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Rossieli Soares: ‘Vamos vacinar toda a rede em julho’
Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
07/06/2021 | 00:01
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Governo do Estado de SP/ Divulgação


O secretário de Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares, afirmou que todos os profissionais de educação serão vacinados, ao menos com a primeira dose da vacina contra a Covid-19, até julho. Atualmente, os profissionais com 47 anos ou mais já podem se imunizar, mas com o avanço da vacinação entre as pessoas com comorbidade, a estimativa é que ao menos 100 mil trabalhadores das redes privada e pública também sejam imunizados. Em entrevista ao Diário, ele falou das medidas para recuperação dos alunos que tiveram o aprendizado afetado pela pandemia, entre outros temas.

Qual a porcentagem de professores da rede que já foi vacinada? E no Grande ABC?

De todas as redes, privada e pública, temos mais de 330 mil, sendo 21 mil do Grande ABC, onde ainda faltam 45 mil. Dentro da rede estadual estamos próximos de 45%, 48% dos profissionais já vacinados. Na rede privada, o percentual é menor, porque geralmente são profissionais mais jovens, por isso na rede pública o percentual é maior.

Qual o prazo previsto para a vacinação de todos os profissionais da educação?

Todas as pessoas com 47 anos ou mais já estão sendo vacinadas. No dia 21 de julho a gente começa a vacinar os profissionais de outras faixas etárias, para que todos sejam imunizados. Até lá, estaremos vacinando as pessoas com comorbidades, e muitos professores já entram nessa categoria. Nossa estimativa é que em junho tenhamos 100 mil profissionais da educação com alguma comorbidade sendo vacinados. 

Com a vacinação dos professores em curso, a Seduc tem alguma previsão para o retorno presencial das aulas para um maior número de alunos, atualmente em 35%?

Temos a pretensão de aumentar esse percentual logo que passarmos a fase de transição do Estado, em vigor até 14 de junho, então estamos aguardando para entender quais são os próximos passos, à medida em que temos uma maior parcela de pessoas vacinadas. O ambiente escolar é o mais controlado da sociedade, então a gente consegue, sim, vislumbrar alguns passos. 

Quais são as medidas planejadas pelo Estado para a recuperação do aprendizado que foi prejudicado durante a pandemia?

Tem algumas medidas importantes que vale destacar. Desde o início da pandemia, temos tentado encontrar soluções e chegar cada vez mais próximos do estudante, considerando as suas realidades. Estamos falando de uma rede com mais de 5.000 escolas, mais de 3,3 milhões de pessoas, com famílias com distintas realidades. Nosso primeiro grande desafio foi criar um canal, que é o Centro de Mídias, criar canais que funcionassem também off-line para aqueles que precisam, redesenhamos os materiais. Começamos a olhar para as habilidades essenciais, para garantir que em cada etapa, cada série, os alunos aprendam essas habilidades mais centrais, mais essenciais. Um exemplo muito simples, se eu não tiver um foco absoluto em alfabetizar a criança, ela não vai aprender todas as outras áreas que são fundamentais. Por óbvio, a alfabetização é um ponto central. A gente precisa assumir que nesse momento a gente está trabalhando com um recorte das habilidades essenciais, para que a gente possa recuperar depois. Trabalhamos muito com melhoria das tecnologias e obviamente estamos falando de vários tipos de programas de recuperação, desde materiais dentro do próprio turno, atividades de contraturno com o programa Além da Escola. O aluno vai para a escola de manhã e tem a possibilidade de fazer atividades híbridas no contraturno, e esse é um programa que permanecerá mesmo depois da pandemia. Por isso que 500 mil estudantes estão recebendo chips, muitos já retiraram, porque a gente está olhando para essas outras possibilidades, mas com coisas mais atrativas, para o jovem manter esse interesse. Nossa escola está cada vez mais focada no projeto de vida, que o estudante diga o que é fundamental para ele, para que a escola seja um suporte para esse projeto, para esse sonho. 

Quantos desses chips já foram entregues?

Fizemos uma entrega gradual, entregamos para pessoas abaixo da linha da pobreza, 120 mil, 130 mil chips, depois ampliamos, temos cerca de 350 mil chips entregues e vamos fazendo gradativamente para quem tem solicitado. O recorte do Grande ABC não saberia informar.

A Secretaria de Educação planeja que o ensino remoto continue sendo utilizado após a pandemia?

De tudo de ruim que a gente está vivendo, tem alguns aprendizados. E sem dúvida um deles foi como usar melhor a tecnologia. Não que a gente tenha aprendido tudo, há ainda muito o que aprender. Havia medo da categoria de que se colocasse a tecnologia, esta iria substituir o professor, e se provou justamente o contrário. Estamos colocando TV em 100% das salas de aula, equipamentos, porque a gente quer o ensino híbrido no dia a dia da escola, mas como uma opção para o professor. Para que ele possa dar aula em conjunto com outros professores, ou assistir a uma aula do centro de mídias e fazer um debate local, mas é do planejamento local. Para se ter ideia, criamos a figura do professor articulador de tecnologia, o protec. Criamos porque sentimos a necessidade de ajudar os alunos ou os próprios profissionais da educação que precisavam de ajuda. Olhamos para o professor que tinha o perfil melhor para isso e contratamos quase 7.000 pessoas unicamente para apoiar no uso das tecnologias. Aumentei a minha contratação de pessoas para justamente dar vazão à utilização da tecnologia. A gente está colocando mais tecnologia e estamos precisando de mais pessoas. A gente vai fazer a reforma do ensino médio e vamos precisar de mais pessoas. Nosso desafio está sendo ter mais gente na educação e não menos, e acho que a tecnologia foi um grande aprendizado, que a gente vai utilizar sim no ensino híbrido. 

