Economia Titulo
Responsabilidade social se incorpora à rotina de empresas
Por Anderson Amaral
Do Diário do Grande ABC
17/01/2004 | 19:12
Compartilhar notícia


As ações de responsabilidade social deixaram o campo da filantropia e do marketing e, aos poucos, transformam-se em requisitos in- dispensáveis na trama de relacionamentos da cadeia produtiva. É cada vez maior o número de corporações que, com base em solicitações de clientes e fornecedores, adotam o gerenciamento com foco no respeito aos direitos humanos e na preservação ambiental, sem o qual correm o risco de perder contratos.

A preocupação com o assunto já havia sido detectada na pesquisa Responsabilidade Social – Panorama e Perspectivas da Indústria Paulista, divulgada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) no fim do ano passado. Segundo o levantamento, que considerou dados – obtidos em agosto e setembro de 2003 – de 543 empresas paulistas, 34,5% das grandes corporações (com 500 funcionários ou mais) declararam ter recebido solicitação de clientes para adotar compromissos de responsabilidade social, e 17,2% disseram que foram pressionadas pelos fornecedores.

A pesquisa também detectou as exigências mais efetuadas às indústrias pelos clientes: cumprimento da legislação ambiental (24,1% das grandes empresas), cumprimento das legislações trabalhista e fiscal (20,7%), não-utilização de trabalho infantil (20,7%), não-utilização de práticas de concorrência desleal (17,2%) e não-utilização de práticas de discriminação no trabalho (6,9%).

Diante dessa nova realidade, cresce o número de empresas que, além de atestar a qualidade de seus produtos ou serviços com a certificação ISO 9000, também promovem auditorias em sua conduta social, por meio das normas ISO 14001, que atestam a produção sem agressão ao meio ambiente; OHSAS 18001, que certifica o desempenho da empresa na gestão da segurança e saúde no trabalho; e SA 8000, que verifica as relações trabalhistas.

A SA 8000 é a caçula dessa verdadeira sopa de letrinhas. Desenvolvida em 1997 pela SAI (Social Accountability International), organização não-governamental com sede nos Estados Unidos, a SA 8000 baseia-se nas convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho), na convenção das Nações Unidas sobre os direitos da criança e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Foi estruturada nos moldes da série ISO 9000, embora não tenha sua liturgia.

A SA 8000 não é oficial, mas essa condição não impede que sua adoção seja cada vez mais freqüente no país. De acordo com dados do QSP – Centro da Qualidade, Segurança e Produtividade para Brasil e América Latina, organização não-governamental que presta consultoria às empresas na melhoria de seus sistemas de gestão, há pelo menos 310 empresas, de 38 países, certificadas com a SA 8000. No país, estimativas apontam algo entre 20 e 30 corporações.

Francesco De Cicco, diretor executivo do QSP, afirma que o principal benefício da SA 8000 é estabelecer parâmetros que realmente comprovem, pelo menos no ambiente interno, que a empresa é socialmente responsável. “De nada adianta realizar ações filantrópicas se, nas suas entranhas, a corporação sequer cumpre o que determina a CLT”, afirma De Cicco.

Paulo Itacarambi, diretor executivo do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, entidade especializada no Terceiro Setor, diz que o gerenciamento socialmente responsável vai se efetivar à medida que se consolidar como uma peça no jogo de mercado. “O meio empresarial finalmente descobriu que está diante de uma situação social e ambiental desfavorável. Por isso, felizmente, algumas empresas exigem mais do que a simples capacitação técnica”, afirma.

Itacarambi vê com bons olhos a certificação SA 8000, embora acredite que, como toda norma, “esteja mais focada na mudança dos processos do que na mudança da consciência”. “A sociedade exige uma nova ética das empresas. Só vai ter legitimidade nesse cenário quem adotá-la”, diz.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;