Setecidades Titulo Seja um coelhinho
Sonho do ovo de Páscoa depende de solidariedade

Projeto pede ajuda para compra de 506 unidades do doce; crianças terão festa para comemorar

Por Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
01/03/2020 | 07:00
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André Henriques/DGABC


 Faltando pouco mais de um mês para a comemoração da Páscoa – que neste ano será celebrada no dia 12 de abril –, não é difícil adivinhar que os pequenos esperam ansiosos por um coelho que vai lhes dar ovos de chocolate. Embora a fantasia pareça comum, a realidade de algumas crianças, como Isabelly Freitas da Silva, 3 anos, e Pedro Henrique Coutinho, 6, é distante do que dizem ser “sonho”.

Moradores do Morro da Kibon, em Santo André, ambos nunca ganharam o doce. Para realizar o desejo dos dois e de dezenas de crianças, o projeto Deixa Viver, encabeçado pela presidente da Associação União e Luta dos Moradores do Centreville, Marilda Brandão, 45, pede ajuda para compra de 506 ovos, que serão distribuídos em uma festa marcada para o dia 11 de abril, das 13h às 16h, na Travessa Olímpio Mourão, no Centreville, no município.

Na denominada Páscoa Solidária serão contempladas crianças de 1 a 10 anos, cadastradas no atendimento do projeto. Segundo a ativista, que já realizou 27 festas de Natal no mesmo molde, os pequenos acima da idade determinada só poderão ganhar os ovos de Páscoa se a doação for maior. “Em todas as festas recebemos mais de 1.000 pessoas. Tudo que oferecemos, como brinquedos infláveis, shows de música ao vivo, comes e bebes, são doados por pessoas ou estabelecimentos que se sensibilizam com a causa”, explicou Marilda.

Para confecção ou compra de 506 ovos de 250 gramas, o orçamento fechou em aproximadamente R$ 6.000. “Não temos esse valor e também não conseguimos arrecadar o montante. Para fazer uma festa completa, com um coelho entregando ovos de chocolate aos pequenos cadastrados, precisamos de ajuda”, ressalta a ativista.

As 506 crianças cadastradas no projeto Deixa Viver são moradoras do Centreville e comunidades do entorno, como o Morro da Kibon, Sítio São Jorge, Núcleo Espírito Santo, Vila América, Homero Thon e Jardim Represa. Com moradias e situações financeiras precárias, muitos não sabem o que é comemorar a data.

Pedro Henrique disse que, para ele, ganhar um ovo de chocolate dado pelo “coelhinho” seria um “sonho.” “Já vi (o coelho da Páscoa), mas nunca ganhei um ovo, e amo chocolate”, contou o pequeno. Em poucas palavras, Isabelly mostra não ter dúvidas. “O coelho vai me trazer um ovo”, disse, esperançosa.

Assim como eles, diversas crianças contam com a festa solidária para garantia do doce. Eyshila Paloma Santos Rodrigues, 10, e Juana Carlos Coutinho, 10, lembram de ter ganhado o item em três vezes, todas em festas solidárias.

Mãe de Eyshila, Heliane Ramalho da Silva, 20, explica que os eventos feitos pelo projeto são importantes para que as crianças possam ter momentos de felicidade. “A Eyshila e meu caçula (Heitor Bernardo, 1) não terão outra festa de Páscoa se não for a da comunidade”, contou.

Aos interessados em ajudar, Marilda pede que procurem a Associação União e Luta dos Moradores do Centreville ou entrem em contato pelo número (11) 98505-9077.

‘Ele não pode perder essa magia’
Com um sorriso largo no rosto, Gabriel Santos Silva, 8 anos, não poupou palavras para contar à equipe do Diário sua crença fiel no Coelhinho da Páscoa, Papai Noel, Fada do Dente, e tantos outros personagens que alimentam a magia infantil. Morador do Morro da Kibon, em Santo André, o garoto, que pouco se lembra de um dia ter ganhado um ovo de chocolate, garantiu que o “coelho existe” e que não desistiria dele. “Nunca participei de uma festa de Páscoa. Na minha casa não comemoramos a data. Estou muito ansioso pela festa solidária”, disse, animado, ao contar que participará do evento organizado pelo projeto Deixa Viver.

Mãe de Gabriel, Ivoneide Felix da Silva, 50, contou à equipe de reportagem que sofre em não poder presentear o filho em todas as datas, sobretudo na Páscoa, quando até mesmo uma barra de chocolate pesa no orçamento. “Eu e meu marido estamos desempregados. Mesmo que o Gabriel entenda por que não vai ganhar o doce, ele não pode perder essa magia”, disse emocionada.

Embora ainda não saiba, Gabriel é adotado. Mãe biológica de outros quatro filhos, entre 24 e 33 anos, ela garante que adotar era o sonho de sua vida, e que não se sentia completa antes da chegada do garoto. Segundo Ivoneide, o acordo de adoção foi feito durante a gestação da mãe biológica de Gabriel, que bateu em sua porta para pedir dinheiro. “A mulher chegou aqui barriguda, com uma garrafa de cachaça em uma mão e um cigarro na outra. Disse a ela que, grávida, não poderia viver daquela forma. E ela me perguntou: ‘Você quer isso daqui (apontando para a barriga)?’ Coloquei a mão nela e disse: ‘A mamãe chegou’. E senti que ele estava sendo enviado para minha vida”, lembrou.

Para não ter problemas na Justiça, Ivoneide foi atrás da papelada para cuidar do menino de forma legal. “Estou me preparando para dizer a verdade a ele”, garante. “O Gabriel é tudo para mim, e por isso me dói nessas datas especiais ter de falar o que posso ou não dar ao meu filho. Quero que ele tenha tudo que eu não tive quando criança”, comentou Ivoneide.




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