a caneta na boca não podem mais usar os braços”, explicou Daniel. Tanto os jovens que tiveram mais domínio quanto os que apresentaram maiores dificuldades, todos ficaram se perguntando como Daniel conseguia desenhar dessa maneira. 

Além da boca, Daniel Ferreira também demonstrou para o público presente como realiza a pintura com os pés. Em poucos minutos, com tinta aquarela, ele desenhou um palhaço, pintura que foi ovacionada pelos estudantes. “Não consigo fazer com as duas mãos o que ele faz.” “É impossível desenhar dessa maneira, como ele consegue?”, perguntavam os alunos enquanto aplaudiam. 

A estudante do primeiro ano, Julia Santiago de Lima, 15 anos, destacou que as atividades promovidas na escola contribuíram para sua mudança de percepção sobre uma sociedade mais inclusiva. 

“Adorei participar e estudar um pouco mais sobre o assunto. Hoje, com certeza, posso dizer que vou olhar mais atentamente para minhas ações para que elas sejam mais inclusivas”, finalizou a jovem. 

O professor e coordenador de gestão pedagógica da escola Visconde de Mauá, André Sapanos de Carvalho, ressaltou que a iniciativa ocorreu por conta de reunião realizada com o grêmio estudantil da escola, que cobrou mais ações inclusivas para os 38 alunos com algum tipo de deficiência que estudam na unidade. 

“Estamos sempre trabalhando com a temática de direitos humanos com os nossos alunos, mas essa iniciativa em específico ocorreu após ouvir as demandas dos participantes do grêmio. O projeto buscou desmistificar a visão dos jovens sobre a capacidade das pessoas com deficiência, além de estimular a empatia e solidariedade para incluir esse grupo tanto na escola quanto na sociedade”, ressaltou o coordenador. 

Em relação à inclusão escolar, a diretora Delma Pillão Nogueira não escondeu o orgulho das medidas adotadas na instituição nos últimos anos para acolher e desenvolver os estudantes com deficiência. 

“A biblioteca e o laboratório são adaptados e localizados no andar de baixo para facilitar o acesso. Além disso, temos salas de recursos para DI (deficiência intelectual) e DA (deficiência visual). Uma turma do 9° ano tem um estudante com deficiência auditiva e ele possui uma professora que traduz simultaneamente às aulas em libras. Por conta disso, todos os estudantes desta classe utilizam a língua de sinais e conseguem se comunicar com o adolescente. Todos os alunos que convivem com os estudantes com deficiências e os métodos inclusivos para esse grupo, apresentaram mais empatia e solidariedade com o próximo”, contou a gestora.

Além dos jovens, o tema também foi trabalhado com os pais dos alunos, que receberam a cartilha Os Direitos da Criança e do Adolescente com Deficiência, enviada para a escola pela Defensoria Pública do Estado.

Tema do Desafio de Redação foi inspiração para iniciativa

A equipe pedagógica da EE (Escola Estadual) Visconde de Mauá está empolgada para a 16° edição do Desafio de Redação, maior concurso literário do Grande ABC, promovido pelo Diário e pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano). As atividades realizadas na semana de acolhimento (que marcou o regresso às aulas) trabalhou com o tema inclusão social, tanto para despertar empatia e pensamento crítico nos alunos, quanto para prepará-los para temática do Desafio de Redação. 

O tema da redação deste ano será Resgate da Cidadania se Faz com Solidariedade e Empatia. A disputa literária conta com seis categorias, que divide alunos do 6° ano até moradores com ensino superior completo, e premiará os vencedores com bolsas universitárias integrais, tablets, televisores e notebooks. Até o momento, 134 escolas e 80.598 alunos realizaram as inscrições no concurso - a escola estadual de Mauá foi uma das primeiras a se inscreverem e a unidade pretende enviar as redações manuscritas até a primeira quinzena de agosto. 

“Em 2017 vencemos como melhor torcida e também uma aluna ganhou como melhor redação em uma das categorias do concurso. Estamos muito animados que neste ano iremos vencer de novo, primeiro porque acreditamos no potencial dos nossos jovens e também porque estamos trabalhando a parte teórica e mostrando na prática o tema da redação. Os estudantes terão repertório para poder redigir os textos”, conta orgulho o professor e coordenador de gestão pedagógica da escola, André Sapanos de Carvalho. 

O prazo para a confecção das redações vai até 7 de outubro. As cinco categorias que envolvem alunos e professores só aceitarão textos redigidos em papel e as escolas podem fazer as inscrições pelo site do concurso: www.dgabc.com.br/desafio. A partir desta etapa, o Diário irá entregar e retirar as caixas com as provas nas unidades. 

Já a categoria voltada à comunidade, cujos candidatos precisam ter obrigatoriamente concluído o ensino superior, as inscrições e o envio dos textos devem ser realizados exclusivamente pelo site. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;