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‘Crise ambiental no País manchou nossa imagem’, diz Itamar Borges

Secretário paulista de Agricultura critica gestão de Bolsonaro no cuidar do meio ambiente

Arthur Gandini
Especial para o Diário
18/10/2021 | 00:14
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Orlando Filho/DGABC


Deputado estadual licenciado, Itamar Borges (MDB) assumiu a chefia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado com análise positiva às ações estaduais do setor e críticas aos programas do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Para Itamar, a disparidade da qualidade de trabalho será explicitada nas viagens do governador João Doria à ExpoDubai, nos Emirados Árabes Unidos, e para Glasgow, na Escócia, para a COP-26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2021). “Tivemos a imagem manchada por ocorrências ambientais no Brasil. Não há nenhuma ocorrência no Estado.”

Confira a entrevista:

Qual a sua perspectiva para a economia paulista no período pós-pandemia?
É bem otimista no sentido de ser retomada após o período mais difícil que atravessamos. Isso pode já ser demonstrado nos índices econômicos apresentados pelo Estado de São Paulo. Ano passado, o Brasil reduziu 4%. São Paulo avançou 0,4%, ficou estabilizado. Este ano, o Brasil está subindo aproximadamente 4% a 5%. São Paulo está com 7,5%, quase 8% de crescimento. São Paulo lidera, no Brasil, quem mais vacinou a população. Essa celeridade está permitindo não apenas o aquecimento da retomada do trabalho. Se você coloca o jovem para circular na educação, no lazer, impacta na economia. O agronegócio acabou não sendo muito impactado na pandemia em relação às commodities. Porém foi bastante impactada a agricultura familiar. O agricultor familiar é aquele que atende o restaurante, o hotel e algumas demandas mais localizadas. Criamos um crédito emergencial para o agricultor. Tivemos também um investimento grande em pesquisa, o maior da história de São Paulo, R$ 150 milhõres de recursos do Tesouro, fora recursos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e o orçamento de custeio da secretaria na parte de pesquisa. Estamos avançando no desenvolvimento de produtos. Entregamos em Ribeirão Preto (no Interior) três novos cultivares (espécie alterada geneticamente) de cana-de-açúcar, que sobrevivem com menos chuva, produzem em um tempo mais curto e mais em um mesmo volume de área. O bom da pesquisa é isso. Como você enfrenta a crise hídrica? Fazendo reservação de água, buscando recuperar as nascentes, entre outras medidas, também necessitando menos de água. O grande diferencial tem sido ter cada vez mais produtos mais resistentes e que necessitam menos água.

Com os baixos níveis dos reservatórios de água, há hoje risco de crise hídrica?
O governo de São Paulo vai lançar (lançou no dia 7 de outubro) um grande programa de enfrentamento à crise hídrica denominado Água É Vida. Serão perfurados 138 postos no Estado em 114 municípios. E será soltada uma frente para desassorear as represas no Estado. Também será permitido ao produtor desassorear a sua propriedade com simplificação do licenciamento ambiental, sem burocracia. Vamos ter programa de recuperação de nascentes mais amplo. Vamos anunciar também ampliação do licenciamento simplificado, com dispensa de licitação, para fazer reservação de água. São algumas medidas que vão impactar em mais reservação de água. O dado que temos hoje é que, onde nós temos abastecimento do Estado, não temos risco de interrupção de fornecimento.

A Federação da Agricultura e Pecuária emitiu nota esboçando preocupação com a queda de 2,8% do PIB agrocupecuário paulista no 2º rimestre deste ano. A federação também tem pedido mais auxílios. Como está a política de subsídios da secretaria?
Nós ampliamos (a política). Fizemos a maior liberação de subvenção para seguro rural. Este ano foi o nosso recorde. Já temos uma perspectiva de crescer para o próximo ano. A nossa subvenção é maior do que a federal. Temos, linearmente, uma subvenção de 30%. A federal vai de 10% a 30%, oscila, dependendo do tipo de produção (rural). O crédito emergencial é subvencionado pela secretaria. Temos inflação, nos últimos 12 meses, em média, de 10%. Estamos estabelecendo 1% de juros ao ano a quem buscar esse recurso. Temos previsão para ampliar o crédito.

