Setecidades Titulo Dia do Chevette
‘Do meu gosto, do jeito que eu queria’

No Dia do Chevette, hoje, mecânico de Santo André revela o carinho pelos 3 que guarda na garagem e que foram preparados por ele mesmo

Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
24/04/2022 | 00:01
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André Henriques/DGABC


Com o slogan ‘A GM não faria apenas mais um carrinho’ a montadora mostrava ao Brasil, há 49 anos, no dia 24 de abril de 1973, o Chevette, carro tão levado a sério por aqui que fora lançado primeiro no Brasil e, depois, após seis meses, na Europa. De lá para cá houve variadas atualizações visuais, com todas elas caindo no gosto dos aficionados pelo carrinho. Tanto que ainda é possível vê-lo circulando em grande número por todo canto, não somente na região. 

Para se ter ideia, segundo o Detran-SP, só no Estado de São Paulo há 195.235 Chevettes, 62.664 com registro na Capital. O Grande ABC não fica a dever e por essas bandas há 22.132 do modelo, com Santo André comportando maior número de fãs deles, 8.869, seguida por São Bernardo (5.626), Mauá (3.224), Diadema (1.945), São Caetano (1.676), Ribeirão o Pires (593) e Rio Grande da Serra (199).

Estima-se que até o fim da produção do modelo, em 1993, teria sido comercializado cerca de 1,6 milhão de unidades. Ápice das vendas teria sido entre o fim dos anos 1970 e meados da década de 1980. Em 1983 foi o carro mais comercializado do Brasil, pela primeira e única vez em sua história. E, depois de 20 anos, o último Chevette saiu das linhas de montagem no dia 12 de novembro de 1993, na unidade da montadora em São José dos Campos, Interior de São Paulo, já como modelo 1994. 

Um desses apaixonados pelo Chevette, daqueles que têm ciúme até do filho com o carro, capaz de passar horas, dias mexendo nos ‘possantes’, é José Carlos Tortela, 57 anos, mecânico do Parque das Nações, em Santo André. Tem três, um vermelho, ano 74; um amarelo, 76; e um verde, 85, todos a etanol. 

Dispensa o outro veículo da família, Corsa 1998, para viajar com os Chevettes, nem que for só para dar “umas voltinhas na Anchieta”. Basta abrir a porta que Laika, a cachorra do local, entra e também quer passear. “Dar uma aceleradinha, com qualquer um dos três. Vou com um, volto, pego o outro, vou, volto. Pego o outro. Só passeando. Na estrada você fica fascinado. A turminha com esses carros novos, Fusion, IX35, não acompanha. É brincadeira!”, diz, com semblante de quem andou a “200 km/h” em um passeio aleatório com o que tem motor turbo.

Está com o vermelho há 25 anos, no qual pagou, na época, R$ 1.300. “Sou o terceiro dono dele. Como o antigo dono se casou, quis vender. Comprei.” O amarelo era de um alemão, segundo Tortela, que, doente, a família “encostou o carro na garagem”. Ao morrer e diante da oferta, ficou com esse também, desta vez por R$ 150. “Quando comprei, tive de jogar toda a (parte) mecânica fora e trocar por tudo novo. Consegui tudo original em relação à lataria. E fui montando devagar. Até que ficou pronto. E já vai fazer 15 anos que estou com ele”, diverte-se.

Por último o verde, turbo, motor de Santana, quatro cilindros, diferencial de Opala, tudo mexido por Tortela, e que teve a compra mais inusitada. “Peguei na troca com o motor e o câmbio que eram do vermelho, que tinha câmbio alemão, e fiz o motor, 1.700, coloquei piston do Monza, bloco 1.6, daí ele (vermelho) ficou 1.700 cilindradas. Um cliente meu ficou louco, porque era vermelho, bonitinho, e falou que queria fazer rolo com um Chevette do sogro, 85, que estava parado (verde). Fizemos a troca.”

A mecânica dos carros ele mesmo fez, “do meu gosto, do jeito que eu queria”. Questionado se tem ciúme, vende, empresta ou se já recebeu ofertas absurdas pelos carros, Tortela ri. “Já quiseram trocar por um (Citroën) C3. Falei: ‘Não, pelo amor de Deus. Não quero uma coisa dessa, não (risos). Até então nenhuma oferta o encantou. O preço ele joga lá em cima, justamente para não vender nenhum deles. “Para falar a verdade, qualquer um dos três para vender a R$ 40 mil tem de pensar bem.”

E o ciúme José Carlos Tortela até nega, mas o filho, Wendel, 36, parceiro na mecânica da família, confirma. “Ele é muito ciumento com os carros dele. Então, evito de pegar, vai que acontece alguma coisa. É muito ciumento!”

No salão do estabelecimento ainda tem um Corcel I, ano 1977, marrom, e uma Caravan, 1982, vermelha, para restaurar. Tortela acha pouco e quer também o Corcel II do pai, que, diz, “nunca usou o estepe. O carro está zerinho, espetacular”. Mas ele não tem pressa para a aquisição. Lamenta o momento “complicado” ainda resquício da pandemia e a queda do poder aquisitivo, porque, diz, para ter um carro desse e restaurar tem de investir muito. “Mas vontade não falta”, encerra Tortela. 




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