A busca pela perfeição na ginástica artística se tornou ainda mais difícil com a implementação do novo código de pontuação, neste sábado, na primeira etapa da Copa do Mundo de Ginástica, em Lyon (França). A mudança aposenta o mito da nota dez, imortalizado pela romena Nadia Comaneci na Olimpíada de Montreal (1976). Agora, a nota máxima será 20. Se para os leigos entender a ginástica já era difícil, a situação ficará um pouco mais complicada. Na competição, o Brasil terá três representantes: o campeão mundial de solo, Diego Hypólito, a recordista de medalhas em etapas da Copa do Mundo, Laís Souza, e o estreante Luís Augusto dos Anjos.

Segundo o técnico andreense, Sandro Brasil, árbitro no Mundial de Melbourne (Austrália), em 2005, os juízes ficarão mais exigentes com os ginastas. A escala de pontuação será mais específica e, com isso, os atletas que fizerem movimentos mais complexos receberão nota mais alta. "O perigo, porém, é ver ginastas apostando em séries mais simples para garantir nota. Se isso acontecer, a ginástica poderá ser empobrecida", alertou Brasil. O andreense foi o primeiro técnico de Diego Hypólito e é o único brasileiro habilitado a julgar competições internacionais masculinas com o novo código. Yumi Sawasato, outra brasileira apta a julgar provas femininas e única representante do país na Olimpíada de Atenas (2004), concorda com Brasil. "O novo código incentiva o ginasta a não tentar coisas difíceis, porque o desconto pelas falhas é grande", complementou Yumi.

Uma injustiça na decisão na categoria individual geral masculina (que engloba todos os aparelhos) nos Jogos Olímpicos de Atenas motivou a antecipação da implementação do novo código de 2009 para este ano. O norte-americano Paul Hamm caiu ao aterrizar na final do salto sobre o cavalo e, mesmo assim, garantiu o ouro. O sul-coreano Kim Dae-Eun não acreditou no que viu. Apesar de ter tido um desempenho melhor, Kim teve de se contentar com o segundo lugar no pódio por ter 0,012 a menos que o vencedor. Vaias ecoaram no ginásio e a falta de credibilidade afetou a FIG (Federação Internacional de Ginástica).

Mudanças - Os árbitros irão utilizar dois painéis para avaliar o ginasta. Cada um valerá dez pontos. No A, os atletas receberão notas pelos nove exercícios de maior valor, mais a acrobacia de saída do aparelho, pelos movimentos que usarem para ligar um exercício ao outro e pela execução de cinco elementos obrigatórios de cada aparelho. No B, serão descontados dos dez pontos os erros de execução (postura e técnica) e de valor artístico (vale somente para a trave e solo feminino). Por causa dos painéis, a nota máxima passará para 20 pontos. Conquistar a nota máxima é um fato considerado impossível por Brasil. "Para se ter idéia, não existem movimentos cuja somatória chega a 20 pontos", disse. Agora, resta saber quem se habilita a quebrar este novo paradigma.