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Indicada para tratar o autismo, equoterapia é rara no SUS

Apenas três cidades oferecem atividades com o cavalo, Santo André, São Bernardo e Mauá

Flávia Fernandes
especial para o Diário
08/04/2019 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


A pequena Yasmin Cordeiro, 7 anos, iniciou, há dois meses, sessões de equoterapia, indicadas pela neuropediatra como tratamento para desenvolvimentos psicológico, físico e motor, já que tem grau leve de autismo. “Ela quase não fala e, de dois meses para cá, tem repetido mais frases. Na questão da socialização também estou vendo vantagens. Ela já está conseguindo ficar mais perto de outras crianças”, destaca a mãe, a autônoma Maria Cordeiro, 41, moradora de São Bernardo.

As atividades com o cavalo – duram de 30 a 40 minutos, e são feitas em circuito com auxilio de itens como bambolês, arcos e outros instrumentos de aprendizado – são alternativa para tratar transtornos diversos, inclusive o autismo, cujo dia mundial de conscientização foi celebrado no dia 2. Entretanto, são raras as opções de equoterapia no SUS (Sistema Único de Saúde) – apenas três das sete cidades contam com o serviço –, o que impõe fila de espera ou limita o acesso ao benefício àqueles que podem pagar, como é caso de Yasmin.

Santo André oferece 25 vagas para tratamento semanal por um ano – as unidades de saúde são responsáveis pela eleição e encaminhamento dos casos. A cidade destacou que não há previsão de ampliação, tendo em vista que não há fila de espera. O gasto anual é de R$ 90 mil.

São Bernardo é a única que possui centro municipal de equoterapia – na Avenida Walace Simonsen, 1.750, Nova Petrópolis. A unidade atende 110 pacientes por semana e não há fila de espera para o atendimento, conforme a administração. O paciente é encaminhado da UBS (Unidade Básica de Saúde). O contrato anual com a empresa responsável pela manutenção do espaço é de aproximadamente R$ 290 mil.

Mauá informou oferecer o tratamento em parceria com a instituição Cidade dos Meninos. Neste caso, são beneficiadas 80 crianças da rede municipal de ensino. Outras 46 aguardam, em lista de espera, pela oportunidade. Cada paciente permanece no programa por até um ano. O investimento anual da administração é de R$ 570,3 mil. Diadema e Ribeirão Pires destacaram que não oferecem o serviço e as demais cidades não responderam até o fechamento desta edição.

A equoterapia é indicada para qualquer pessoa que possua algum tipo de dificuldade motora, comportamental ou física e tenha recomendação médica para o tratamento. Em média, a atividade custa em torno de R$ 600 a R$ 700 por mês – é preciso ter certificado pela Ande Brasil (Associação Nacional de Equoterapia). Algumas clínicas, como a Arte Psico, de São Bernardo, oferecem o serviço por R$ 300 a R$ 400 e, em alguns casos, dependendo da condição socioeconômica do paciente, a atividade é realizada por valores simbólicos ou de forma gratuita. As sessões são feitas no Rancho Camanche, no Riacho Grande, e contam com equipe multidisciplinar, com fisioterapeuta, psicóloga, psicopedagoga e equitador.

Com auxílio do cavalo, é possível trabalhar desde a aprendizagem pedagógica até relações interpessoais e o comportamento com os pacientes. “O ‘não’ para eles (autistas) é bem difícil. Com o cavalo, por ser grande e impor respeito, é possível trabalhar essa questão das regras”, explica a psicopedagoga e especialista em autismo e equoterapia Thainara Morales. No caso da alfabetização, é montado varal com letras e, conforme a criança passa com o cavalo, vai formando sílabas e palavras.

Fisioterapeuta e especialista em equoterapia, Ângela Batagin explica que a interação com o animal também estimula a interação social. “O trabalho não é só em cima do cavalo, é no chão, é puxando e levando ele para comer. Trabalhamos a sensibilidade com a respiração do animal e, além da parte emocional, a coordenação motora e a atenção”, complementa a fisioterapeuta.

A dona de casa Alexandra dos Santos, 37, também moradora de São Bernardo, é mãe do Luan Dellanegra, 15, e considera que, com a ajuda da equoterapia, é possível fazer a inclusão do filho. “Optei por fazer a inclusão dele no esporte, na dança, na música e com os animais, pois nestes locais sei que a inclusão está sendo feita sem preconceito, o que infelizmente ainda é um problema nas escolas.” 




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