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Hospital de campanha de Santo André deixa lembranças e gratidão
Por Arthur Gandini
29/10/2021 | 05:18
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O ex-motorista Josias Zacarias, 42 anos, foi infectado pelo coronavírus em outubro do ano passado. Ficou internado 15 dias no hospital de campanha do Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia, em Santo André, no bairro Silveira. Em julho desse ano, quando pensava que o adoecimento havia se tornado apenas uma lembrança, Zacarias desenvolveu novamente a Covid-19 e voltou a ficar hospitalizado na unidade de saúde, desta vez por 12 dias. O segundo período foi mais difícil, pois ocorreu ao mesmo tempo em que a sua mulher, a auxiliar de limpeza Cristina Alves, 42, estava infectada. O seu sogro, o aposentado Arlindo Francisco, 72, também adoeceu e ficou internado por dez dias no hospital de campanha da UFABC (Universidade Federal do ABC). Já Cristina necessitava ser internada, mas preferiu se recuperar em casa para poder cuidar da Neguinha, cadela da família, que necessita de medicação diária por sofrer de epilepsia.

Essas são apenas algumas das muitas histórias relacionadas ao hospital de campanha do Pedro Dell’Antonia. E Santo André – e o Grande ABC como um todo –, viveu ontem pela manhã momento simbólico no combate da pandemia. Foi desmontado o equipamento, que era o último provisório em funcionamento na região. O local não recebia pacientes desde setembro e era mantido pela Prefeitura como precaução em caso de nova onda de Covid. Outros hospitais de campanha em Mauá, São Caetano e Ribeirão Pires, já haviam sido desmontados.

A equipe de reportagem do Diário levou ontem Zacarias, junto da mulher, do sogro e da cadela de estimação para rever o local durante a desmontagem e para contar como segue a vida após a recuperação – para assistir ao vídeo da visita basta apontar a câmera do celular para o QR Code acima para ser direcionado ao site do jornal. O ex-motorista afirma ter sentido satisfação em presenciar a desmobilização. “Fui salvo duas vezes, venci a Covid, graças a Deus. Está de parabéns a galera que ajudou (no hospital). Se está fechando, é porque está melhorando (a pandemia). É o fim da Covid”, agradeceu.

Já Cristina contou que teve de lidar com a situação de esconder a internação de Josias do seu pai, com receio de levar preocupação a Arlindo, e também não podia abandonar as suas duas cadelas de estimação – além da Neguinha, que tem epilepsia, a família cuida da Lili. Os três moram sozinhos em uma casa do bairro Sítio dos Vianas e não tinham conhecidos que pudessem auxiliar naquele momento difícil. “Tive que ficar em casa, tenho as cachorras para cuidar. Ia no hospital, tomava a medicação e voltava", relata.

ASSISTÊNCIA

O médico Victor Chiavegato, 27, que ocupou a função de superintendente dos hospitais de campanha em Santo André, acompanhou a desmontagem do equipamento. Agora no cargo de diretor de urgência, emergência e atenção hospitalar da Prefeitura, responsável por toda a rede pública municipal de saúde. Chiavegato defendeu a importância de ser disponibilizada saúde pública gratuita e afirma que a assistência dada aos pacientes no local, assim como o tratamento para a recuperação, levantou esse debate. “Mostra que quando tem investimento, quando tem tanto vontade política como gestão, é possível fazer um SUS (Sistema Único de Saúde) de direito (de todos) e de qualidade. As pessoas merecem, a pandemia trouxe isso à tona”, declarou.

Chiavegato relata que o equipamento de saúde recebeu muitos pacientes que disseram não ter conseguido leitos na rede particular ou que tiveram a internação recusada pelos convênios. O hospital foi inaugurado em 15 de abril e permaneceu aberto por 1 ano e 6 meses. O médico conta que tem diversas lembranças desse período. “É emocionante (encerrar o equipamento). Lembro que cheguei aqui para fazer a planta de como ia ser, acompanhei desde o início. A gente sobreviveu a essa guerra. Fecha com a sensação de missão cumprida”, comemorou.

A estrutura montada para garantir assistência aos pacientes infectados chegou a ter 98% dos 190 leitos ocupados em março desse ano. Foi prestado atendimento a 15.550 pacientes no total. Houve 15.294 altas médicas, o que representou uma taxa de letalidade de 0,01%. 




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