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A retração decenal da economia do Grande ABC
Sandro Renato Maskio
27/12/2021 | 06:02
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Na última semana o IBGE, em parceria com o Seade, divulgou o PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios paulistas para 2019. Embora sejam anunciados com defasagem de dois anos, os dados são importantes para avaliarmos a trajetória histórica da atividade econômica dos municípios e ampliarmos os subsídios para análise do comportamento da economia local.

O indicador PIB municipal é fruto de uma metodologia de decomposição do PIB estadual pelos diversos municípios que compõem o Estado, com uma estratégia de apuração diferente do conhecido Produto Interno Bruto do Brasil ou dos Estados.

Em 2019 o PIB dos sete municípios do Grande ABC somou R$ 130 bilhões, a preços de 2019. Comparativamente a 2018, deflacionada pelo deflator do PIB paulista, a economia do Grande ABC retraiu 1,2% em 2019. Já a renda per capita na região foi de R$ 48.758 no ano, com retração de 1,7% em relação a 2018.

Para efeito de comparação, apesar de estarmos lidando com espaços geográficos, composições e complexidades diferentes, a economia paulista em 2019 cresceu 1,7% e a economia nacional, 0,98%. As estimativas para 2020, que foi bastante impactado pelas primeiras ondas da Covid, provocando desaceleração da economia não só nacional mas mundial, são de baixas maiores porque irremediavelmente atingiram fortemente a região.

Menos 16,6% em dez anos
Um fator que chama atenção refere-se à trajetória recente da economia. No decênio 2009 a 2019, a economia nacional cresceu apenas 13,9% e a economia paulista, 10,5%. Isso significa taxa média anual de crescimento de 1,31% e 1,01% ao ano, respectivamente.

Nesse mesmo período o PIB dos municípios do Grande ABC retraiu 16,6% em dez anos, quando deflacionamos o valor nominal do PIB de cada ano pelo deflator interno do PIB paulista. Nesse intervalo, os municípios que apresentaram maior retração no PIB foram São Caetano (- 45,8%), São Bernardo (- 21,9%) e Diadema (- 13,7%).

Dada a queda na geração de riqueza na economia local, a renda per capita no Grande ABC diminuiu 21,1% na década. Apesar de São Caetano ter apresentado a maior retração no período (- 46%), a renda per capita no município ainda é aproximadamente 86% maior que a renda per capita da região.

Não à toa, analisando especificamente os dados do mercado formal de trabalho como referência, houve encolhimento de 741.110 para 732.706 empregos formais. Como consequência, a massa de salários pagos no mercado formal de trabalho diminuiu 7,6% e a renda média encolheu 6,5%. Embora o Grande ABC não tenha indicador específico para avaliar o comportamento do mercado de trabalho agregado ou mesmo uma pesquisa domiciliar amostral, não é difícil inferir que houve piora na condição de trabalho e renda na sociedade regional.

Os dados observados acima apontam, primeiro, a importância de estruturar um sistema de monitoramento do comportamento socioeconômico. Novamente, embora não tenhamos indicadores específicos e com frequência perene, não é difícil inferir que os efeitos negativos gerados pela retração econômica na região ampliaram a desigualdade social em diferentes recortes de análise.

Outro ponto fundamental é a promoção de ações focadas no crescimento econômico, capazes de gerar riqueza, oportunidades e renda. Infelizmente, com frequência, o tema do fomento à geração de valor adicionado tem perdido espaço para outras pautas, como a desigualdade social e a sustentabilidade ambiental, entre outras. Ocorre que estes temas não podem ser tratados como substitutos, mas como complementares. Não há outro caminho para geração de riqueza, de oportunidades de emprego e renda que não o da promoção do crescimento, atrelado aos fatores dinâmicos essenciais ao seu fomento. 

Material produzido por Sandro Renato Maskio, coordenador de estudos do Observatório Econômico da Faculdade de Administração e Economia da Metodist




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