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Espaço católico acolhe estrangeiros na pandemia

Localizado em Santo André, centro de apoio ao migrante já recebeu mais de 3,3 mil pessoas

Arthur Gandini
Especial para o Diário
04/10/2021 | 00:01
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Celso Luiz/ DGABC


O centro de apoio ao migrante, espaço ligado à Congregação dos Scalabrinianos da Igreja Católica, realiza o trabalho de acolher imigrantes e refugiados no Grande ABC. Segundo números divulgados pela Diocese de Santo André, 3,3 mil pessoas foram acolhidas pelo projeto de janeiro a setembro deste ano. Em 2020, entre os meses de março e dezembro, o número chegou a 9,1 mil. Este apoio se tornou necessário com a pandemia do novo coronavírus.
O padre haitiano Jean Dickson, responsável pelo centro, afirma que a maior dificuldade vivida por essas pessoas na pandemia é a falta de emprego. “Foi o mais difícil. As empresas paradas e os imigrantes, que conseguiam trabalhar com carteira assinada, foram mandados embora. Os que não trabalhavam com carteira e faziam bicos, estão todos parados”, relata.

Situado em Santo André, no bairro Utinga, o espaço auxilia os estrangeiros desde a entrega de cestas básicas até a regularização de documentos, além da recolocação no mercado de trabalho. A estimativa do centro é de que, em março do ano passado, foram recebidas diariamente de 60 a 100 pessoas em busca de ajuda para lidar com a crise sanitária. Foram dadas orientações e kits para cumprir os protocolos sanitários de higiene e distanciamento. Outro trabalho foi a ajuda para solicitar e receber o auxílio emergencial do governo federal. Em torno de 2.000 imigrantes e refugiados conseguiram o benefício a partir das instruções do centro.

Segundo a Diocese, há hoje 660 estrangeiros acolhidos em paróquias da região pelas pastorais do migrante das comunidades. O maior número está em Santo André, com 339 adultos e 95 crianças. Na cidade de Mauá, há 105 adultos e 23 crianças; em São Bernardo, 76 migrantes; e em Ribeirão Pires, 20 adultos e seis crianças estão acolhidas. Não há pastorais do migrante atuantes nas demais cidades da região, que encaminham os estrangeiros para serem auxiliados na sede do centro.

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), há uma diferença entre os termos imigrante e refugiado. Enquanto os imigrantes geralmente mudam de país para tentar uma vida melhor, como um novo trabalho, refugiados fogem de conflitos e estão impossibilitados de retornar para a sua pátria. A maior parte das pessoas acolhidas no local são haitianos, mas também há quem seja originário, por exemplo, de Venezuela, Colômbia, México, Argentina, Síria, Senegal e Costa do Marfim.

Helena Teodoro, coordenadora diocesana da pastoral do migrante, afirma que a igreja católica e outros movimentos religiosos suprem hoje uma ausência do poder público no trabalho de auxílio social. “Essa inclusão é o que nós queremos. Santo André é um polo migratório. Aqui o aluguel é mais barato e tem a estação de trem, mais barata para eles se locomoverem”, ressalta.

COMO AJUDAR
Doações de alimentos e produtos de higiene para imigrantes e refugiados podem ser realizadas na sede do centro, localizada na Rua Montevidéu, 71, no bairro Utinga. Outra opção é deixar os itens na Igreja Matriz de Santo André, na Vila Assunção, localizada na Praça Pres. Vargas, 01. Já doações financeiras podem ser feitas por Pix por meio da chave 57.591.349/0010-53.

Há ainda campanha de arrecadação de fundos para a construção de um consultório odontológico e de uma webrádio na sede do centro. Uma feira beneficente de comidas típicas de imigrantes será realizada nos dias 30 e 31 na Igreja Matriz de Santo André.

Refugiados tentam uma nova vida

Há diversos motivos que levam imigrantes e refugiados a deixaram a sua pátria e buscar outro país. Jean Charles Bruno, 37 anos, por exemplo, emigrou do Haiti para Mogi das Cruzes em agosto de 2016 com a esposa. O motivo foi a crise humanitária decorrente do terremoto que abalou o país centro-americano em 2010. Caso tivesse permanecido por lá, ainda teria enfrentado novas dificuldades com a crise política vivida no local desde julho, após o assassinato do então presidente Jovenel Moïse – até o momento, ninguém foi responsabilizado pelo crime.

O haitiano trabalhava como ajudante de serviços gerais em sua terra natal. Em Mogi, passou a atuar como coletor de lixo, mas foi dispensado em razão da pandemia. Ele se mudou há dois meses para Santo André. Paga aluguel e tem vivido por meio do seguro-desemprego. Agora, busca novo emprego e conta com a ajuda do centro. “As coisas (empresas) quebraram na pandemia. Não consigo serviço mais. Mas vou arrumar um serviço para trabalhar, acho que tudo vai ficar certo”, afirma.

Já Aiman Zrba, 40, tem sobrevivido graças à culinária, a exemplos de outros sírios que emigraram para o Brasil desde 2011 por conta da guerra civil na Síria. Zrba passou por Jordânia, Egito, chegou à cidade de Guarulhos e vive em Santo André desde 2016 com a esposa e três filhos. Trabalhava como fiscal de container em sua terra natal, mas empreendeu por aqui ao começar a a vender pratos árabes nas ruas andreenses.

Com o auxílio financeiro de um amigo e do centro de apoio, abriu o Zrba Restaurante Árabe, no Centro da cidade, em outubro do ano passado. O seu amigo emprestou o imóvel até que ele tivesse condições de pagar o aluguel. O sírio conta que não foi fácil abrir um negócio em meio à crise sanitária e econômica. “O coronavírus fez mal para todo mundo, teve gente que perdeu o trabalho. Agora estou há um ano trabalhando e bem, graças a Deus”, comemora o estrangeiro.




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