Esportes Titulo Dia de festa
São Caetano comemora
dez anos do título paulista

Em campanha histórica, Azulão eliminou
Santos e São Paulo para ser campeão estadual

Thiago Bassan
Do Diário do Grande ABC
18/04/2014 | 07:00
Compartilhar notícia
Arquivo/DGABC


Dez anos de uma história que o tempo não apagou. No dia 18 de abril de 2004, o São Caetano sagrou-se campeão paulista pela primeira vez em sua história ao vencer o Paulista de Jundiaí na decisão. As vitórias pelos placares de 3 a 1 e 2 a 0 colocaram o Azulão no patamar jamais atingido até hoje por outro clube do Grande ABC. E encheu de orgulho jogadores, dirigentes e torcedores, que ainda se emocionam quando falam da equipe.

Se atualmente o clube escapou de seu terceiro rebaixamento em menos de um ano e encontra-se nas Séries A-2 do Campeonato Paulista e C do Brasileiro, antigamente a história era muito diferente. Embora tenha sido apontado como um dos favoritos ao título (leia abaixo), o São Caetano, internamente, sabia das dificuldades que teria.

Afinal, a história do Campeonato Paulista sempre mostrou a enorme diferença que separa Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos dos demais concorrentes. Dificilmente algum time quebraria a hegemonia dos grandes da Capital, já que desde 1990 (com o Bragantino) as equipes consideradas fora deste eixo conquistaram o caneco (exceto 2002, quando o Ituano foi campeão, mas sem a presença das principais equipes do Estado).

A motivação pelos lados do Azulão era encontrada na base da equipe. Pelo fato de ter pela frente o Paulista e a Libertadores, a diretoria do clube não mediu esforços para trazer jogadores de peso, experientes e acostumados a decisões.

Anderson Lima, Euller e Gilberto desembarcaram no Anacleto Campanella dispostos a apagar a fama de vice do time, que já o perseguia desde o começo dos anos 2000, após perder as finais da Copa João Havelange para o Vasco (2000), o Campeonato Brasileiro para o Atlético-PR (2001) e a Copa Libertadores para o Olímpia (2002).

Um time unido, em que os interesses pessoais não passavam pelo grupo, como os próprios jogadores da época fazem questão de enfatizar. “Não poderíamos deixar passar aquele momento. Era a hora de entrar para a história”, recorda Anderson Lima, lateral-direito daquela equipe.

“Era grupo sem vaidade, no qual todos colocavam o São Caetano em primeiro lugar”, afirma o zagueiro Gustavo. O defensor, aliás, foi a maior prova da união daquela equipe, tanto que mesmo após perder lugar para o meia Fábio Santos, na reta final do torneio, não se viu desprestigiado.“Isso faz parte do futebol. Eu presenciei um grupo campeão, histórico. Ele (Muricy) colocou o Fábio Santos contra o Santos (empate por 3 a 3 na semifinal) e depois usou o esquema na final (contra o Paulista) Não fiquei chateado, de maneira alguma. O nosso grupo era legal, unido. E tinha um clima gostoso”, recorda o defensor.

Esse era o São Caetano de 2004, time forte, aguerrido e determinado a acabar de vez com o estigma de vice. Que o diga o ex-goleiro Silvio Luiz.

“Batemos na trave três vezes. Criou-se um medo. Nossa equipe era melhor, mas no futebol nem sempre dá a lógica. Então falávamos: ‘Desta vez não podemos deixar escapar, quatro vezes, não’. E não deixamos.”, relembra o ídolo e eterno dono da camisa um.


Mesmo apontado como favorito, time demorou a engrenar

Antes mesmo do início da competição, o São Caetano era apontado como um dos favoritos ao título paulista. A boa campanha na temporada de 2003, quando conseguiu a vaga para a Copa Libertadores da América após goleada sobre o Internacional-RS por 5 a 0 na última rodada do Campeonato Brasileiro, credenciava o time ao título do Estadual.

Com o apoio de forte patrocinador, a Consul, além da fornecedora de material esportivo Wilson, o clube via na temporada 2004 a chance de finalmente conquistar um título da expressão, já que a equipe estava adquirindo espaço nunca antes ocupado no cenário nacional.

“Naquela época, o São Caetano fez investimento forte e contratou um grupo de jogadores muito bom para conquistar algum título. A gente sabia que tinha condições de ser campeão, tanto na Libertadores como no Paulista. Começamos mal, mas nos recuperamos. Foi um momento marcante”, disse o ex-lateral-esquerdo Gilberto, titular do time naquela época.