A secretaria tem dados sobre evasão escolar durante a pandemia?

Esse é um desafio. Por isso que não existe uma bala de prata, um modelo único. Estou falando de uma rede de 5.000 escolas. A gente tenta uma diversidade de estratégias, o centro de mídias, o repositório assíncrono para os alunos que podem assistir às aulas a qualquer momento para recuperar. Por isso que a gente defende a abertura das escolas o tempo todo para quem precisa, nem que seja para o aluno usar o laboratório de informática, porque ele não tem equipamento e conexão em casa. São muitas as realidades e a escola precisa estar minimamente aberta, para apoiar esses, sem falar em outros aspectos de proteção alimentar, sociais e de convivência, que aí não é uma questão de ter acesso a tecnologia ou não. Tivemos também alunos com acesso a equipamento, internet, mas que não se adaptavam com a aula remota. Nosso desafio é olhar para essa falta de equipamento, mas também para quem não consegue usar a ferramenta porque não se adapta. São Paulo teve reprovação, mas dando oportunidade o tempo todo. À medida em que o aluno levantou a mão, ficou desaparecido por dois, três meses em 2020, mas levantou a mão, pediu ajuda para não perder o ano, a gente abriu as escolas em janeiro para isso. Não existe uma solução que eu consiga dar para todos de forma igual. Precisamos dar oportunidade sempre para o jovem, já era importante antes e é fundamental que a gente faça agora.

Mas existem estimativas de números da evasão?

Nossa evasão em 2020 é menor comparada com 2019. Nunca fizemos tanta busca ativa e fomos atrás literalmente, professores que foram na casa das famílias, entregamos atividades impressas. Manter o vínculo foi muito importante. Não dá para dizer que é a mesma qualidade do que se faz no presencial. Sempre falei isso. Quando a gente volta para o presencial, o uso da tecnologia melhora. Em março, quando a gente não estava com atividade presencial, eu tinha 1,850 milhão de estudantes; quando atividade presencial cresceu, passei para 2,9 milhões de jovens usando a plataforma. O aluno passa a ter orientação e consegue se organizar melhor. Os dados são positivos, mas eles também escondem uma realidade que é dura. Quando retornar para o presencial, pode ser que a gente perca esse jovem. Pode estar desesperado com o desemprego da família. Nenhum deveria ter que escolher trabalhar ou estudar, temos que dar condições para que ele possa estudar, mas quando a gente voltar para o presencial é que vamos ver o tamanho de uma eventual perda por causa da evasão.

Que medidas estão sendo tomadas para que esses alunos retomem os estudos?

O presencial é fundamental, seja pelo vínculo, pelo desenvolvimento socioemocional. O local onde ele encontrava outros fatos, outros processos distintos, era a escola, e a gente precisa da oportunidade do presencial, não só pelo cognitivo, mas pelo psicológico, que tem sido muito abalado.

O Estado anunciou a oferta de apoio psicológico para a rede. Existe um balanço de quantos estudantes solicitaram atendimento?

O atendimento não é clínico. Funciona como suporte aos professores para que eles possam trabalhar melhor com os jovens. Já temos 3.918 escolas utilizando o programa Psicólogos da Educação. As escolas estão aprendendo a usar, os profissionais de psicologia e as equipes estão começando a discutir coisas que não eram discutidas porque agora existe um suporte técnico, e acredito que ao fim do ano nossa curva de aprendizado vai estar maior e isso agrega muito a tudo que estamos querendo fazer. 

Diversas cidades ainda não autorizaram o retorno das aulas presenciais na rede pública. Isso não agrava a desigualdade no ensino?

Total. Acho um absurdo qualquer lugar que tenha feito isso, autorizar aulas na rede privada, exclusivamente, para mim é um erro. Tem municípios onde não voltou porque não se preparou. Não estamos falando de voltar a qualquer custo, mas que a escola tenha condições mínimas de atender os alunos, que a gente vá lidando de acordo com o nível da pandemia, olhando para as condições sanitárias. Não há nenhuma justificativa para manter bares e restaurantes abertos e as escola fechadas. 

RAIO X

Nome: Rossieli Soares da Silva

Estado civil: casado

Idade: 42 anos

Local de nascimento: Santiago, Rio Grande do Sul, e mora em São Paulo

Formação: advogado e mestre em avaliação educacional

Hobby: violão

Local predileto: minha casa

Livro que recomenda: Cidade Eterna (Hall Caine)

Artista que marcou sua vida: Renato Russo – Legião Urbana

Profissão: secretário de Estado da Educação de São Paulo

Onde trabalha: Secretaria Estadual da Educação




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