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Região tem mais gente nas ruas agora do que no início da pandemia

Sinais dos celulares mostram circulação de cerca de 180 mil pessoas a mais na comparação com a última sexta-feira antes do fechamento do comércio

Por Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
24/06/2021 | 00:01
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André Henriques/ DGABC


O Grande ABC tem mais moradores circulando nas ruas agora do que tinha nos primeiros dias da pandemia do coronavírus, em março de 2020, antes de o governo do Estado determinar o fechamento dos serviços não essenciais. De acordo com dados obtidos por meio do sinal dos celulares, na última sexta-feira, 38,3% dos munícipes da região estavam em casa, contra 44,7% registrados na sexta-feira, 20 de março de 2020, um dia antes de o governador João Doria (PSDB) determinar regras rígidas para o funcionamento de estabelecimentos comerciais.

Numericamente, isso significa cerca de 180 mil pessoas a mais circulando pelas ruas do Grande ABC. Essa é uma das razões apontadas pelos especialistas para que o número de diagnósticos positivos e o de mortes em decorrência da Covid se mantenha em alta. Ontem, o Diário mostrou que a cada dois minutos uma pessoa é infectada na região. 

O infectologista e fundador do IBSP (Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente), José Ribamar Branco, destacou que, apesar da grande circulação do vírus e a população estar há mais de um ano vivendo a pandemia, “as pessoas estão circulando como se tudo estivesse normal”. “A forma como o governo se comunica em relação à pandemia sempre foi um desastre. Dessa forma, a percepção das pessoas de que está tudo normal é agravada, e isso é um perigo. Ainda vamos ter muitos casos”, projetou.

Branco frisou que atualmente há mais infecção pelo novo coronavírus em jovens, ou seja, o público que ainda não foi vacinado e, com isso, o sistema de saúde está ficando sobrecarregado. “Não temos tanta demanda de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), mas muito acesso ao hospital e internação de enfermaria. Quando o paciente tem dificuldade de acesso ao sistema de saúde por sobrecarga aumenta a mortalidade e isso está acontecendo porque medidas simples que poderiam ajudar não estão sendo tomadas”, explicou Branco, referindo-se ao isolamento físico, uso de máscara, distanciamento e a higienização correta das mãos.

“O correto seria manter o isolamento e esperar vacinar 70% da população para começar a liberar o acesso aos serviços. Isso não foi feito no Brasil até hoje e, por isso, temos um dos maiores índices de mortalidade, com mais de 500 mil pessoas mortas pela Covid-19”, finalizou Branco.

Gestora do curso de psicologia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), a professora Rebeca Daneluci destacou que é importante pensar que a decisão do isolamento físico, ou exposição ao vírus, está diretamente ligada ao comportamento individual e social. “O que a gente percebe é que não tivemos ao longo da pandemia comunicação única que chegasse a todos da mesma forma, e isso faz com que tenhamos várias versões sobre o entendimento da pandemia e, muitas vezes, versões conflitantes”, criticou Rebeca.

A especialista pontua ainda que o isolamento físico tem riscos emocionais. “As pessoas estão cansadas, fica cada vez mais inviável pedir para que fiquem em casa como no início da pandemia. E uma vez que os serviços não essenciais estão abertos, pode gerar falsa sensação de que as coisas estão melhores”, disse Rebeca usando como exemplo as escolas, que pelos lados físico e emocional das crianças e adolescente, são importantes voltar a funcionar presencialmente, mas, por outro lado, gera sensação de segurança em momento ainda inoportuno. “Um dos fatores que fazem pensar por que as pessoas saem, está ligado, também, à desesperança. Todo esse tempo estando privado, em casa, sem planejamento e perspectiva de melhora, dá essa sensação de desesperança também.”




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