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Indústria de veículos reduz atividade na Argentina
Do Diário do Grande ABC
28/03/1999 | 14:55
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Parte da indústria automotiva instalada na Argentina tende a mudar-se para o Brasil, pois a produçao de carros e de componentes ficou cara no país vizinho com o desequilíbrio cambial. E se desde a criaçao do Mercosul, há oito anos, fábricas de peças e de automóveis foram estimuladas a ter linhas nos dois países para equilibrar a balança, hoje a atividade na Argentina passou a ser "um mico".

A indústria de autopeças já eliminou 10 mil dos 35 mil postos de trabalho, algumas montadoras, como Fiat, já transferiram parte das linhas para o Brasil e outras podem até fechar fábricas em Córdoba.

"Quando o Brasil pega um resfriado, a Argentina fica com pneumonia", resume o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), Paulo Butori. Este ano a indústria de autopeças brasileira deverá vender 50% menos para o país vizinho, o que representa queda de faturamento com essas exportaçoes de US$ 1,1 bilhao para quase US$ 500 milhoes.

Isso vai acontecer porque as montadoras vao diminuir a produçao na Argentina e concentrá-la no Brasil. "A montadora desloca a sua compra para onde é mais barato", diz Butori. A queda só nao será ainda maior para os fabricantes de componentes instalados no Brasil porque algumas montadoras vao começar a comprar do Brasil peças que compravam na própria Argentina para montar veículos naquele país.

É o caso da Sprinter, o utilitário da Mercedes-Benz. Segundo o diretor de compras da montadora, Manfred Straub, a empresa vai começar a comprar mais componentes do Brasil. Sprinter e uma série de outros modelos feitos na Argentina tem o Brasil como principal mercado. É o caso da Hilux, da Toyota, e da Silverado, da General Motors.

A GM tem uma fábrica em Córdoba que produz a Silverado. Setenta por cento da produçao vem para o Brasil. O diretor de assuntos corporativos e de exportaçao da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto, nao confirma a possibilidade de a empresa desistir da fabricaçao da Silverado em Córdoba. Mas admite que ficou caro produzir o modelo lá. A General Motors também tem uma fábrica de Corsa em Rosário. Nesse caso, com a fabricaçao do mesmo modelo nos dois países, é possível concentrar a produçao para o mercado local.

O problema ficou maior para quem tinha a linha de determinado produto apenas no país vizinho. É por isso que a Fiat já deslocou para o Brasil parte da produçao do seu modelo médio Siena. Quem perdeu com isso foi a Delphi, que construiu uma fábrica na Argentina pensando no contrato de fornecimento de pára-choques para a Fiat. Com o deslocamento, parte do contrato foi cancelado, pois a Delphi nao fabrica pára-choques no Brasil.

"Só podemos vender no Brasil um carro feito na Argentina se a produçao lá for barata", destaca o presidente da Delphi, Volker Barth. Ele vê poucas chances de a indústria automotiva sobreviver se nada for feito para acertar uma situaçao chamada de "artificial".

Butori, do Sindipeças, sugere ao governo argentino adaptar sua moeda à brasileira. "Seria mais coerente." A Volkswagen fabrica o Polo Classic em Córdoba, mas até agora nao pensa em mudar os planos. A Filtros Mann, que tem uma fábrica na Argentina, também perderá, segundo o gerente de marketing, Markus Wolf.

A General Motors estimulou entre 40 e 50 fornecedores a se deslocarem para a Argentina e agora eles foram surpreendidos pela perda de competitividade.

O presidente da Associaçao dos Fabricantes de Autopeças da Argentina (Afac), Horácio Oroño, reivindica compensaçoes para a preservaçao do Mercosul, porque o problema é de desequilíbrio cambial. Segundo ele, a atividade do setor caiu 50% em relaçao a setembro. Desde entao, 10 mil empregos foram cortados.




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