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Subnotificação pode ser de 50% na região

Número de pessoas infectadas pela Covid pode dobrar se cidades conseguirem
diagnosticar todos pacientes que aguardam resultados dos testes

Por Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
29/05/2020 | 00:01
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Denis Maciel/DGABC


 Os dados dos boletins epidemiológicos no Grande ABC relativos ao novo coronavírus crescem em todos os quesitos diariamente: casos confirmados, mortos, recuperados e um que chama a atenção pelo alto número: o de suspeitos: 13.755. A demora na baixa nos sistemas municipais e a morosidade de alguns laboratórios para dar o resultado supõem enorme subnotificação de infectados na região. Se os dados oficiais apontam 6.474 contaminados, a taxa pode mais que dobrar se metade dos que aguardam o diagnóstico testar positivo para Covid-19, como tem sido a média dos exames realizados em laboratórios.

Número tão expressivo de suspeitos da doença leva a automático questionamento sobre a efetividade dos locais responsáveis pelos exames. Porém, o principal centro de análises do Grande ABC homologado para realizar as testagens, caso do laboratório de análises da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), já fez 19 mil análises e diz que, atualmente, não tem fila de espera. “Hoje (ontem), estamos liberando as amostras que chegaram dia 27 (anteontem). Conseguimos reduzir em quase 24 horas para dar celeridade nas respostas”, explica o vice-reitor do centro universitário e coordenador do laboratório de análises clínicas da FMABC, Fernando Luiz Affonso Fonseca.

O laboratório realiza os testes de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires, além de Franco da Rocha, Mairiporã, Cajamar e Francisco Morato – Diadema e Rio Grande da Serra optaram por utilizar o Instituto Adolfo Lutz.

A FMABC teve média de 50% de positividade na semana passada (dias antes, inclusive, houve registro de 60% em determinada data). Entre segunda-feira e quinta-feira foram testadas aproximadamente 2.000 amostras e 1.000 tiveram confirmação.

Fonseca explica quais são os casos que se enquadram como pacientes suspeitos. “Quando se fala em suspeitos, não são apenas os que estão aguardando o resultado do exame para ser confirmado. Pode ser pessoa com síndrome gripal que ficou com status de suspeita sem fechar o diagnóstico”, diz. “O suspeito é aquele que procurou o serviço médico com sintomas gripais. Se tiver sintomas mais graves, caracteriza como SRA (Síndrome Respiratória Aguda) ou SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Se torna suspeito por ter quadro gripal importante. Aí se pega a sorologia (teste) e espera (o resultado)”, complementa o infectologista Paulo Rezende, diretor do Hospital Santa Ana, de São Caetano. Inclusive, para ele, a testagem é fundamental. “Muitos defendem que ao invés de gastar dinheiro com cloroquina e respiradores, que se gastasse com testagem. Acredita-se que haveria controle maior da pandemia”, indica.

O ideal, segundo o infectologista, seria testar toda a população. Entretanto, tal situação é financeiramente insustentável no Brasil e, desta maneira, as prefeituras e os equipamentos de saúde vêm priorizando, pouco a pouco, os setores essenciais ou pessoas que já manifestaram sintomas. “Realizar (a testagem) na população geral, como na Alemanha, é muito bom. Lá isolaram apenas os positivos e se consegue fazer programação de cuidados de saúde, ver os recursos que tem”, aponta Paulo Rezende.

São Bernardo, por exemplo, informa ter 7.318 casos em investigação. Além do laboratório da FMABC, conta com outros três locais para análise: Instituo Adolfo Lutz Central-São Paulo, Adolfo Lutz Regional-Santo André e laboratório municipal de saúde pública. Em nota, a Prefeitura justificou o grande número de suspeitos em razão do aumento na testagem e “a morosidade do sistema em dar baixa de casos suspeitos descartado”.

Já Santo André, com 3.616 pessoas suspeitas, diferentemente do que alega a FMABC, declara que “os laboratórios para realizar os exames estão sobrecarregados e isso acarreta em acúmulo de casos que estão aguardando o resultado e, consequentemente, em prazo maior para a resposta”, mas afirmou que as coletas realizadas pela secretaria municipal de Saúde têm resultado em 48 horas.

Mauá e Diadema também registram altos e crescentes índices de espera: 630 e 1.935, respectivamente. “Os resultados não dependem do governo municipal, depende do número de demandas que são encaminhadas ao Instituto Adolfo Lutz”, explica a administração mauaense. “O aumento se deve ao próprio comportamento da pandemia”, generaliza o Paço diademense.

OUTRO CENÁRIO
São Caetano (159 suspeitos), Ribeirão Pires (55) e Rio Grande da Serra (42) vêm conseguindo diminuir ou, no máximo, manter o número de suspeitos. Segundo a secretária de Saúde são-caetanense, Regina Maura, existe explicação: três laboratórios à serviço. “Então temos algumas válvulas de escape para não ficar na dependência do Estado, que é o que mais demora. No começo a gente ficava na mão dele”, conta.

Grande ABC tem recorde de mortes em 24 horas

O Grande ABC bateu ontem o recorde de mortos pelo coronavírus em 24 horas. Os boletins epidemiológicos das sete cidades enviados pelas prefeituras apontam que a região registrou 28 novos óbitos, alcançando 558 no total. Diadema, com 12 fatalidades registradas (e 96 no total), destoou das vizinhas. Mauá, por exemplo, contabilizou mais seis perdas (63), São Bernardo, mais quatro (198), Santo André, mais três (141), e São Caetano, outras três (39). Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra mantiveram índices, com 14 e sete vítimas fatais, respectivamente.

Além disso, houve crescimento de 341 novos casos confirmados da Covid-19 entre as sete cidades, totalizando 6.474. Santo André, que assumiu a dianteira do ranking desde que iniciou testagem em massa em alguns públicos, registrou 2.363 infectados, contra 1.503 de São Bernardo, 1.035 de São Caetano, 954 de Diadema, 383 de Mauá, 168 de Ribeirão Pires e 68 de Rio Grande da Serra. Os andreenses também aparecem à frente no que diz respeito aos recuperados: já são 948 pacientes que receberam alta.

Com relação ao Estado de São Paulo, foram anunciados – no total – 95.865 casos, 6.980 mortes e 18.955 recuperados. No Brasil, são 438.238 infectados, 26.754 óbitos e 177.604 altas.




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