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Internet, fake news e mentira
Dom Pedro Cipollini
28/04/2022 | 08:32
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A mudança que se dá hoje nas comunicações implica mais que simples revolução técnica. É transformação completa do que é necessário para compreender o mundo que nos envolve, e para verificar e expressar a percepção do mesmo. Essas tecnologias podem constituir um modo de resolver os problemas humanos, de promover o desenvolvimento integral das pessoas e criar um mundo governado pela justiça, paz e amor.

A internet é o mais recente e o mais poderoso de uma série de instrumentos de comunicação que, para muitas pessoas ao longo do último século e meio, eliminaram o tempo e o espaço como obstáculos para a comunicação. Ela tem consequências enormes para o indivíduos, as nações e o mundo em geral.

Os novos meios de comunicação são instrumentos poderosos para o enriquecimento educativo e cultural, a atividade comercial e participação política, para o diálogo e a compreensão interculturais. Contudo, esta ‘moeda’ tem também o seu reverso. Os meios de comunicação, que devem ser utilizados para o bem das pessoas e das comunidades, podem ser usados também para explorar, manipular e corromper.

Atualmente, a internet está sendo usada de várias formas positivas, mas a sua utilização imprópria causa também grande prejuízo. As pessoas e a comunidade de indivíduos são centrais para uma avaliação ética da internet. E o princípio ético fundamental é este: a pessoa e a comunidade humana são finalidades e medida do uso dos meios de comunicação social. O bem comum seria outro pilar da ética, como princípio básico para a avaliação das comunicações sociais.

Pessoa, comunidade humana e bem comum são três parâmetros para se trabalhar a internet na esteira do processo de globalização. Somente quando estes três princípios éticos são observados, se difunde a solidariedade capaz de unir a humanidade num mundo sem exclusão. Jamais viveremos felizes e em paz uns sem os outros e, menos ainda, uns contra os outros.

A quantidade de informações presentes na internet – uma boa parte das quais não é avaliada em termos de exatidão e relevância – constitui um problema. São enormes as pressões ideológica e comercial sobre a internet. Por isso seu uso precisa ser ponderado e orientado por um compromisso decidido em prol da prática da solidariedade a serviço do bem comum e não a serviço de grupos de interesses, ideologias ou caprichos de aventureiros.

E aqui entra um dos maiores desafios no uso da internet: as fake news, informações mentirosas. A mentira na internet é uma bola de neve que, quanto mais rola, tanto mais aumenta. E como dizia Miguel de Cervantes, “a mentira é tanto melhor quanto mais verdadeira parece, e tanto mais agradável quanto mais possui de duvidoso e possível”. É necessária a existência de mecanismos que conferiram a credibilidade dos dados veiculados pela internet.

As fake news se inserem naquilo que se convencionou chamar de pós-verdade, um neologismo que descreve a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais ou ideológicas.

Há uma tentativa de conferir legitimidade à mentira com o conceito de ‘pós-verdade’. Ela resume-se na ideia de que ‘algo que aparente ser verdade é mais importante que a própria verdade’. É um modo de direcionar o debate para apelos emocionais, desconectando-se do enfoque da política pública e do bem comum, pela reiterada afirmação de pontos de discussão, nos quais os fatos são ignorados ou distorcidos. É fraude, falsidade ou mentira, encobertas com o termo politicamente correto de ‘pós-verdade’.

Podemos dizer que o espírito da ‘pós-verdade’ que promove as fake news é ‘anticomunicação’, por sua falta de ética, compromisso com a verdade da informação e, ainda, ausência de patriotismo, o qual é busca do bem comum da Nação, com base na verdade dos fatos.

Bíblia diz que o diabo é o pai da mentira (cf. Jo 8,14). E o famoso romancista francês Victor Hugo, fazendo eco à Palavra de Deus, assim escreveu: “Mentir é o absoluto do mal. Não é possível mentir pouco. Mentir é o próprio semblante do demônio. Satã tem dois nomes: chama-se Satã e chama-se mentira”.

Por isso afirma ainda a Bíblia que não se salvarão os que “amam a mentira e a praticam”(cf. Ap 22,16). É preciso restabelecer o poder da verdade. 




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