Sobre essa questão da inflação, a secretaria tem acompanhado o aumento de preços de itens da cesta básica, como o feijão e o óleo?
O impacto que temos nesse produto decorre mais da questão do câmbio, do dólar e da própria inflação, que aí é uma questão federal, do que até mesmo a crise hídrica. A crise hídrica e a geada impactaram muito pouco. A maior parte da safra já havia evoluído (antes do início do problema). Temos um fluxo de resultado da safra positivo. É claro que estamo vindo de uma pandemia, que teve mudança na cultura de consumo, e aí você volta o consumo normal e acaba gerando algum impacto (na inflação). A secretaria tem ajudado desde à questão de crédito, de incentivo ao plantio, à cooperativas e as associações. Somados aos avanços na área da ciência, da tecnologia e da pesquisa, quando você permite que o produtor tenha mais renda, em menor tempo, em menor área, com o produto mais resistente. Temos sempre a preocupação da manutenção do abastecimento. Estivemos em Ribeirão Preto (em 1º de outubro) e lançamos o PRA (Programa de Regularização Ambiental), o maior do mundo em quantidade de propriedades. (Há) Mais 700 mil hectares com incentivo da Secretaria do Meio Ambiente com benefícios para o produtor que se interessar, chegando a 1,5 milhão de hectares, que é o Programa Refloresta São Paulo. Esse programa, somado com o programa de recuperação do Rio Pinheiros, será tema do governador na COP-26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2021) em Glasgow, na Escócia, nos próximos dias 1º e 2 de novembro. Antes disso, a secretaria, com a Investe São Paulo (agência paulista de atração de investimentos), com (a pasta do) Meio Ambiente, com o governador João Doria, estamos indo para Dubai (nos Emirados Árabes Unidos). Estaremos de 4 a 29 (de novembro na Expo Dubai) onde teremos a exposição de São Paulo, os produtos de São Paulo, levando produtores (do agronegócio para) comercializar o produto brasileiro. Falando um pouco do investimento em pesquisa, o Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos) inaugurou quatro novos laboratórios. Esses laboratórios vão melhorar a salubilidade dos alimentos, mas também oferecer novos produtos para o mercado. Hoje, o Instituto Agronômico de Campinas, com todo o respeito à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), tem mais investimento que a Embrapa.

Investir em pesquisa é cada vez mais importante em tempos de pandemia?
O (Instituto) Butantan, com essa medida que o Doria tomou de trazer a vacina (Coronavac), acabou dando uma visibilidade para a população brasileira ainda maior da importância da ciência, da pesquisa, da inovação. O agronegócio só está onde chegou graças à ciência. Nós produzíamos quanta toneladas de cana por hectare (há alguns anos)? Dez? Hoje estamos atingindo, em média, 50, 70 toneladas.

O sr. citou tanto a sua viagem para a Dubai com o governador quanto a COP-26. Quais as perspectivas nesses eventos?
(Em) Dubai (haverá) exposição de produtos, estandes de produtores e o escritório nosso da Investe São Paulo, fazendo rodadas de negócios. Estamos indo em uma comitiva de 50 empresários brasileiros. A Expo Dubai é a maior feira do mundo. Tanto em Dubai, quanto na COP-26, a grande bandeira nossa é que, diferente da fama que o Brasil ganhou, com os problemas (de aumento do desmatamento) ocorridos na Amazônia, o produto de São Paulo é totalmente sustentável. Tivemos a imagem manchada por ocorrências ambientais no Brasil. Não há nenhuma ocorrência no Estado de São Paulo. Pelo contrário. Nos últimos, cresceu a sua cobertura de vegatação. Agora vamos trazer 1,5 milhão de hectares de reposição. O slogan da secretaria de agricultura é: ‘Sustentável e inovador’. Vamos levar essa marca da sustentabilidade, um esforço na correção da imagem do Brasil. (Trata-se da) mesma coisa na COP-26. O selo de São Paulo é uma garantia de sustentabilidade.

Em relação à questão ambiental, tem tido muita repercussão as tempestades de areia no Interior do Estado. Especialistas afirmam que é preciso mudar as formas de cultivo na agricultura para evitar fenômenos assim. Como conciliar a economia com a questão ambiental?
Temos três unidades de pesquisa que atuam com essa proposta (de conciliação). Estamos lançando o Programa de Produção em ILPF (Integração Lavoura, Pecuária Floresta). Além dele gerar mais renda para o produtor, porque ele permite duas ou três safras no mesmo ano e na mesma área, ele também permite uma presença diversificada que vai evitar circustâncias como essa. Você tem a floresta integrada com a pecuária e a lavoura. E se você atua também na reservação de água, nas amenidades da crise hídrica, você vai ter um produto mais verde, menos seco.

Sua vinda para a secretaria em junho deste ano aumentou a presença do MDB no governo. Quanto à candidatura do Rodrigo Garcia para o governo do Estado em 2022, o partido pensa em indicar o vice? Há essa conversa?
É diálogo que existe. O MDB é hoje o maior partido do Brasil. Temos grandes lideranças em São Paulo, temos o (deputado federal) Baleia Rossi. Temos uma presença na Assembleia Legislativa importante, totalmente alinhada com o governo. Ao fazer parte do governo, não só fazemos parte do projeto, como também já nos posicionamos que o partido tem estatura e tamanho para compor a chapa majoritária. Não resta dúvida disso, respeitando outros partidos e interesses. O Baleia Rossi é um grande nome para compor essa chapa. Temos outras grandes lideranças, o prefeito de São José do Rio Preto, Edinho Araújo. Temos prefeitos em outras cidades, como Franca (governada por Alexandre Augusto Ferreira) e Jaguariúna (Gustavo Reis).

Em nível nacional, Doria disputa as prévias internas no PSDB para se candidatar à Presidência da República. Em eventual candidatura, o MDB vai apoiá-lo?
O Doria é o meu candidato e o candidato do MDB de São Paulo. E o MDB de São Paulo vai trabalhar junto ao MDB nacional para que isso se consolide. Respeitamos todas as candidaturas, mas não concordamos nem com a extrema direita, nem com a extrema esquerda. Somos adeptos da alternativa do meio, da terceira via. (O Doria) É o mais preparado. Está fazendo um governo transformador. (Há) Essa ação integrada com o Rodrigo, de ele ter criado quase que um CEO (diretor-executivo) para governar o Estado. O Rodrigo se tornou o CEO.
 




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