Economia Titulo Na pandemia
Região cria 3.007 postos de trabalho em fevereiro

Volume é 47,8% maior do que há um ano; serviços e indústria lideram as contratações

Por Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
31/03/2021 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


A demanda aquecida por produtos e serviços, após o baque gerado pela pandemia do novo coronavírus ao longo do ano passado, fez com que as empresas precisassem contratar mais profissionais – muitos deles que perderam trabalho justamente por causa do cenário tomado pela Covid. Em fevereiro, a criação de empregos com carteira assinada atingiu saldo (admissões menos cortes) de 3.007 vagas no Grande ABC.

O volume supera em 47,8% o total do segundo mês de 2020, quando haviam sido gerados 2.034 postos de trabalho. E em 28,8% o montante de janeiro deste ano, com 2.333 chances. Os números, disponibilizados pelo Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia, foram tabulados pelo coordenador de estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, professor Sandro Maskio. “No ano passado tivemos um choque mais forte da pandemia, especialmente nos primeiros meses. Isso levou a uma maior desaceleração e consequente demissão. A readaptação a novo modelo de operação, no entanto, a exemplo do comércio on-line, levou a uma melhora e fomentou certa retomada da atividade produtiva”, explica Maskio.


A maior parte das oportunidades foi criada em serviços (1.342) e na indústria (936). No entanto, todos os setores mais contrataram do que demitiram, e fecharam fevereiro com saldo positivo. Construção gerou 364 chances, e comércio, 361.

Ele pondera também que a indústria se organizou de forma a conseguir operar sem tanto contato direto e, diante da maior demanda, passou a repor parte dos empregos perdidos. “No ano passado já houve forte enxugamento dos postos pelos efeitos da retração da economia. Não há grandes espaços para reduzir mais, e as empresas estão trabalhando em um nível de atividade com menor número de funcionários. Tanto os consumidores quanto a cadeia produtiva já estão mais adaptados a este ambiente, com as restrições de circulação”, assinala.

AVANÇO DA PANDEMIA

Apesar do aumento das oportunidades no mercado de trabalho nos dois primeiros meses deste ano, o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, pondera que os números não levam em consideração o recrudescimento da pandemia. “É preciso lembrar que no segundo semestre do ano passado houve recuperação econômica, mas uma reação que ocorreu em um momento em que também, a partir de outubro, principalmente, vimos a curva de contaminações e de mortes voltar a subir. Então é como se a economia estivesse rodando à margem do que estava acontecendo na parte sanitária”, dispara.


“E temos de ponderar que fevereiro ainda não demonstra esses fechamentos mais fortes que estamos vivendo neste momento. Muito provavelmente os números de março e abril serão ruins”, projeta Balistiero, referindo-se ao endurecimento das regras contra o avanço da Covid, com o Estado de São Paulo regredindo à fase emergencial, estabelecimentos tendo de reduzir horário de funcionamento e permissão de funcionamento apenas de serviços essenciais. Sem contar a antecipação de feriados no Grande ABC nesta semana. Para ele, muita gente que foi contratada, principalmente no setor de serviços, deverá desligada nos próximos meses.

Maioria é homem e tem ensino médio completo

Quando são analisados os perfis dos contratados em fevereiro, 1.915, ou 63,6% dos 3.007 trabalhadores, são homens. Quanto à escolaridade, 2.428 ou 80,7% do total têm ensino médio completo. Na sequência vêm ensino superior completo (228) e ensino médio incompleto (192). As funções que mais abriram vagas no mês passado foram as de alimentador de linha de produção (378), auxiliar de escritório (128), cozinheiro (116), ajustador mecânico (107), servente de obras (93) e técnico de enfermagem (79). Coincidentemente, os postos de alimentador de linha de produção e auxiliar de escritório foram tanto os que mais contrataram como os que mais demitiram no mês passado, o que denota grande rotatividade. “Com base nesses dados, observamos que há requisito de qualificação mediana e, ao mesmo tempo, elevada disponibilidade de mão de obra desempregada”, pondera Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Metodista.

Mudança na metodologia pode ter impactado dados do Caged


Assim como no Grande ABC, no Brasil a geração de emprego com carteira assinada também aumentou. Foram criadas 401,6 mil vagas em fevereiro e, em janeiro, havia tido o recorde de 258.141 postos (dado que foi revisado ontem). No acumulado dos dois primeiros meses de 2021, portanto, o saldo do Caged é positivo em 659.780 vagas, bem acima do registrado no primeiro bimestre do ano passado, quando foram criados 277.517 postos formais. Desde janeiro do ano passado o uso do sistema do Caged foi substituído pelo eSocial (Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas) para parte das empresas, o que traz algumas diferenças na comparação com resultados dos anos anteriores.

Além de reunir mais informações na mesma base de dados, o novo Caged tornou obrigatório informar a admissão e demissão de empregados temporários, modalidade criada na reforma trabalhista. Antes, essa comunicação era facultativa. Dessa forma, não há como fazer a comparação com dados anteriores a janeiro de 2020 porque as bases de dados são distintas.

A maior parte do mercado financeiro já aguardava um avanço no emprego no mês, mas o resultado veio bem acima do teto das estimativas de analistas, que esperavam de 150 mil a 283.936 vagas em fevereiro. “Parece um paradoxo. Sai uma notícia como essa e o governo começa a propagandear que o País está se recuperando, mas logo em seguida vem um dado de desemprego publicado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que é mais fidedigno, porque considera os informais, 40% da nossa mão de obra, público que tem dificuldade enorme de encontrar emprego”, assinala o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero.

O Caged trata apenas do mercado formal, com carteira. O número também está sob o impacto do programa do governo que permitiu às empresas cortarem salários e jornadas e suspender os contratos. Como contrapartida, o governo dificultou as demissões pelo mesmo número de meses em que os trabalhadores foram atingidos com uma das duas possibilidades (a da redução na jornada e salário ou a da suspensão dos contratos).

O programa se encerrou em dezembro, mas os trabalhadores ainda continuam ‘protegidos’ em 2021 caso tenham sido afetados em 2020. Segundo números do Ministério da Economia, 3,3 milhões de empregados estavam com essa ‘garantia provisória’ em fevereiro. Parcela deles vai continuar com essa ‘proteção’ até agosto. O secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, enfatizou que a nova metodologia de captação do Caged melhorou a qualidade do indicador. Segundo ele, os saldos são críveis e comparáveis com os resultados da série histórica até 2019. “Não tenho dúvida de que o saldo é algo concreto e bastante crível, já que melhoramos a captação tanto das admissões como das demissões.”




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