Desempenho azulino teve nove vitórias e apenas um revés


Nove vitórias, cinco empates e apenas uma derrota. Essa foi a campanha do São Caetano no Paulista de 2004. A estreia aconteceu em 22 de janeiro. Triunfo animador sobre o Mogi Mirim por 3 a 2. Depois, porém, veio uma série de cinco jogos sem vencer. Os empates com Santos (1 a 1), Santo André (0 a 0), Guarani (1 a 1) e Oeste (2 a 2), além da derrota para o Marília por 1 a 0, custaram o cargo do técnico Tite.

Veio então Muricy Ramalho. E o treinador conseguiu as quatro vitórias seguidas que classificaram o time para a fase decisiva. Palmeiras (1 a 0), Ituano (3 a 2), Paulista (5 a 1), e União São João (1 a 0). Nas quartas de final, o time teria pela frente o São Paulo, única equipe invicta do torneio. E a surpreendente vitória por 2 a 0 em pleno Morumbi colocou o Azulão na semifinal.

O adversário seguinte era o Santos que, mesmo com Diego, Robinho e companhia. não foi páreo. No jogo de ida, na Vila Belmiro, empate por 3 a 3. Mas na volta, com direito a show de Marcinho, a goleada por 4 a 0 garantiu vaga na decisão. E desta vez, a soberania do Azulão foi marcante. As vitórias por 3 a 1 no primeiro jogo e 2 a 0 no segundo, ambos no Pacaembu, deram ao time o título inédito.


Heróis, Marcinho e Mineiro recordam gols na decisão
Jogadores marcaram tentos que deram a vitória por 2 a 0 no segundo jogo da final de 2004

O sonho de qualquer jogador de futebol passa por marcar gols em decisões de campeonatos. E os heróis do São Caetano na inédita conquista do Campeonato Paulista de 2004 não escondem a importância que esse fato trouxe para suas carreiras.

Na segunda e decisiva partida do Paulistão daquele ano, a situação do São Caetano aparentemente era tranquila. Afinal, o time havia vencido o primeiro duelo contra o Paulista por 3 a 1. E poderia perder por até um gol de diferença que seria campeão. Vitória por 2 a 0 do adversário levaria a decisão para os pênaltis.

Porém, a partida no Pacaembu começou tensa. O time de Jundiaí atacou desde o início, perdendo pelo menos três chances claras de abrir o placar. O fantasma de mais uma derrota em decisões parecia ressurgir. Mas aí apareceu o talento de Marcinho.

O camisa dez do Azulão recebeu de Fabrício Carvalho e bateu cruzado. A bola desviou em Danilo e entrou. “Fui feliz naquela jogada. Tentei acertar o canto, a bola desviou e entrou. Mas o mérito foi do grupo. E a experiência naquela partida foi fundamental”, relembra o jogador, que dez anos depois voltou a ser campeão paulista, domingo, agora pelo Ituano.

Com o título nas mãos, o São Caetano passou a tocar a bola, administrando o resultado. Mas faltava algo. Talvez o reconhecimento daquele que foi considerado por muitos como o cérebro da equipe histórica. E ele surgiu aos 43 minutos do segundo tempo. Marcinho tocou para Mineiro, o volante cortou o marcador e bateu no canto direito de Márcio.

“Foi um dos títulos mais importantes da minha carreira. Sempre guardo aquele lance com carinho na minha memória. Foi um contra-ataque, uma bola despretensiosa na qual tive a chance e consegui marcar gol histórico. Um presente, uma dádiva de Deus. Nunca vou esquecer desse dia”, diz Mineiro.

O jogador lembra também da pressão que existia no São Caetano por causa daquele título. “Na medida em que passávamos de fase, aparecia mais uma cobrança, um tabu para ser quebrado, aquela sina de o São Caetano não vencer nunca em finais. Isso pesou. Mas nós tínhamos a chance de entrar definitivamente para a história”, conclui Mineiro, dono da camisa oito.


Após três vice, título paulista foi o último do zagueiro Serginho


Apesar de ter sido o primeiro Estadual da história do São Caetano, o título paulista de 2004 foi o último do zagueiro Serginho com a camisa do clube. Desde 1999 defendendo o Azulão, o jogador morreu seis meses e dez dias após a conquista, vítima de parada cardiorrespiratória durante jogo contra o São Paulo, no Brasileiro daquele ano.

