Setecidades Titulo Infraestrutura
Casas estão longe
de rampas de acesso

Cerca de 84% das residências do Grande ABC não têm
acessibilidade no entorno, segundo a pesquisa do IBGE

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
26/05/2012 | 07:00
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Em média, 84% das residências do Grande ABC não têm rampa de acesso para cadeirantes em seu entorno. Isso significa que a maioria dos 2,5 milhões de moradores instalados em área urbana e com ordenamento regular moram em locais sem acessibilidade. Tendo em vista que a região concentra 49,8 mil pessoas com deficiência motora (com grande ou total dificuldade de locomoção), os dados escancaram a exclusão, segundo especialistas. Os números foram divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e integram o Censo 2010.

Os dados foram obtidos durante etapa de pré-coleta do Censo em 96,9% dos domicílios urbanos do País. Entre as sete cidades, Mauá é a que concentra mais residências longe de rampas de acessibilidade - 97,7% -, enquanto São Caetano detém o menor índice: 69%. Os números da região estão abaixo dos observados no Estado de São Paulo - 93,8% - e no Brasil - 94,5%.

A acessibilidade é um tema discutido há pouco tempo e os dados deixam claro o fato de não vivermos em País inclusivo, avalia a coordenadora do curso de Ciências Sociais da Universidade Metodista, Luci Praun. "Os índices evidenciam algo que já sabíamos. Uma região rica como o Grande ABC ainda segrega pessoas", diz.

As rampas que auxiliam cadeirantes, idosos e pessoas com mobilidade reduzida só existem nos centros das cidades, comenta o presidente da Acide (Associação pela Cidadania das Pessoas com Deficiências), Carlos Alberto dos Santos. "Claro que a rampa ajuda, mas se a calçada tem desnível não resolve o problema", comenta.

O ideal, segundo a especialista em Planejamento Urbano e Regional da UFABC (Universidade Federal do ABC) Silvia Passarelli, é pensar na acessibilidade no momento da construção de imóveis. Para os já concluídos, os proprietários devem adequar as calçadas irregulares. "Nossa cultura de priorizar o carro e não pensar no próximo, somada à falta de fiscalização dos órgãos públicos, resulta nesses problemas".

O artista plástico José Carlos Bueno, 51 anos, é cadeirante há duas décadas e destaca a dificuldade para sair de casa. "Além de não haver rampas de acesso às calçadas em todas as faixas de pedestres, as irregularidades no passeio público nos obriga a andar no meio fio, com risco de ser atropelado."

Para Bueno, os cadeirantes e cidadãos com mobilidade reduzida têm o direito de ir e vir limitado. "Não queremos privilégios e sim equiparação de oportunidades", ressalta.

Faltam bueiros perto de 379 mil moradias 

Outro dado destacado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na pesquisa, cujo objetivo é conhecer a infraestrutura urbana do Brasil, é a baixa quantidade de bueiros próximos das casas. No Grande ABC, 47,7% das residências não têm esse instrumento indispensável para a drenagem urbana - 379,2 mil domicílios, ou seja, 1,2 milhão de pessoas.

A cidade da região com maior número de residências situadas em locais sem bocas de lobo é Rio Grande da Serra, onde 62,6% do total das casas - 8.269 - estão nessa situação. O município é seguido por São Caetano, cuja qantidade de casas longe de bueiros é de 62,8%. Já o melhor índice é registrado em São Bernardo, que tem 44% dos domicílios incluídos neste critério - 86,7 mil casas. No Estado, 54,5% das moradias ficam longe dos bueiros e, no Brasil, 59,8%.

A especialista em planejamento urbano e regional da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) Silvia Passarelli explica que a falta de bueiros é problema sério, já que o item responde pela captação da água das chuvas, que não pode mais ser absorvida pela terra devido à impermeabilização do solo na zona urbana. "Somado ao transbordamento da água dos rios quando chove, a falta de bueiros ajuda a aumentar o número de alagamentos."

Normalmente, as bocas de lobo fazem parte de projeto de drenagem, implantado na época do loteamento dos terrenos. Somente a partir da década de 1970, de acordo com Silvia, a instalação de redes de drenagem passou a ser exigência legal. Antes disso, o crescimento desordenado de alguns municípios colaborou para a inexistência de bocas de lobo em diversos pontos. "Além de parte das ruas com baixa quantidade de bueiros ter ocupação antiga, alguns loteamentos foram mal implantados", observa.

Outro ponto abordado pela especialista é a falta de manutenção desses espaços por parte das prefeituras. "De nada adianta haver bueiro se ele está cheio de lixo."




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