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Filme 'Atraindo Gina' mostra o universo teen
Do Diário do Grande ABC
06/05/1999 | 15:53
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"Atraindo Gina" é a estréia na direçao de Hannah Weyer. Um típico exemplar do cinema "indie" americano. Aliás, o filme é batizado e crismado pelo Sundance Institute, Meca e Vaticano dos independentes. O roteiro foi trabalhado em um dos workshops do Sundance e estreou no festival do instituto patrocinado por Robert Redford. "Atraindo Gina" chegou mesmo a cruzar a fronteira norte-americana, tendo sido exibido na mostra nao competitiva Panorama, do Festival de Berlim. Esse é o cartao de visitas do filme, seu currículo.

A protagonista, Gina (Aesha Waks), é uma adolescente que vai passar uns tempos na casa do tio quando a mae adoece e fica em estado de coma em um hospital. Sem grande experiência na vida a garota sente-se entediada, até que conhece Jane (Summer Phoenix), garota barra-pesada, que sai do reformatório em busca do irmao, também delinqüente. É neste ambiente altamente recomendável que Gina começará a fazer seu aprendizado prático e teórico.

Iniciaçao - Bem, trata-se de um filme de iniciaçao, narrado pelo ponto de vista do universo teen. Ou seja, a diretora nao se coloca em um posto de observaçao "adulto", que veria a adolescência de cima para baixo. Tudo se restringe ao mundo teen e os maiores de idade sao colocados a distância.

Adolescência é isso: auto-isolamento no interior do grupo. Vem daí o relativo fracasso dos aconselhamentos psicológicos, das intermináveis conversas e acusaçoes familiares, etc. No fundo, cada um precisa descobrir seu caminho por si só, com tudo o que isso comporta de risco. Essa solidao em que se dá a formaçao do futuro adulto é o tema central de "Atraindo Gina".

Nao se pode dizer que o filme nao explore algumas implicaçoes do problema que trata. Gina faz parte de uma família careta e, por isso mesmo, fica fascinada pelo mundo de Jane, desestruturado, porém muito mais interessante que o seu. Atraçao pelo contrário, mas também pela aventura e pelas figuras românticas dos bad boys & girls, glamourizados à exaustao pelo próprio cinema. Mais um ponto pode ser contabilizado para o filme quando constata tudo isso sem nenhum recurso ao moralismo. Pelo contrário. Ao retratar a vida de adolescentes americanos típicos, "Atraindo Gina" parece francamente documental, mostrando sem analisar, tomando partido apenas na medida para expressar a simpatia da diretora para com sua personagem.

Estilo - Há um estilo de direçao "independente" - colado à realidade, à vida como ela é, muito mais que o cinema comercial de Hollywood. Neste, tudo é fantasia e espetáculo. Naquele, busca-se certo verismo, uma aproximaçao com o que seriam as condiçoes de existência "reais" da populaçao nos Estados Unidos. Menos uma ilha de sonho, como julgam alguns brasileiros, entre eles os que moram em Nova York, e mais um caldeirao de problemas para ninguém botar defeito.

Hannah Weyer, porém, vai além do documentarismo a seco, imprimindo ao seu trabalho um toque feminino dos mais interessantes. Por exemplo, numa das melhores cenas, procura insinuar, com sutileza, quanto de sexual existe na adoraçao de Gina por Jane. É um momento "autoral", na velha acepçao do termo.

Pena que, com tanto potencial, a diretora nunca ouse ser mais profunda. Roça os problemas sem de fato enfrentá-los. E, à parte um ou outro momento mais inspirado, acaba perdida na previsibilidade - da qual, aliás, o cinema independente deveria ser antídoto. Mas, como se trata de estréia, deve-se dar um crédito de confiança à diretora. Tem um potencial que se concretizaria se quisesse afinar o foco e trabalhar com mais ambiçao. Resta ver se é isso mesmo o que ela deseja e o público quer.




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