Titular absoluto na competição, Serginho era um dos símbolos da equipe que havia perdido a Copa João Havelange para o Vasco (2000), o Brasileiro para o Atlético-PR (2001) e a Copa Libertadores para o Olímpia (2002). Nem mesmo o fato de ter desperdiçado uma das cobranças de pênalti na decisão do torneio Sul-Americano diminuiu seu prestígio dentro do clube.

“Este título vai emplacar uma geração de jogadores que devem estar vibrando com a gente porque sabem o quanto sofremos”, declarou Serginho, logo após a decisão.


Planejamento foi fundamental, diz Nairo


Presidente do São Caetano desde sua fundação, Nairo Ferreira de Souza não esconde a emoção quando relembra o elenco vencedor de 2004. E ressalta quais os fatores que levaram o time a ter tanto sucesso naquela época.

“Uma equipe preparada e que já vinha buscando esse título. Time forte, com planejamento e que passou por adversários com São Paulo e Santos. A cidade se contagiou com aquilo, estádio lotado na decisão, mais de 30 mil pessoas festejando na (Avenida) Goiás, Tudo isso nos encheu de orgulho”, destaca Nairo.

O presidente do Azulão também revelou algo inédito até então. A troca de treinador que aconteceu após as seis primeiras rodadas, segundo Nairo, não ocorreu por causa de descontentamento com o trabalho do então técnico Tite, mas, sim, por uma proposta – até então desconhecida –, que o treinador havia recebido.

“O Tite tinha proposta interessante de outra equipe. Ele estava parado anteriormente no Sul e nós abrimos as portas do futebol paulista para ele. Ótimo profissional, fez bom trabalho. Mas achamos por bem liberá-lo”, conta Nairo.

Saudosista, Nairo recorda com carinho a partida que ficou cravada em sua memória naquela competição. “Não esqueço do jogo contra o São Paulo (vitória por 2 a 0). Era um time imbatível e foi dentro do Morumbi. Foi uma coisa anormal. Esse jogo foi marcante”, conclui.


Técnico campeão, Muricy destaca força de vontade dos atletas


O estilo carrancudo de Muricy Ramalho trouxe o primeiro título da história do São Caetano. O treinador assumiu o time após seis rodadas e conseguiu o improvável: quatro vitórias nos quatro jogos que restavam para a equipe, e a classificação para a fase decisiva do torneio, algo que, de acordo com o treinador, só foi possível porque o time confiou no próprio potencial.

“Era uma situação muito difícil, ninguém acreditava que nós poderíamos classificar. Mas os caras acreditaram. E quando um time acredita, as coisas acontecem. Fomos jogo a jogo conseguindo os resultados e chegamos à fase decisiva”, diz o treinador.

Muricy também destaca qual a principal lembrança que tem daquele título. “Foi uma conquista inédita no futebol paulista. O povo de São Caetano saiu nas ruas para receber a gente, foi uma loucura de tantos torcedores que estavam nas ruas”, relembra.


Luiz relembra festa de 30 mil que parou a Avenida Goiás


Dez anos se passaram e apenas um jogador esteve presente no grupo do São Caetano campeão paulista em 2004 e ainda permanece no elenco dos dias atuais. O goleiro Luiz, então terceiro suplente da equipe para o setor, presenciou de perto o time vitorioso. E até hoje lembra com carinho do período em que treinava ao lado dos ex-companheiros Silvio Luiz e Fabiano.

“Naquela época, o grupo era unido dentro e fora de campo. E quando as coisas acontecem assim, o título vem na sequência. Foi da mesma maneira que o Ituano fez neste ano. Não é demérito ver time pequeno chegar em final. Mas sim valorizar quem chegou. O São Caetano buscou isso na época. Até hoje lembro da Avenida Goiás totalmente lotada. Desde o (hipermercado) Extra até a (churrascaria) Vivano ninguém andava. É uma história que ficou marcada e ninguém vai apagar”, relembra Luiz, que também fala com carinho sobre os ex-companheiros de posição.

“Fui muito bem recebido aqui pelos dois. Eu era jovem, inexperiente e aprendi muita coisa com Silvio Luiz, que até hoje é ídolo no clube e com o Fabiano. Todos tiveram a sua importância naquele período”, ressaltou.


 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;