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Músicos estão divididos sobre referendo
Por Renan Cacioli
Do Diário do Grande ABC
15/10/2005 | 08:20
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Roqueiros, blueseiros, eruditos. Sem distinção do estilo tocado nas diversas tribos musicais do Grande ABC, o referendo sobre a proibição do comércio de armas e munição provoca desde a indecisão do maestro Flávio Florense, regente da Orquestra Sinfônica de Santo André – que a uma semana da votação ainda não conseguiu definir sua posição –, até a rebeldia do trombonista Bocato, que já cravou: não vai comparecer às urnas. No meio desse caldeirão sonoro tem até um 'racha' entre os integrantes do Sepultura.

"Eu acho que a proibição nada vai resolver. E também a propaganda está sendo feita de maneira equivocada. Não é o lance apenas de ser a favor ou contra a arma. Eu sou contra a arma, a violência, mas o direito do cidadão tem que ser mantido", dispara o guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, nascido em São Bernardo e favorável ao 'não' no referendo. "O problema não é a arma, é a índole da pessoa. Ela vai continuar matando, com uma garrafa, uma faca, na porrada."

Já o baterista da banda, Igor Cavalera, pensa diferente. "Eu não acredito que só o bandido vai ter a arma, ou que tendo uma arma vou estar menos ou mais seguro. O desarmamento precisa começar de alguma forma. A campanha está confusa na televisão e na mídia em geral, acredita Cavalera, que garante não haver discussão sobre o assunto entre os integrantes do grupo. "É uma coisa muito particular."

Num ambiente musical bem mais calmo que o dos colegas roqueiros, o maestro Flavio Florence, regente da Orquestra Sinfônica de Santo André, ainda não conseguiu alcançar no referendo a mesma certeza obtida com a batuta nas mãos. "Estou vendo motivos para votar nos dois. Sou totalmente contra qualquer arma. A razão da minha dúvida é que a questão como está sendo colocada não vai redundar no desarmamento da Nação, ela não vai ser pacificada da noite para o dia. Acho que estamos perdendo a oportunidade de discutir mais profundamente a questão da violência", explica.

Não – Para o indeciso Flavio Florence, "o ideal seria anular o voto, pois seria um gesto que faz sentido para aqueles que não concordam com a maneira como está sendo feita a eleição". O trombonista Itacyr Bocato Júnior parece ter gostado da idéia do maestro, e decidiu o que fará no dia da votação: "Eu não vou votar, vou justificar meu voto. Acho uma palhaçada o governo não ter força para definir isso, não ter a capacidade de resolver e jogar na mão da população uma campanha que ninguém entende nada", criticou o músico, natural de São Bernardo.

Bocato, que teve o pai assassinado num assalto no Rudge Ramos, acha que o Estatuto do Desarmamento foi mal-esclarecido pelo governo, e se o comércio de armas for realmente proibido, a ação de criminosos será facilitada. "O bandido vai chegar num açougue chutando o pau da barraca mesmo, porque sabe que o cara não vai ter arma. Eu acho que os bandidos, se for aprovado o 'sim', vão ficar mais confiantes."

Já o blueseiro andreense Vasco Faé, integrante da banda Blues Etílicos, ainda não decidiu seu voto, mas admite estar propenso a escolher o 'sim' nas urnas. "Já fui assaltado várias vezes, e o fato de estar desarmado sempre me ajudou a permanecer vivo."




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