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Afegãs torcem pela vitória da Aliança do Norte
Por Das Agências
11/11/2001 | 16:58
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Jadiya, uma médica de 35 anos, é uma das poucas mulheres que exerce uma profissão em Ianguiqala, distrito afegão sob controle da opositora Aliança do Norte, que, segundo ela, trata as mulheres com rédea curta tanto quanto a milícia integrista dos talibãs.

"Rezo para que a Aliança do Norte tire os talibãs de Kabul, mas não se pode ser inocente e achar que, depois, tudo será maravilhoso para as mulheres, e que a condição feminina voltará a ser o que era antes da guerra", afirmou Jadiya, desanimada.

Jadiya é uma das duas únicas médicas da localidade de Ianguiqala e seu distrito do mesmo nome, que tem dois milhões de habitantes. Jadiya é casada com com Mohamad, engenheiro desempregado e que abriu uma farmácia no primeiro andar de sua casa.

Os dois adoravam passear por Kabul vestidos à Ocidental, antes da capital cair em poder dos "estudantes de teologia", em 1996. Agora, Jadiya, ex-diretora de um hospital de Kabul, anda pelas ruas de Ianguiqala com a tradicional burka, ocultando todo seu corpo e rosto, com exceção de uma abertura para os olhos.

"Como a mulher poderá gozar de melhores condições de vida neste país mergulhado na guerra há quase vinte anos?", questiona, resignada. "Em uma sociedade assim, não há lugar para as mulheres", concorda Mohamad, de 40 anos, que fez uma parte de seus estudos em Moscou e fala um russo quase perfeito.

Em sua casa de concreto, pintada de branco, uma das poucas da localidade que não é de madeira, Jadiya e Mohamad explicam a difícil situação das mulheres em termos de carências de educação da população afegã, principalmente nas zonas rurais, onde impera o analfabetismo.

"Aqui as pessoas são ignorantes e isto vai durar muito tempo, pois o Governo não compreende que deve investir em programas de educação e saúde", explica Mohamad.

As mulheres se casam quando têm 15 anos, ou seja, muito jovens, e têm em regra uma dezena de filhos, os quais cria sem condições", afirma Jadiya, que tem quatro filhos.

Em uma pequena clínica, sem equipamentos necessários, Jadiya examina meia centena de pacientes por dia. "Os mulás dos povoados proíbem que as mulheres sejam atendidas por médicos homens e, devido a isso, precisam de muitas médicas no Afeganistão", explicou.

Na zona ocupada pela Aliança do Norte, as jovens têm direito de estudar e as mulheres podem exercer, "em teoria", dois ofícios, medicina e ensino, segundo a organização humanitária Aide.

Com ajuda do Governo turco, esta organização francesa construiu na cidade de Kwaja Bahudin, de 45 mil habitantes, uma escola para meninas, para a qual foram contratadas mulheres para o ensino.

Nesse estabelecimento, Fauzia Chams, com a cabeça coberta por um véu de seda, dá aulas para uma dezena de meninas. "As mulheres têm nesta zona alguns direitos, coisa que não acontece sob o regime talibã", explica esta mulher de 30 anos.

Com o véu muitas vezes rasgados, os sapatos furdos, as mãos calejadas, as mulheres que perambulam pelas empoeiradas ruas de Ianguiqala sofrem de outra grande carência: a alimentação.




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